Economia

Geração distribuída de energia solar desacelera em Minas Gerais

No primeiro trimestre, a adição de capacidade nesta modalidade registrou queda 8,5% na comparação com o mesmo intervalo de 2024, segundo a Aneel
Geração distribuída de energia solar desacelera em Minas Gerais
Minas Gerais ocupa o segundo lugar em potência instalada de energia solar na modalidade GD do País | Crédito: Max Rossi / Reuters

A saturação da infraestrutura do sistema de transmissão e distribuição e a valorização das terras devido a alta demanda, principalmente no Norte de Minas Gerais, estão desacelerando a geração distribuída (GD) de energia solar em Minas Gerais, ou seja, aquela energia gerada pelos próprios consumidores perto do local de consumo, por meio de painéis em telhados e pequenos terrenos. No primeiro trimestre, a adição de capacidade nesta modalidade recuou 8,5% na comparação com o mesmo intervalo do ano passado, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Segundo a Aneel, no primeiro trimestre de 2025, os consumidores que aderiram ao uso do sistema foram responsáveis pela instalação de 210,13 megawatts de potência, passando a gerar créditos para cerca de 20 mil imóveis. No mesmo período do ano passado, a potência instalada no primeiro trimestre de 2024 alcançou 229,9 megawatts, em cerca de 20,2 mil novos imóveis no período.

Quando observado apenas o mês de março, em 2024, foram 4.682 usinas instaladas, aumentando 86,3 megawatts no sistema. Enquanto, em 2025, foram 4.274 usinas fotovoltaicas instaladas em Minas agregando à rede 51,8 megawatts.

Minas Gerais ocupa o segundo lugar em potência instalada de energia solar na modalidade GD do País, com a marca de 4,6 gigawatts (GW).

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Para especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio, os motivos dessa desaceleração observada é a saturação da infraestrutura do sistema de transmissão e distribuição de energia no Estado e o encarecimento das terras no Norte de Minas, provocado pela alta demanda. 

“Minas cresceu muito por volta de 2019 e 2020 no setor de energia solar porque temos uma insolação muito forte e as terras eram baratas no Norte do Estado. Com a demanda, crescemos e as subestações da Cemig já estão saturadas. As terras também valorizaram em função do aumento da procura. Agora, o que estamos vendo é uma expansão maior da energia solar para São Paulo, que tem um sistema mais robusto, pela natureza e força econômica do estado, e para a região Centro-Oeste do Brasil”, afirma o consultor de mercado de energia da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Pataca.

O coordenador estadual da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica em Minas Gerais (ABSolar), Bruno Catta Preta, comenta que a infraestrutura da rede de transmissão do Estado não está sendo capaz de suprir a demanda de novas instalações. “Isso está limitando o crescimento da energia solar em Minas Gerais”, constata Catta Preta.

Segundo ele, o Estado tem potencial para avançar, mas está sendo prejudicado pela infraestrutura. Segundo ele, Minas Gerais possui mais de 10 milhões de unidades consumidoras conectadas à Cemig; dessas, apenas 8,9% utilizam energia solar fotovoltaica. “Então, é um número animador para o mercado que confirma que nosso Estado tem um campo gigante para crescer. Porém, a falta de infraestrutura não permite que a gente avance na velocidade que estávamos avançando antes. Isso realmente tem dificultado, principalmente, instalações de grande porte”, analisa.

Na visão de Catta Preta, obras estruturantes contribuíram para solucionar o problema, entretanto elas caminham a ritmo lento. “A Cemig sabe o que precisa fazer, tem divulgado a informação que está fazendo subestações para melhorar a capacidade, mas elas estão lentas”, analisa.

Procurada pela reportagem, a Cemig em nota, alegou que somente em distribuição investiu, no ano passado, R$ 4,4 bilhões, o maior valor da história aplicado no segmento. Entre os principais marcos destacam-se a construção de mais de mil quilômetros de linhas de alta tensão, 9 mil quilômetros de redes de média tensão e a entrega de 31 subestações em todas as regiões do Estado.

A nota ainda informa que em para este ano, a Cemig Distribuição anunciou um investimento recorde de R$ 5,2 bilhões, voltado para a ampliação, modernização e fortalecimento da confiabilidade da rede em todo o estado de Minas Gerais.

Entre as principais entregas, estão previstas a construção de 679 km de novas linhas de distribuição de alta tensão e 29 novos empreendimentos em subestações, que irão aumentar de forma significativa a capacidade e a robustez do sistema elétrico que atende 774 municípios em Minas Gerais.

Além disso, a Cemig ainda informou que está implantando o sistema ADMS (Advanced Distribution Management System), que proporciona controle avançado e em tempo real da rede de distribuição. O ADMS é, de acordo com a distribuidora, essencial para operar um sistema elétrico com alta penetração de energias intermitentes, como a solar, em Minas Gerais.

São Paulo foi o estado que mais se destacou no trimestre

São Paulo foi o estado que se destacou no trimestre, tanto em número de sistemas instalados quanto em potência: 31.632 usinas começaram a operar, totalizando 275,28 MW. 

Goiás foi o segundo estado em expansão de potência em MMGD entre janeiro e março, com 223,46 MW, seguido de Minas Gerais, com 210,1 MW. Em quantidade de instalações, Minas ficou em segundo lugar, com 16.793 novas usinas, seguida pelo Mato Grosso, com 14.970 instalações.

De acordo com Sérgio Pataca, da Fiemg, o destaque para São Paulo é atribuído à infraestrutura robusta que o estado possui. “A infraestrutura de São Paulo viabiliza a expansão. Já Goiás e Mato Grosso, apesar da infraestrutura ser menos desenvolvida do que as dos estados do Sudeste, possuem terras mais baratas e uma insolação forte também”.

Potência de geração distribuída no Brasil é de 38,4 GW 

Segundo a Aneel, o Brasil contava, até 31 de março, com 3,4 milhões de sistemas conectados à rede de distribuição de energia elétrica, reunindo potência instalada próxima de 38,5 gigawatts (GW). 

Os consumidores residenciais respondem por aproximadamente 80% das usinas em operação (2,7 milhões), o comércio representa 10% das usinas (340,83 mil), e a classe rural responde por 8,61% das usinas em operação (292,71 mil).

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