Economia

Governo federal contesta impactos de bets no varejo

Também há questionamentos sobre as conclusões do Banco Central quanto aos gastos de famílias com as apostas
Governo federal contesta impactos de bets no varejo
Foto: Joedson Alves / Agência Brasil

Brasília – O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do governo Lula (PT) rebate, em nota técnica, informações de que os gastos com apostas esportivas on-line, as bets, provocaram queda no varejo e aumentaram o endividamento da população. A Pasta também questiona conclusões do Banco Central sobre gastos de famílias com as apostas.

O documento foi elaborado pelo ministério do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU). A solicitação ocorreu por causa de ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que pede suspensão da lei de bets.

O setor está em fase de regulamentação pelo governo Lula, tocada pela equipe do ministro Fernando Haddad (Fazenda). A ação foi iniciada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A entidade diz que a expansão das apostas no Brasil tem desencadeado o endividamento das famílias e prejudicado a economia doméstica, o comércio varejista e o desenvolvimento social.

Já no documento do Ministério, o argumento é de que os dados de comércio no País não permitem identificar uma desaceleração do setor. A nota técnica traz dados sobre o desempenho do setor.

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“Os dados disponibilizados pelo IBGE indicam que o comércio no Brasil está em crescimento, com as vendas apresentando as seguintes variações: em julho, as vendas cresceram 0,6% em relação a junho. No primeiro semestre, o comércio varejista acumulou alta de 5,3%. Nos últimos 12 meses até julho, o comércio varejista acumulou alta de 3,7%”.

Questionada pela reportagem, a CNC reiterou informações divulgadas em setembro, com “revisão para baixo da projeção de crescimento do setor varejista em 2024”, que passaria de 2,2% para 2,1%. “A mudança reflete o impacto negativo causado pelo aumento descontrolado das apostas on-line”, diz.

A reportagem também procurou a AGU e Fazenda, mas não obteve respostas.

Na nota técnica, o Desenvolvimento também afirma que “é ainda mais complexo atribuir qualquer variação nos resultados do setor aos gastos em apostas e jogos de azar”, questionando, inclusive, dados apresentados pelo Banco Central em nota enviada ao senador Omar Aziz (PSD-AM).

A nota da instituição causou forte repercussão dentro do governo, no setor varejista e no Congresso. O documento concluiu que somente em agosto os beneficiários do Bolsa Família teriam transferido R$ 3 bilhões às bets em pagamentos via Pix. Ao longo deste ano, os valores mensais de transferência bruta para bets variaram entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões.

O Ministério questiona essas conclusões, indicando dificuldades com o cadastro correto de atividades econômicas dos sites. “Tais valores representam valores brutos das apostas, sem considerar os prêmios pagos aos apostadores, o que resultaria em menor gasto líquido em apostas”.

Procurado, o Banco Central não quis comentar.

Questionado, o Ministério do Desenvolvimento afirma que a nota não questiona informações do Banco Central, mas “afirma apenas que, com os dados oficiais disponíveis, não é possível avaliar tecnicamente o impacto das apostas”.

Reportagem distribuída pela Folhapress

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