Fuad conta com a população para reaquecer economia de BH

Economista formado pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub), pós-graduado em Programação Econômica e Execução Orçamentária, Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), pai, avô e escritor. Este é Fuad Jorge Noman Filho, até o mês passado, vice-prefeito de Belo Horizonte e que com a saída de Alexandre Kalil (PSD) rumo à pré-candidatura ao governo de Minas Gerais, assumiu o posto de líder do Executivo Municipal da Capital.
Com experiência acumulada na vida pública, com passagens pela administração federal, estadual e na Capital desde 2017, quando assumiu a Secretaria Municipal de Fazenda, Fuad Noman tem 74 anos e é belo-horizontino. Homem dos números, começou no serviço público no Banco Central do Brasil, como funcionário de carreira, depois, trabalhou no Tesouro Nacional e foi secretário-executivo da Casa Civil no mandato de Fernando Henrique Cardoso. Hoje vislumbra preparar Belo Horizonte para bem receber não apenas seus netos, mas todos os jovens e crianças que vivem na capital mineira.
Ao completar 30 dias como prefeito da quinta maior metrópole brasileira, admite que problemas e desafios não faltam, mas assegura que disponibilidade, dedicação e vontade de resolver também não. Reconhece que o prazo de dois anos é relativamente pequeno para concluir planos e projetos, mas promete entregá-los adiantados a quem assumir a cadeira em 2025. E não descarta que seja ele próprio. Entretanto, quer deixar para pensar em reeleição lá na frente. Enquanto isso, já trabalha em prol da cidade, estreitando relações com os governos federal e estadual e também com o legislativo da cidade.
Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, Fuad Noman também falou sobre as expectativas acerca da privatização e expansão do metrô, do aumento da passagem de ônibus, da necessidade de revitalização do hipercentro da Capital, da retomada econômica passado o período mais crítico da pandemia, entre outros assuntos. Disse que quer permitir que Belo Horizonte volte a ser uma cidade feliz e que parcerias público-privadas (PPP) estão sendo estudadas para concessões de parques, cemitérios, para o zoológico e campos de várzea.
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“Quero chegar daqui a dois anos com a sensação de que fiz o que podia ser feito e deixei as coisas bem encaminhadas para os próximos prefeitos”.
O senhor assumiu a prefeitura há um mês. Quais os principais desafios para os próximos anos? É possível fazer alguma avaliação dos 30 primeiros dias?
É uma missão difícil, árdua, mas estamos preparados e fazendo todo o trabalho necessário. Viemos enfrentando desde o início alguns problemas, como a greve dos professores e depois a situação dos ônibus, mas eram situações pontuais. Há outros desafios ainda mais importantes, pois a pandemia ainda não acabou; precisamos continuar vacinando a população; temos o problema das crianças que ficaram dois anos fora da escola e agora precisam ser reinseridas; na saúde ficamos dois anos sem fazer as chamadas cirurgias eletivas; e outro grande desafio é fazer Belo Horizonte voltar a ser uma cidade feliz, alegre, aquela cidade do comércio, dos serviços, movimentada. Tivemos as atividades suspensas por muito tempo e agora temos que trazer as pessoas de volta para as ruas. Precisamos recuperar a atividade econômica e ainda temos sérios problemas com a chuva, muito embora já tenhamos tido sucesso no primeiro grande empreendimento que é o Vilarinho. Com menos de 15% das obras prontas já não tivemos uma grande enchente na região e isso é resultado do trabalho que vem sendo feito. Ainda temos muita obra para fazer e estamos trabalhando para executá-las. Temos problemas com mobilidade urbana, trânsito e moradores de rua. Problemas não faltam. Mas disponibilidade, dedicação e vontade de resolver também não. Juntos estamos construindo e reconstruindo Belo Horizonte e vamos fazer o que for preciso para que a cidade volte a ser feliz. Quero que a gente acorde no domingo e tenha algo para fazer. Vamos fazer festa na rua, passear, plantar flores, melhorar a cidade e dar mais alegria para o povo.
Definiria seu trabalho como uma gestão de continuidade ao que foi feito por Alexandre Kalil?
