Economia

Hidrelétricas em alta: leilão de energia nova tem recorde de projetos cadastrados

Mais de 10% dos projetos cadastrados são de Minas Gerais; estado está oferecendo 370 MW
Hidrelétricas em alta: leilão de energia nova tem recorde de projetos cadastrados
Foto: Reuters Paulo Whitaker

Para participar do Leilão de Energia Nova, anunciado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), 225 projetos hidrelétricos foram cadastrados em todo o Brasil. O número é recorde e representa mais que o dobro do último certame, há quase três anos.

O aumento pode indicar uma tendência de retomada de investimentos na geração hidrelétrica no País, segundo especialistas. Do total de projetos, 12%, ou 27 deles são de Minas Gerais. As informações são da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e foram divulgadas esta semana após o encerramento do prazo de cadastramento. 

O crescimento exponencial de projetos cadastrados é visto pelo especialista em energia Aloísio Vasconcelos de forma positiva. “São as hidrelétricas que sustentam o sistema energético do País, elas equilibram e o seguram na hora de um eventual acidente em linha de transmissão. São consideradas energias firmes, fundamentais para o sistema”, comenta.

Para Vasconcelos, energias alternativas como eólica e solar também são relevantes, mas não dão conta de sustentar o sistema. “Quando chega 18 horas, as usinas de energia solar param de gerar e, em pleno 2025, não dá pra ainda ouvirmos ou aceitarmos a geração por carvão ou óleo diesel”, afirma.

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Dessa forma, Vasconcelos ressalta que as hidrelétricas, por suas características econômicas e ambientais, estão recuperando o prestígio. “Elas são as únicas que conseguem sustentar o sistema elétrico nacional e ficar 24 horas no ar, também são baratas e limpas”, diz.

Prestígio que de acordo com o especialista não se limita ao Brasil. Ele conta que a Alemanha voltou a fazer hidrelétrica e que a França também passou a considerar projetos dessa modalidade de geração de energia.

“Para minha surpresa, até a Dinamarca, a Suécia e o Reino Unido voltaram a considerar projetos de usinas hidrelétricas”, pontua.

O consultor de mercado de energia da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Pataca, acredita que o aumento do número de interessados no leilão pode refletir a perda de subsídios e incentivos que algumas empresas produtoras de energias renováveis, como a solar e a eólica, tiveram a partir de 2022. Fato que estaria levando-as a sair do mercado livre e retornarem para o mercado regulado. 

“Os contratos com o governo federal são de 20 anos, diferentes dos contratos do mercado livre que ficam entre três e cinco anos. Além disso, possuem financiamentos mais fáceis, uma renda garantida e fluxo de caixa totalmente previsível. Então, mesmo com o preço mais alto, eles preferem a renda garantida do mercado regulado”, explica.

A possível tendência de retomada de investimentos no sistema hidrelétrico é vista pela Fiemg com bons olhos. “A gente sabe que só vai existir a matriz elétrica brasileira 100% renovável com a expansão das hidrelétricas. O sistema precisa de uma geração de base para segurar as intermitências da solar e da eólica. As alternativas de energia suja como as de carvão mineral e diesel estão crescendo mais. Então, vemos como positivo este leilão específico de hidrelétricas e o crescimento expressivo de projetos”, afirma Pataca.

O CEO da CMU Energia, Walter Fróes, que produz energia em todas as modalidades, defende o cancelamento dos subsídios em energia solar e eólica e não acredita que a retirada deles tenha interferido na apresentação dos projetos ao MME.

Fróes comenta que hoje os insumos estão com preços mais competitivos e que não há mais necessidade de incentivos. “Não há nenhum sentido mais ter qualquer tipo de subsídio para a energia solar e eólica. Quando você faz investimentos, o custo está bem mais barato para investir do que era no passado”, comenta.

Ele avalia que o governo entendeu que as hidrelétricas são necessárias. “Não tem maneira mais barata de estocar energia do que água em reservatório. Se não tem consumo numa hidrelétrica, você vai e estoca, deixa água no reservatório. Agora, a energia solar, se você não consumir, ainda não tem como guardar de forma barata”, avalia.

Minas Gerais apresentou 12% dos projetos hidrelétricos

Os projetos cadastrados, de acordo com os dados da EPE, estão distribuídos por 15 estados da Federação. A região Centro-Oeste apresenta a maior quantidade de projetos e potência cadastrados no leilão. Minas Gerais, entretanto, junto com o estado do Pará e os estados da região Sul, também se destacam.

Eles incluem Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) e Usinas Hidrelétricas (UHE) com potência inferior a 50 megawatt (MW) e totalizam uma capacidade instalada de 2.884 MW. Desse volume, somente Minas Gerais é responsável pela oferta de 370 MW. A maior oferta, entretanto, vem de Santa Catarina. Juntos, os 48 projetos apresentados pelo estado oferecem 490 MW ao leilão.

Previsto para ocorrer no dia 25 de julho deste ano, o Leilão de Energia Nova A-5 de 2025 garante a compra de energia com foco na expansão do sistema. Ou seja, é um tipo de negociação que inclui investimentos em estrutura, instalação e aumento na produção.

MME avalia reabrir cadastramento de projetos para leilão de energia

O ministro do Ministério de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, afirma que o governo tem trabalhado para expandir a matriz energética, priorizando as fontes de energia limpa e renovável, sempre com foco em garantir a segurança do suprimento e a modicidade tarifária. 

Silveira comenta que a energia hídrica é considerada uma das mais seguras, sendo responsável por mais da metade da produção nacional. “O Brasil tem um grande ativo: 11% da água doce do planeta. Por isso, defendemos a exploração deste potencial”, diz.

Nesse cenário, o ministro enxerga as pequenas centrais hidrelétricas – as quais se destina o leilão – como boas alternativas para contribuir com a exploração do potencial brasileiro, que é a energia proveniente da água.

As pequenas centrais hidrelétricas, além de possuírem menor complexidade em sua construção, também tem ao seu favor a exigência de intensa mão de obra nacional para execução de sua engenharia e construção, impulsionando o emprego e a renda no País e, principalmente, ajudando a desenvolver os indicadores sociais dos municípios onde são instaladas”, defende.

Por estes motivos e diante da alta procura, o MME estuda reabrir o prazo para o cadastramento, considerando que há mais projetos interessados em participar do leilão.

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