Fundições cortam produção com impactos do ‘tarifaço’ e juros altos

Problemas externos e internos têm afetado significativamente o setor de fundição. Conforme o presidente do Sindicato da Indústria de Fundição no Estado de Minas Gerais (Sifumg), Bráulio Campos, várias empresas estão cortando horas extras e retirando turnos de trabalho. Os motivos são os impactos diretos e indiretos do ‘tarifaço’ dos Estados Unidos (EUA) sobre produtos brasileiros e os efeitos do elevado patamar da taxa de juros no País.
Campos afirma que na Fundimig, por exemplo, empresa que produz peças de fundidos em Cláudio e em Carmo da Mata, no Centro-Oeste mineiro, na qual atua como diretor-presidente, não há mais funcionários fazendo hora extra – algo costumeiro na atividade – e o turno da noite foi suspenso – com colaboradores entrando em férias coletivas. De acordo com ele, o mesmo vem acontecendo em outras companhias que atuam na área.
Segundo o executivo, até o momento, as fundições, incluindo a dele, não efetuaram demissões. Ele diz que o setor dispõe de uma mão de obra treinada, que demanda custo e tempo, e, por isso, a maioria das companhias não efetua desligamentos em massa em qualquer crise para ter que readmitir depois. O líder sindical ressalta que as empresas vão segurar os empregados o máximo na esperança de uma reviravolta até o final do ano.
O presidente do Sifumg está pessimista. Conforme ele, não há previsão de melhora nos próximos meses. Campos salienta que conversa bastante com clientes e que o mercado está “muito parado”. Como diretor-executivo da Fundimig, ele enfatiza que há previsão de parar toda a empresa, por 30 dias, em dezembro, com “férias coletivas total”.
Desafios e incertezas
Os produtos do setor de fundição não foram incluídos na lista de exceções do tarifaço dos EUA sobre o Brasil. De acordo com Campos, apenas “um ou dois” itens não precisam pagar a sobretaxa de 50%, porém, são peças que atendem à área de saneamento, no qual o País não consegue concorrer com outros países exportadores, como a China e a Índia.
Conforme o presidente do Sifumg, as fundições são altamente dependentes das vendas para os Estados Unidos e estão perdendo mercado com a medida tarifária. Ele afirma que não tem como enviar os produtos para outros destinos, como a Alemanha e a Itália, pois teriam que produzir itens mais sofisticados e ainda, sim, teriam bastante concorrência.
Atualmente, segundo ele, as exportações do setor em Minas Gerais giram em torno de 15% a 25%, no entanto, esse número sobe para 30% a 40% se levar em conta os embarques indiretos. Campos explica que as empresas de fundição são fornecedoras da indústria de máquinas e equipamentos, que também foram afetadas diretamente pelo tarifaço.
“Nós vendemos para indústrias nacionais que produzem empilhadeiras, máquinas agrícolas e carregadeiras, por exemplo. Elas exportam para os Estados Unidos e não estão exportando mais. Consequentemente, também não vão comprar peças das fundições”, pondera.
“O governo botou dinheiro para amenizar os problemas das indústrias que não estão exportando, mas quem vai pegar dinheiro (com a Selic) a 15% ao ano? As empresas podem pegar para quebrar um galho, pagar 13º (salário) antecipado, mas para investir? A empresa que pegar isso está fadada a quebrar mais rápido”, afirma.
De acordo com Campos, com a taxa de juros em patamar elevado “não tem mercado que consiga reagir”. Ainda conforme ele, o setor de fundição não tem perspectivas sobre como será 2026. Ele ressalta, entretanto, que as empresas estão enfrentando os impactos de maneira gradativa e que, possivelmente, haverá reflexos no próximo ano.
Empresários vão até os EUA conversar com clientes
Quatro empresários do setor de fundição, em iniciativa independente do sindicato, viajaram, nesta semana, para os Estados Unidos, para conversar com clientes norte-americanos sobre o tarifaço, segundo o presidente do Sifumg. Campos esclarece que o objetivo da viagem é “sentir” o que a sobretaxa vai representar para os negócios.
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