Eu estava no antigo governo desde o primeiro momento, ajudei a fazer o plano de governo, a fazer o planejamento, a implementar uma série de obras e se eu negar o passado estou negando a mim mesmo. Temos que continuar. Nosso plano de governo é o mesmo, assim como o planejamento de trabalho. Não há motivo para fazer mudanças, embora todo planejamento pressuponha ajustes no decorrer da implementação, em função de variáveis. Mas não vejo nenhuma grande ruptura, praticamente mantive toda equipe e temos muita coisa para mostrar e fazer.
Como Capital, Belo Horizonte precisa se relacionar com o Estado e a Federação para a institucionalização de políticas públicas, além da busca de recursos. Como é o relacionamento do senhor com os atuais líderes e como está se preparando para uma eventual troca de comando nos Palácios do Planalto e Tiradentes?
Todo prefeito precisa, de fato, das autoridades federais e estaduais. Nenhuma cidade do Brasil consegue por si só fazer obras importantes. O metrô de Belo Horizonte, o Rodoanel, nada disso a Prefeitura consegue fazer se não tiver esses apoios. O governador Romeu Zema (Novo) teve a delicadeza de cumprimentar e de me convidar para tomar um café. Eu fui e levei uma lista de pedidos, como maior agilidade na liberação da verba para o Córrego do Ferrugem, para resolver a questão do Isidoro. Com relação ao presidente da República e o governo federal, nosso relacionamento é um pouco mais distante, porque não cabe a um prefeito bater na porta do presidente sem ser chamado. Nós temos relações com representantes dos ministérios, mas não temos nenhum contato com Jair Bolsonaro. Não sei se ele vem mesmo em junho para tratar do metrô, mas se vier, vou achar bom, porque já temos os R$ 2,8 bilhões para as obras e se ele quiser repassar o dinheiro, nós começaremos a fazer amanhã. Se precisar eu mesmo pego uma picareta e vou para a rua furar. Porque é uma obra muito importante para Belo Horizonte e que a Prefeitura jamais teria condição de assumir. Se ele quiser vir eu ainda vou pedir mais coisas, pois preciso de dinheiro para fazer casa popular e operações na área da saúde.
O senhor citou o metrô. Acha que agora a privatização e a expansão saem do papel? Pode impactar na melhoria do serviço de ônibus da cidade?
A gente está cansado de ouvir promessas que não são cumpridas. Eu não tenho nenhum motivo para não acreditar, já que o dinheiro está no Orçamento. Mas a gente sempre tem uma preocupação, porque já tiveram outras situações em outros governos que não aconteceram. E se o presidente Bolsonaro tiver mesmo disposto a fazer isso, aí eu acredito que nós teremos condições de fazer, porque é muito dinheiro. Um projeto de R$ 3 bilhões a prefeitura jamais conseguiria fazer de seu próprio orçamento. O metrô é um meio de transporte importante. Há cidades no mundo inteiro em que o modal é fundamental para o deslocamento. E eu até acho que ele pode vir a ser protagonista do sistema de transporte da Capital, mas ainda vai demorar muito tempo. Porque o investimento para fazer a estrutura que a cidade precisa soma outros bilhões. Vai demorar muito e enquanto isso vamos levando com os ônibus. Mas temos que melhorar as condições, as ruas e os veículos.
E a relação com a Câmara Municipal está melhor?
Excelente. Me reuni com a presidente Nely Aquino (Podemos) para conversar sobre a situação e vejo nela uma parceira que quer ajudar a encontrar soluções para Belo Horizonte. Também tenho tido conversas com os vereadores sem nenhuma dificuldade. Nossa relação tem que ser absolutamente republicana. Os interesses da cidade é que estão em jogo. E tenho certeza que a Câmara quer o bem da cidade como nós queremos. Estamos trabalhando juntos, sem problemas e está ótimo. Vai melhorar, mas já tá bom.
O que falta para melhorar?
Ah, falta muita coisa. A gente não pode ficar reclamando das posições da Câmara. Ela tem que ter uma posição e temos que respeitar a oposição. Porque a oposição, inclusive, nos ajuda a acertar. É normal, é natural. Agora eu diria que a relação hoje é muito mais tranquila. Vai dar certo.
