Economia

Helibras mira projeto militar do governo

Empresa de Itajubá, controlada pelo consórcio europeu Airbus, volta a ter um presidente brasileiro após oito anos
Helibras mira projeto militar do governo
Crédito: Gil Leonardi/Imprensa-MG

Rio de Janeiro – Única fábrica de helicópteros do Hemisfério Sul, a Helibras chega aos 45 anos buscando uma reorientação de imagem e mirando uma novo grande projeto militar com o governo brasileiro para um novo ciclo de expansão.

Controlada integralmente pelo consórcio europeu Airbus, a empresa de Itajubá, no Sul de Minas Gerais, voltará a ter um presidente brasileiro após oito anos. O escolhido foi o chefe da área de serviços e apoio ao cliente da Airbus Helicopters na América Latina, Alberto Duek, que já havia passado pela Helibras antes de ir para a França, sede do grupo.

Sete em cada dez helicópteros que voam no País são da Helibras, proporção que sobe a 90% quando se fala de frotas militares e policiais. Nesses 45 anos, entregou 800 aparelhos no Brasil, 680 dos quais ainda voam.

“Somos uma empresa nacional”, diz o atual presidente, o francês Jean-Luc Alfonsi. Indisfarçável como o sotaque do executivo é o fato de que, desde o berço, o DNA europeu da Helibras é acentuado: ela foi criada em 1978 como uma colaboração do Brasil com a fabricante de helicópteros francesa Aérospatiale para prover às Forças Armadas locais.

Ao longo dos anos, ela seguiu o ritmo do balé da unificação europeia, que na indústria aeroespacial acompanhou a formação da União Europeia. Com efeito, no mesmo ano em que o bloco foi criado, 1992, a Aérospatiale e a alemã Daimler – que se uniram como Eurocopter, sendo depois compradas pela Airbus.

Em janeiro deste ano, o grupo europeu finalizou o controle sobre a empresa ao comprar os 15,5% restantes do governo mineiro na Helibras por R$ 95 milhões. Em 2022, a fabricante teve um faturamento de R$ 1,3 bilhão, tendo vendido 23 helicópteros civis e 27, militares.

“Nossa fábrica é a única fora da Alemanha e da França que tem o nível 1 de engenharia, o mais alto, que dispensa validações quando um produto nosso vai para o exterior”, afirmou Duek, que havia sido confirmado no cargo no fim da tarde da última terça-feira (11) na LAAD, feira militar que ocorre no Rio de Janeiro.

Alfonsi, que irá para a Airbus no Japão, afirmou que o futuro da empresa passa por um novo ciclo de contratos governamentais. No escopo do acordo militar Brasil-França de 2009, a Helibras passou a fabricar, com até 50% de nacionalização, 50 modelos militares pesados H225M.

O contrato de 2,48 bilhões de euros em valores atuais, ou R$ 13,5 bilhões, prevê a entrega do último aparelho em 2025. A partir daí, sem um novo produto, a empresa teme a evasão de cérebros de sua engenharia –um processo que se viu no “cluster” aeroespacial em torno da Embraer, em São José dos Campos (SP).

“Nós precisamos do apoio do governo”, afirma Alfonsi. “O projeto (do H225M) gerou muita troca tecnológica, capacitação”, diz seu sucessor, que assumirá em julho. Com efeito, a dependência do Estado é uma realidade na indústria militar no mundo todo, os líderes EUA à frente.

Segundo o espanhol Alberto Robles-Sendin, vice-presidente para a região da Airbus Helicopters, a empresa quer priorizar o fornecimento do helicóptero militar médio H160, que preencheria a gama intermediária das Forças Armadas -que operam modelos leves e pesados.

O que vem em troca, além obviamente dos aparelhos, é outro ponto de venda da Helibras..

Além do foco doméstico, há o mercado latino-americano. A empresa tem cerca de 1.400 aparelhos na região e uma demanda crescente por manutenção e renovação.  (Igor Gielow)

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