Economia

Fiocruz e empresários mineiros discutem perspectivas de vacina contra a Covid-19

Fiocruz e empresários mineiros discutem perspectivas de vacina contra a Covid-19
Crédito: Erin Clark/Pool via REUTERS

A convite da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o corpo científico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) participou, no dia 21 de dezembro, de reunião com as lideranças mineiras do setor produtivo. O objetivo foi discutir o avanço da Covid-19 e as perspectivas reais de uma vacina.

“A ideia é que o setor produtivo entenda como está sendo realizada a produção da vacina e como será a distribuição e o público prioritário”, afirmou o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, ao abrir a reunião. O líder empresarial destacou que a Fiocruz é uma das mais importantes instituições de ciência e tecnologia da América Latina. “É importante que se compartilhe este conhecimento”, ressaltou.

O empresário destacou que Minas Gerais está em curva ascendente e que todos, não apenas o setor produtivo, estão preocupados. “A única solução, a longo prazo, é a vacina”, afirmou. Segundo Roscoe, a Fiemg, encabeçando o setor industrial, vem fazendo um trabalho junto com a empresa Covaxx, uma unidade da United Biomedical, empresa internacional com unidades nos EUA, China e Taiwan, no desenvolvimento da vacina UB-612.

A UB-612 terá estudos clínicos no Brasil, conduzidos pelo laboratório Diagnósticos da América (Dasa). “Já foram investidos R$15 milhões, mobilizados pela Federação, e já estão reservados 50 milhões de doses para o Brasil, que serão distribuídas de acordo com o Ministério da Saúde”, esclareceu.

Segundo Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz Nacional, tradicionalmente, todo o processo de desenvolvimento e aprovação de uma vacina levaria 10 anos. Entretanto, devido a situação nova e das duras consequências, o processo está sendo feito em tempo recorde, mas sem perder o rigor científico e o controle de qualidade.

“Nossos principais desafios foram lidar com as lacunas de conhecimento de uma nova doença, a aceleração da fase de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e estudos clínicos, a possibilidade de alternativas seguras para o registro em caso de emergência e o escalonamento e antecipação de produção”, afirmou o vice-presidente da Fiocruz.

Krieger explicou que a entidade vem acompanhando o desenvolvimento de várias vacinas, algumas que já estavam em teste clínico, após 150 dias de liberação do DNA do novo coronavírus. A opção da Fiocruz foi pela vacina desenvolvida pela desenvolvida pela Universidade de Oxford e produzida ela biofarmacêutica AstraZeneca.

“Celebrado em agosto, o acordo assegura a transferência total da tecnologia”, explica, pontuando a escolha da AstraZeneca foi pautada na qualidade, tecnologia, capacidade produtiva e vantagens logísticas. Segundo ele, no segundo semestre de 2021 serão entregues 110 milhões de doses, mas que não é possível precisar ainda qual será o tempo desta imunização e que, em um primeiro momento, crianças e adolescentes não serão priorizados”.

A diretora da Fiocruz Minas Gerais, Zélia Profeta, pontuou a importância do diálogo com o setor privado, para potencializar a inovação no país. “Durante esta crise, percebemos quais as nossas dificuldades e dependências de insumos. Precisamos fortalecer esse setor e a iniciativa privada precisa fazer parte disso”, disse contando que a Fiocruz está presente em 10 estados do país e que trabalham no formato de rede. O estado de Minas Gerais é o que mais tem instituições de tecnologia fora da capital e que atuam nas mais diversas áreas”.

O chefe de gabinete da Presidência da Fiocruz Nacional, Vacler Rangel, endossou as palavras de Profeta: “Essa articulação entre os setores públicos e privado é importante para ampliar e fortalecer os laços entre as instituições”. Segundo Rangel, a reunião, que teve o intuito de esclarecer dúvidas do setor industrial, é essencial para combater fakes news, principalmente as que propagam soluções milagrosas e rápidas. “Mesmo com a disponibilização da vacina, os protocolos de segurança, como o uso de máscaras e higiene das mãos, permanecerão”, afirmou. “As contrainformações se espalham de maneira muito rápida e a vacinação não será um alvará de soltura”.

Durante a apresentação do painel “Combate à Covid-19: desafios e possibilidades”, o pesquisador em políticas públicas da Fiocruz MG, Rômulo Paes, afirmou que estamos passando por um momento grave da pandemia no mundo, com crescimentos consideráveis, mas, devido as especificidades de cada região, o comportamento do vírus é distinto. “A divisão de primeira e segunda onda se aplica na Europa, na Ásia e Oriente Médio, onde tiveram até três picos”, disse, lembrando que, entre a população norte-americana acima de 80 anos, a Covid-19 foi a segunda causa de mortes em 2020 e que em outras partes do mundo se pode observar o mesmo.

Segundo Paes, ainda existem muitas incertezas sobre o assunto, como por que algumas pessoas adoecem e outras não, os efeitos a longo prazo da doença e se após a pandemia o vírus continuará circulando, dentre outras. O pesquisador apresentou as principais características da pandemia no Brasil e em Minas.

No plano nacional, destacou pontos como a sincronização das curvas epidêmicas após a fase de expansão e interiorização, a dinâmica ascendente da doença, de maneira uniforme em vários locais ao mesmo tempo, e a possibilidade, de nos próximos meses, ocorrer a busca simultânea de assistência especializada, tanto nas capitais, quanto no interior, podendo causar o colapso do sistema de saúde. “Passamos por momentos de articulação de unidades de UTIs, para depois ocorrer a desarticulação. A tendência agora é que essa mobilização seja necessária novamente, devido a pressão por causa de leitos”.

Para o pesquisador, em se tratando de Minas Gerais, Belo Horizonte conseguiu fazer uma gestão mais habilidosa, controlando o espalhamento da doença. Ele ainda pontuou que o estado tem alguns desafios vindouros, como melhorar a vigilância à saúde, reduzir a dependência tecnológica, melhorar a governança interinstitucional e as plataformas para treinamentos de profissionais no enfrentamento de emergência sanitárias.

A advogada Trabalhista Empresarial e presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Fiemg, Erika Morreale, finalizou o encontro fazendo dois pedidos à Diretoria Científica da Fiocruz. “Mantenham o diálogo aberto conosco, já que o está sendo atualizado de acordo com a sua evolução. O outro, é que a Fundação participe de todos os estudos, de todas as discussões, para que sejam adotados critérios para que a lista de prioridades possa reduzir, efetivamente, a transmissibilidade da doença”, solicitou, salientando que isso é muito importante para as atividades econômicas não sejam afetadas ainda mais.

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