Não é de hoje que se fala sobre a necessidade de uma revitalização do centro da cidade. Os comerciantes reclamam da deterioração do espaço público e do aumento da população em situação de rua. O que é possível fazer em dois anos?
O morador de rua é, de fato, um problema mundial. Todos têm isso e Belo Horizonte não é diferente. Mas aqui o problema é nosso. Precisamos ter uma responsabilidade muito grande com essas pessoas que são seres humanos, cidadãos e precisam ter sua dignidade respeitada. Estamos fechando uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para fazer um mapeamento para entendermos quantos são e por que eles estão na rua. Porque são vários motivos e para que possamos traçar uma política específica para cada um. Não podemos generalizar as soluções porque os problemas não são iguais. Precisamos entender melhor e isso leva um pouco de tempo. E enquanto isso, a gente ainda precisa respeitar o espaço dessas pessoas. Jamais vamos acabar com a população de rua, mas precisa diminuir muito.
Isso passa também pela revitalização do espaço urbano?
É um outro trabalho. A revitalização passa por uma série de ações. Nós precisamos de melhorar as praças, a limpeza das ruas, temos que plantar flores na cidade, criar novas áreas para as pessoas, melhorar a limpeza urbana e fazer uma campanha com os proprietários de lojas no centro para evitar pichações. Ainda têm muitos prédios que precisam de um trabalho de retrofit para serem explorados. Enfim, o trabalho é muito grande nessa área, mas não podemos esperar, temos que fazer. O governo de Belo Horizonte não termina com o meu mandato. Como as obras do Vilarinho que estão sendo feitas e vamos passar para o próximo prefeito, esperamos que os planejamentos sejam todos iniciados, a política de trabalho definida e se os próximos governos entenderem por bem, darem sequência. Não vou conseguir resolver tudo em dois anos.
Por falar em comerciantes, algo foi ou está sendo estruturado para ajudá-los na recuperação quanto aos impactos da pandemia? O pacote de medidas anunciado no início de 2021 vai ser estendido diante do cenário de alta da inflação e taxas de juros elevadas?
O fechamento prejudicou muito o comércio, os vendedores de rua e os serviços. A prefeitura fez o que foi possível para amenizar com uma série de medidas do Reativa BH, só que agora temos que adotar novas atividades. Incentivar as pessoas a trabalhar, os pequenos comerciantes, fazer com que as pessoas retornem às suas atividades. Para isso, temos que criar demanda. Por isso, agora é tão importante sair, porque isso é gerar mais demanda para os vendedores. Agora a Prefeitura tem que tentar trazer as pessoas para a rua para que o comércio possa retomar sua demanda. Já temos notado, principalmente a partir de março, uma recuperação em diversos segmentos, mas ainda é uma coisa pequena. E a gente está desenvolvendo alguns projetos para a melhoria desse relacionamento. Como o programa BH Mais Feliz, que vamos lançar muito em breve, envolvendo turismo, cultura, esporte e lazer. Vamos criar nas praças movimentos, shows, teatro e atividades esportivas para que as pessoas tenham onde ir e o que fazer.
Esse programa propõe algo para o turismo de negócios que sempre foi o carro-chefe da cidade?
O turismo de negócios em Belo Horizonte carece de espaços. Mas o fato de estarmos liberando os eventos e abrindo os espaços para as pessoas frequentarem já traz uma expectativa para o setor.
Existe um plano para estimular a economia da cidade? Como favorecer o ambiente de negócios e inovação?
Saiu recentemente o Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) e Belo Horizonte apareceu na quinta posição. A prefeitura quer estimular o máximo possível a abertura de negócios, de entidades, de empresas, estamos estimulando muito os Microempreendedores Individuais e temos alguns empreendimentos importantes que precisam ser retomados. Demos um passo muito grande para trás com a pandemia e agora temos que correr para recuperar.
Como ficou a arrecadação em 2021 e qual a expectativa para 2022?
