Economia

Guerra no Leste europeu afeta a confiança do comércio

Guerra no Leste europeu afeta a confiança do comércio
Crédito: Charles Silva Duarte / Arquivo DC

O aumento da inflação, a alta dos juros e a guerra no Leste europeu estão reduzindo a confiança dos empresários do comércio varejista de Belo Horizonte. Após dois meses em estabilidade, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), medido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), recuou 1,8 ponto em março. Neste mês, a confiança do empresário atingiu 120,7 pontos percentuais, contra 122,5 registrados em janeiro e fevereiro de 2022.

A pesquisa deixa claro que a conjuntura econômica interna associada ao cenário macroeconômico internacional impactam diretamente o varejo – afinal, o setor lida, na ponta, com o consumidor final. “A pesquisa reflete este momento que acompanhamos nos jornais. O comércio sente diretamente essa conjuntura adversa de desemprego alto, renda achatada, do conflito no Leste europeu e suas consequências no aumento de preços e na inflação. Isso tudo gera cautela no empresário e nas decisões que ele toma”, explica o economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida.

Ou seja, mesmo que a queda de confiança não signifique que os empresários vão pisar no freio, ela pode influenciar suas decisões. Exemplo disso está nos estoques. Segundo a pesquisa, 55% dos empresários consideram seu estoque adequado, o que não é necessariamente verdade. “Como a percepção do ambiente econômico é negativa, a maioria não está com estoque grande, inclusive porque isso significa capital parado e ele precisa de liquidez para honrar seus compromissos neste contexto adverso de inflação e renda baixa do consumidor”, observa Almeida.

O importante é que a pesquisa mostra uma tendência, a de retração da confiança, que estava em alta e começa um movimento contrário. Mesmo que quase 80% dos empresários entrevistados pretendam aumentar o quadro de funcionários e mais de 90% acreditem num aumento das vendas, esta pode ser uma percepção sazonal, relacionada à Páscoa, por exemplo, data importante para o comércio.

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Mas o quadro geral caminha em outra direção. “O dado mais expressivo é a interrupção da ascensão da confiança no setor, já que ela é a base para qualquer tomada de decisão. Quando está confiante, o empresário tende a investir, a contratar mais, a aumentar seu mix de produtos”, afirma o economista da Fecomércio MG.

“A pesquisa traz suas percepções do ambiente econômico, do seu próprio negócio concorrendo em um ambiente altamente competitivo e a intenção de investimento. Há um movimento de queda nesses três indicadores em todas as avaliações, o que pode se refletir, na visão do empresário, em queda das vendas. E ele não vai investir ou contratar, se acredita que não vai vender nos próximos meses”, completa.

Cenário assustado 

Esse receio quanto ao futuro faz parte do dia a dia da comerciante Fátima Homem, proprietária da Papelaria Van Gogh, na Pampulha. “O empresário está muito assustado, eu sinto isso aqui na minha região”, conta. Segundo a empresária, todo dia ela recebe um telefonema de um representante, anunciando um aumento e sugerindo que ela adiante o pedido. “Tudo bem, eu posso comprar, pôr o produto dentro da loja, mas como é que eu vou pagar? Quem comprava dez lápis, está comprando um”, lamenta.

Nessa perspectiva, Fátima tem restringido seu estoque ao mínimo necessário para não perder a credibilidade – “meu cliente diz que, se não tem na Van Gogh, não tem em lugar nenhum” – mas, para isso, muitas vezes opta por comprar no atacado, um produto mais caro, porém em menor quantidade do que na indústria.

Ela diz que as vendas tiveram uma queda visível. “Nós achávamos que, depois do Carnaval, ia normalizar. Mas nada, março está sendo um mês muito ruim”, revela. No período mais duro da pandemia, ela demitiu três de seus funcionários. Atualmente, trabalha com quatro atendentes, uma mão de obra de qualidade que não será fácil encontrar novamente. “Estou fazendo tudo o que eu posso para não demitir mais ninguém. Tentei negociar um desconto de aluguel na imobiliária e já estou pensando em ir para um lugar menor”, finaliza a empresária.

Em março, todos os índices que compõem o Icec apresentaram queda em relação ao mês anterior: o Índice de Condições Atuais do Empresário do Comércio – Icaec, (106,4 p.p. contra 101,9 p.p), o Índice de Expectativa do Empresário do Comércio – Ieec (105,5 p.p. para 149,9 p.p.)  e o Índice de Investimento do Empresário do Comércio – Iiec (110,7 p.p. caindo para 110,4 p.p). Apesar da retração, o Icec ainda permanece acima da fronteira do otimismo, que é marcada pelos 100 pontos.

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