Governo promete liberação esta semana

Brasília – O presidente Jair Bolsonaro confirmou ontem, na Argentina, que o governo vai anunciar esta semana a liberação de recursos de contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para os trabalhadores e procurou mostrar otimismo sobre a recuperação da economia brasileira.
“Está previsto para esta semana isso aí”, disse Bolsonaro a jornalistas sobre a liberação de recursos do fundo.
“É uma injeção, uma pequena injeção na economia, né? E é bem-vindo isso aí porque começa a economia, segundo especialistas, aí, a dar sinal de recuperação pelos sinais positivos, em especial, também, que estão vindo do Parlamento”, acrescentou, em uma referência a recentes indicadores e à aprovação, em primeiro turno, da reforma da Previdência pela Câmara dos Deputados.
Segundo fonte ouvida pela Reuters, a equipe econômica enviaria ontem dois projetos para Bolsonaro bater o martelo sobre o tema. Um deles contempla a liberação de contas ativas e inativas do FGTS, com saques escalonados na data de aniversário dos trabalhadores.
O outro projeto envolve apenas as contas inativas, ligadas a vínculos empregatícios já encerrados.
No primeiro caso, as estimativas da equipe econômica apontavam uma liberação mais próxima de R$ 30 bilhões com os saques, em contraposição ao patamar de R$ 42 bilhões apontado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
A cifra mais modesta se deve, de acordo com a fonte, a cálculos que foram atualizados para não colocar em risco o funding da habitação. O FGTS responde por quase metade dos recursos direcionados para a compra de moradia via crédito imobiliário.
Uma segunda fonte com conhecimento do assunto disse à Reuters que a operacionalização dos saques ainda não tinha sido formalmente discutida pelo governo.
Oficialmente, o Ministério da Economia se limitou a dizer que, por enquanto, “não há previsão de anúncio oficial de medidas” sobre o assunto.
Preocupação – Em 2017, o governo do ex-presidente Michel Temer abriu uma janela para que as contas do FGTS fossem liberadas, mas apenas as inativas. Com isso, foram sacados R$ 44 bilhões, em uma investida considerada fundamental para aquecer a economia naquele ano.
Em nota ontem, o vice-presidente de Habitação Popular do Sinduscon-SP, Ronaldo Cury, afirmou que a liberação de depósitos do FGTS para fomentar o consumo poderá colocar em risco a sustentabilidade do fundo no longo prazo.
De acordo com a entidade, o fluxo de caixa do FGTS previsto para 2019 indica uma disponibilidade de R$ 112,145 bilhões e saldo em dezembro de R$ 94,004 bilhões, dos quais R$ 31,634 bilhões referentes à reserva legal para cobertura de saques.
“Já aumentou o volume de saques diminuindo sistematicamente assim o valor do saldo total. O alerta foi dado, e provavelmente devemos encarar uma sucessão de revisões para baixo dos orçamentos futuros como forma de honrar compromissos assumidos e manter o FGTS”, disse Cury. (Reuters)
Medida pode afetar construtoras
São Paulo – A eventual liberação de saque dos recursos de contas ativas do FGTS pode afetar os planos de crescimento de construtoras com foco na baixa renda, mas deve ajudar companhias de shopping centers, na visão de analistas do Credit Suisse, em relatório a clientes ontem.
De acordo com notícias publicadas na mídia, o governo deve permitir que os trabalhadores saquem até 35% dos recursos dos contratos de trabalho atuais do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o que o governo estima que deve liberar R$ 42 bilhões para a economia.
Para Luis Stacchini e Vanessa Quiroga, isso pode representar menos recursos disponíveis para emprestar para moradias de baixa renda, o que poderia afetar os planos de crescimento de companhias como MRV, Direcional e Tenda, e até mesmo trazer volatilidade para os lançamentos.
Do lado das companhias de shoppings, os analistas lembram que a liberação do FGTS pelo governo do então presidente Michel Temer em 2017 se refletiu em um significativo crescimento das vendas nas lojas nos shopping centers.
“Em nossa opinião, qualquer anúncio que permitisse retiradas agora poderia fornecer um impulso de curto prazo para as vendas nas lojas dos shoppings. E, neste momento, a recuperação econômica sustentada poderia vir atrás”, afirmaram.
Stacchini e Quiroga entendem que isso poderia aumentar a confiança dos empresários no setor de varejo e desencadear mais aberturas de lojas, potencialmente abrindo espaço para as empresas reduzirem os descontos e talvez até mesmo anunciarem um maior crescimento em um prazo mais curto.
“Consideramos este anúncio positivo para toda a nossa cobertura”, escreveram no relatório, referindo-se a Aliansce, Brmalls, Iguatemi e Multiplan. (Reuters)
Ouça a rádio de Minas