Nossa arrecadação do ano passado sofreu um pouco porque o governo federal não passou mais recursos extraordinários como fez em 2020. Mesmo assim, a prefeitura vem, desde o início do governo Kalil, e eu era o secretário da Fazenda, fazendo o dever de casa, pagando tudo que devia e formando um superávit para enfrentar as dificuldades. Tínhamos planos para 2020 de fazer uma série de atividades, mas com a pandemia tivemos que mudar o foco. De toda maneira, fechamos o ano passado com superávit e vamos usar esses recursos para executar alguns projetos de mobilidade urbana, como o corredor da Amazonas, os viadutos da Linha Verde, algumas obras de revitalização e um grande trabalho de recuperação de encostas – porque chuva a gente combate é na seca. A arrecadação somou R$ 14.233 bilhões no ano passado, 11,67% sobre os R$ 12,736 bilhões de 2020.
Como está a questão do possível aumento de passagem após decisão judicial? O projeto que poderia reduzir as passagens parou na Câmara? Serão feitos ajustes?
Estamos recorrendo e com um projeto na Câmara em relação ao subsídio que, se for aprovado, a passagem não sobe e pode até cair. Enquanto isso, há a decisão do juiz para cumprir. Pedimos a suspensão para ganharmos tempo de negociar, mas se não houver, seremos obrigados a efetuar o aumento. Tão logo a Câmara avalie e aprove esse projeto, cai o aumento. Estamos diante de uma situação muito delicada, pois há uma decisão da Justiça e uma solução que não depende da Prefeitura. Já quanto ao projeto que foi apresentado pela Câmara, o grupo de trabalho sugeriu alterações interessantes, por isso suspendemos a tramitação. Agora temos que fazer um acordo envolvendo o legislativo, as empresas de ônibus e o Ministério Público para o cumprimento de metas. Feito isso, a gente tem como reenviar o projeto e o legislativo aprovaria rapidamente. Mas do outro lado, o juiz não espera, por isso temos que tentar mostrar para ele essa possibilidade. E tentar fazer um acordo para não ter aumento. Estamos tentando encontrar uma alternativa com esse subsídio e substituir o aumento da passagem. Porém, isso depende da Câmara. Ontem venceu o prazo e recorremos. Agora queremos mais tempo para apresentar o acordo. Entre a PBH e Câmara já está bem alinhado; agora precisamos ir ao Ministério Público com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) e fechar. Acho que tem grandes chances de ocorrer. A expectativa é de selarmos o acordo na próxima quinta-feira.
Muitas prefeituras têm anunciado obras com os recursos do acordo com a Vale. O que há de previsão para Belo Horizonte? Há obras de infraestrutura para sair?
A barragem do Ferrugem para minimizar o efeito da água na Teresa Cristina é nossa prioridade. E foi um dos assuntos que levei para o governador. Com relação ao restante, Belo Horizonte recebeu R$ 19 por habitante. Esse dinheiro está sendo aplicado em diversas frentes sem estar carimbado, porque R$ 150 milhões não cobre os projetos por completo.
A PBH fez altos investimentos em novas unidades de saúde por meio de parcerias público-privadas (PPP). Há projetos para ampliação em outras áreas?
Com a PPP fizemos o Hospital do Barreiro, que hoje é uma realidade, contratamos 50 postos de saúde, dos quais 34 já estão prontos. E, na realidade, a parte de estrutura é posto de saúde, hospital e UPA, que estão todos avançando ou prontos. Por isso, não tem nenhum outro grande investimento que caiba uma PPP na área da saúde, mas em outras áreas com certeza. Estamos estudando concessões de alguns parques, cemitérios, zoológico, campos de várzea.
Qual o futuro político de Fuad Nomam? Pretende se candidatar à reeleição em 2024?
Estou há um mês no cargo e não quero pensar nisso agora. Quero chegar daqui a dois anos com a sensação de que fiz o que podia ser feito para Belo Horizonte e deixei as coisas bem encaminhadas para os próximos. Na época, se eu tiver interesse, irei avaliar se posso ou não posso seguir. Sinceramente, eu não fiz isso agora porque passei minha minha vida inteira ensinando meus filhos e eles aos meus netos, a importância de serem bons cidadãos e agora eu tenho que trabalhar para a cidade bem receber esses meninos. Meu sonho é fazer pela cidade para que ela receba os jovens e as crianças com segurança, atividades, ritmo econômico e trabalho.
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