Economia

Guerra comercial pode impactar minério de ferro, mas mercado deve se adaptar

Empresas terão que rever planos de investimentos e mercado tende a se adaptar
Guerra comercial pode impactar minério de ferro, mas mercado deve se adaptar
O preço de referência do minério de ferro já tinha alcançado US$ 100 a tonelada, mas a guerra comercial deve abaixar esse patamar um pouco mais | Crédito: Divulgação Vale

A guerra comercial deflagrada pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve colocar um novo piso para o preço do minério de ferro no mercado internacional no curto prazo, apontam especialistas. A provável queda deve impactar todo o setor de mineração. As empresas deverão rever os planos de investimentos, até para terem tempo de avaliar o novo cenário.

Ainda assim, o mais provável é que o insumo recupere os preços nos médio e longo prazos, inclusive, em virtude da possível variação cambial causada pela instabilidade, que também impacta o custo da commodity, mais os estímulos do governo chinês para aquecer a economia do próprio país. O diferencial no meio dessa incerteza econômica, segundo os economistas especializados no setor, será o ganho em eficiência operacional das mineradoras.

O economista e analista de investimentos da Plataforma AGF, Pedro Galdi, acreditava que o preço de referência do minério de ferro já tinha alcançado um patamar bem resiliente nos US$ 100 a tonelada (t), mas a nova guerra comercial deverá abaixar esse patamar um pouco mais.

“Vai ter, no primeiro momento, um ajuste para baixo e, conforme as coisas vão clareando, o mercado vai se redefinindo, começa a ter recuperação. Mas pelas condições atuais de incerteza, cair de US$ 100 para US$ 95 é factível”, declarou.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


O economista da 3A RIVA Investimentos, Samuel Chagas, afirma que, caso as negociações das tarifas entre os países e os EUA não avancem, é natural a queda nos preços das commodities, principalmente do petróleo e do minério de ferro.

Mas ele ressalta que a desaceleração não deverá se transformar numa cotação estrutural no setor. “Isso vai dar uma trava no comércio global que, até rearranjar no novo equilíbrio, é como fazer uma maratona com uma bola de ferro no pé. Você pode ser o melhor do mundo, mas vai perder ritmo, é impossível”, destaca.

O comportamento intempestivo de Trump, aponta, é uma forma de o presidente norte-americano forçar uma renegociação no comércio global e, principalmente, pressionar a China, o principal mercado do minério de ferro de Minas Gerais. No curto prazo, o gigante asiático será impactado e deverá se reinventar em meio à guerra comercial.

“Tem mais de 20 anos que se fala de uma crise na China. Ela nunca chega, porque eles têm mecanismos artificiais de imposição que não têm precedentes na história da humanidade”, analisa Chagas.

Mineradoras devem rever planos em meio a guerra comercial

Galdi aponta que, no decorrer das negociações das tarifas entre os países com os EUA, principalmente com a China, é possível que a tonelada do minério de ferro possa se estabilizar no patamar de US$ 100/t mais para frente. A incerteza instaurada pela guerra comercial neste momento fará grandes mineradoras – como a Vale – reverem seus planos estratégicos de produção e investimentos.

“No primeiro momento, o pessoal vai ter que parar para pensar, porque não é só o efeito da queda do preço da commodity. Tem o efeito da moeda também. Qual a tendência do dólar? Cair ou subir? Tem mais esse fator, que é importantíssimo dentro da commodity”, disse.

O analista de investimentos da Plataforma AGF aponta que a mineradora tem alternativas competitivas, como uma gama de minério de ferro em diversos teores e preços. Além disso, pelo seu tamanho, a Vale tem necessidade de continuar com investimento pesado. “Ela pode se ajustar a esse momento e, de repente, tentar colocar o minério mais forte. Vai ser muito da estratégia de cada mineradora. Mas terá impacto sim, não só para ela, mas no geral”, disse Galdi.

O economista da 3A RIVA Investimentos relembra que a valorização do dólar nos últimos anos gerou uma “gordura” para as mineradoras. Além disso, a cotação do minério de ferro no atual momento da moeda norte-americana ainda é lucrativa para as empresas. “Entre 90 e 110 dólares a tonelada, é possível ter lucro. Aí é muito mais peculiar, como o ganho de eficiência de cada operação do que a cotação do minério em si”, analisa Chagas.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas