Economia

Guerra comercial pode gerar perda de R$ 1,16 bilhão no PIB de Minas

Projeção é do Cedeplar/UFMG, que baseou estudo nas medidas tarifárias anunciadas na última semana
Guerra comercial pode gerar perda de R$ 1,16 bilhão no PIB de Minas
A indústria brasileira seria o setor mais impactado negativamente, tanto na produção quanto na exportação | Crédito: Divulgação INDA

Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que a guerra comercial entre EUA e China pode provocar, no médio prazo, uma perda de mais de R$ 1,16 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais e acentuar a desindustrialização nacional. O estudo destaca que a indústria brasileira seria o setor mais impactado negativamente, tanto na produção quanto na exportação, enquanto a agropecuária, por outro lado, pode ser favorecida.

As projeções feitas pelo Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea) do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da UFMG, foram baseadas nas últimas medidas tarifárias anunciadas na última semana.

No caso, as tarifas dos EUA de 145% sobre produtos chineses, de 10% para os demais países e de 25% para automóveis e aço importados, mais as taxas de 125% da China sobre produtos norte-americanos. As simulações utilizaram modelos de Equilíbrio Geral Computável (EGC).

O Nemea conectou um modelo de EGC global a um inter-regional e concluiu que a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, no momento, corresponderia a uma perda acumulada de R$ 1,16 bilhão no PIB mineiro nos próximos cinco anos. Seria a terceira maior perda econômica do País, atrás somente dos estados de São Paulo (R$ 4,16 bilhões) e Rio de Janeiro (R$ 1,29 bilhão).

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O PIB do Brasil, porém, pode ter uma leve alta de 0,01%, fruto do aumento das exportações de produtos agrícolas e queda de preços de produtos importados. O PIB global iria retrair em 0,25% e o comércio mundial diminuiria 2,38%, o que seria equivalente a uma perda de US$ 500 bilhões.

Pesquisador do Nemea e um dos autores do estudo, o economista João Pedro Revoredo explica que a economia dos três estados seria bastante afetada, já que eles concentram os maiores parques industriais instalados no território nacional e, naturalmente, sofreriam mais com a possível acentuação do processo de desindustrialização causada pela guerra comercial.

Segundo o relatório, o valor da produção da indústria nacional pode ter uma perda acumulada de mais de US$ 8,8 bilhões nos próximos cinco anos, enquanto o valor das exportações industriais registraria uma perda acumulada superior a US$ 6,4 bilhões no período. Por outro lado, o valor da produção da agropecuária nacional obteria um ganho de US$ 5,5 bilhões, ao mesmo tempo que o valor das exportações do setor pode aumentar US$ 6,6 bilhões.

O Nemea destaca que os ganhos econômicos obtidos nos estados do Centro-Oeste e no Rio Grande do Sul, provenientes do aumento da produção e exportação da soja, seriam praticamente compensados com as perdas estimadas na economia dos estados do Sudeste, fruto do efeito da guerra comercial na produção da indústria e na entrada de importações.

“São coisas a se pensar do ponto de vista estrutural brasileiro. Talvez (a guerra comercial) seja uma oportunidade de o Brasil se reposicionar nas cadeias globais de valor, porque, se deixar do jeito que está, provavelmente nós vamos nos desindustrializar e ficar mais focados nos setores mais primários da economia”, disse Revoredo.

Oportunidade comercial para indústria no acordo Mercosul-UE

O “Financial Times” afirmou esta semana que a troca de tarifas entre EUA e China gerou um novo impulso à agropecuária nacional, em detrimento do setor agrícola norte-americano. O jornal britânico destaca que o agro brasileiro já havia conseguido expandir suas exportações para os chineses durante o primeiro governo de Donald Trump, e que tanto China quanto a União Europeia (UE) cada vez mais veem o Brasil como um fornecedor estável de alimentos.

Os especialistas ouvidos pelos britânicos consideraram a guerra comercial “uma bênção” para a agropecuária brasileira e argentina, já que aumentará a parceria do agro dos dois países com os mercados asiáticos, enquanto os produtores dos EUA perderão ainda mais espaço.

Revoredo destaca que a guerra comercial entre EUA e China pode fazer o acordo de livre comércio Mercosul-UE sair da inércia e ir além do agro, ao gerar outra necessidade na negociação entre os blocos econômicos, muito focada nas exportações de bens primários. “Talvez dado esse novo contexto, seja possível repensar os acordos e encontrar caminhos dos quais a gente consiga também ser fornecedor de bem industrial”, analisa.

Pensar em como manter a indústria competitiva em meio a guerra comercial, analisa Revoredo, seja via política pública de fomento ou para aumento de produtividade dos parques industriais, é importante frente à oportunidade de aumentar a proximidade entre os parceiros comerciais.

“Talvez seja mais interessante repensar a inserção brasileira e do estado de Minas, por exemplo, dentro do cenário internacional, tentando fechar acordos de troca bilateral, seria um caminho interessante”, analisa.

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