Economia

Governo federal busca ascensão econômica na região do lítio

Vale do Lítio terá plano multissetorial e específico para a região para o desenvolvimento regional e a geração renda para a população.
Governo federal busca ascensão econômica na região do lítio
Canadense Sigma já atua na região com o chamado lítio verde | Crédito: Mara Bianchetti

O mundo possui, atualmente, grandes potências de produção do lítio. Três delas, na América do Sul: Chile, Bolívia e Argentina. Por meio da região do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, o Brasil também se configura agora como uma potencial fonte de extração deste valioso mineral. E é por isso que o Ministério de Minas Energia (MME) está elaborando um plano multissetorial e específico para a região, de forma a aproveitar as oportunidades do mineral na transição energética para o desenvolvimento regional, a diversificação das atividades econômicas e a geração de emprego e renda para a população.

“A mineração pode ter o potencial de transformar a vida daquela comunidade. É uma região carente, e agora pode ter o lítio como grande vocação”, disse o secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Vitor Saback. 

Saback afirma que a grande prioridade do MME quando o assunto é mineração do lítio “é mudar a realidade das pessoas que estão ao redor dela”. O secretário avalia o momento como uma grande oportunidade da região desenvolver-se socialmente e melhorar as condições econômicas. “É uma região em que as pessoas há 20 anos pensavam no Bolsa Família e, agora, têm esta grande oportunidade pela frente”, aposta.

Legado

De acordo com o secretário, pensar o legado que o ciclo do lítio trará para as cidades é o foco principal do Ministério de Minas e Energia. “A gente não está pensando só o ciclo em si. Estamos pensando o conceito social da mineração e querendo, realmente, que essa riqueza torne parte da vida dessas comunidades”, disse. 

Ele explica que o projeto principal do MME para a região é que ao final do ciclo, ela possa contar com um alto desenvolvimento econômico e tecnológico capaz, inclusive, de novas vocações. “Por isso, é importante fomentar as pesquisas de aplicação, a formação acadêmica especializada e os centros tecnológicos”, diz.

A experiência da transformação na cidade de Salta, na Argentina, virou uma referência após o secretário participar de um congresso sobre a economia do lítio no país vizinho. “Era uma região pobre, muito parecida com o Norte de Minas e foi transformada pelo ciclo do lítio. A população aumentou, as pessoas foram capacitadas e, hoje, vivem uma diversidade econômica importante com profissionais capacitados e empreendedores. É este modelo que queremos adotar”, revela.

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Atração de investidores

Para que toda esta transformação ocorra na região, Saback conta que o governo está trabalhando para atrair investidores internacionais e desburocratizar os procedimentos. “Estamos desenhando uma forma de atração de investimentos com possíveis criações de zonas de processamento de exportação e debêntures incentivadas para que o financiamento tenha um custo menor”, diz. 

Sigma embarcou para China primeira carga de lítio verde | Crédito: Divulgação/Sigma

De acordo com informações do MME, há, hoje, em 22 municípios no Vale do Jequitinhonha, 377 processos minerários. Em Araçaí, há um pedido em relatório final de pesquisa, e nos municípios de Itinga e Salinas, existem quatro solicitações em fase de requerimento de lavra. Outros seis estão em estágio de concessão. 

Ele explica ainda que também trabalham no sentido de desburocratizar os processos. “Hoje tem muito Direito Mineral em fase de pesquisa, tem relatórios pendentes de aprovação, muito Direito Mineral para outras substâncias, como a rocha ornamental e que precisam ser aditados. E isso está demorando muito na Agência Nacional de Mineração”, revela. Na tentativa de solucionar esta questão, ele informa que o Ministério está trabalhando em um grande projeto para reduzir prazos e permitir a exploração mais rápida e com segurança.

Além do beneficiamento

Atualmente, operam na região do Jequitinhonha e Mucuri duas empresas no beneficiamento do lítio: a canadense Sigma Lithium, que atende o mercado das baterias, e a Companhia Brasileira de Lítio (CBL), que atende o setor de graxas, outro segmento possível do uso do mineral. Os esforços do governo federal  estão concentrados em atrair empresas de exploração mineral, mas os projetos vão além.

Para que o Brasil não fique apenas beneficiando o mineral e passe a exportar produtos com maior valor agregado, ele explica que há estudos de como atrair empresas de transformação. “O ciclo da produção das baterias é feito em três etapas. Nós ainda estamos atuando apenas no beneficiamento que é a primeira. E precisamos reforçá-la. Mas, a bateria de lítio tem diversos minerais, o lítio é só 3% dela. Queremos trazer essas outras empresas e operarmos o ciclo completo também”, projeta.

O secretário explica que a segunda etapa é um processo químico, e que está sendo feito um monitoramento de interesses para formatar uma forma de atrair empresas das demais etapas do ciclo de produção. “Estamos em contato com empresas americanas e chinesas para discutir como é possível trazer esta industrialização e esta tecnologia para nosso País”, disse. 

Lítio brasileiro se diferencia pelo alto grau de pureza

O que diferencia o lítio brasileiro do restante do mundo são suas características únicas, conferindo vantagens competitivas significativas. Diferentemente de outros países, a qualidade do lítio encontrado em Minas Gerais é de alta pureza. Essa característica faz com que o componente seja altamente desejável, uma vez que otimiza investimentos e facilita a fabricação de baterias de maior potência.

Os números do lítio em Minas, fornecidos pelo MME, mostram a ascensão notável do mineral no Estado. De 1° de janeiro até 25 de julho de 2023, a extração em Minas Gerais de lítio atingiu o valor de R$ 1,44 bilhões. Essa marca já praticamente se equipara a todo o ano de 2022, quando foi alcançado R$ 1,45 bilhões. A título de comparação, o comércio do mineral alcançou R$ 271 milhões no ano de 2021. Registrando, um aumento significativo de 435% entre 2021 e 2022.

Entre os minerais extraídos em Minas Gerais, o lítio passou do 11° lugar em faturamento para terceiro colocado, de 2021 a 2023. Os primeiros colocados são os minérios de ferro e de ouro. O Brasil é o 7° maior detentor de reservas de lítio no mundo, com 1,23 milhão de toneladas e atualmente é o 5° maior produtor mundial do minério.

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