Hidrovia do rio São Francisco: retomada comercial de Pirapora a Petrolina

A retomada da movimentação comercial da hidrovia do rio São Francisco, de Pirapora (Norte de Minas) a Petrolina (Pernambuco), é um dos planos do governo federal. O objetivo, segundo informações do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), é fortalecer a logística brasileira de forma eficiente, econômica e sustentável. Serão 1.371 quilômetros navegáveis da nova hidrovia.
Esse tipo de operação não ocorre no “Velho Chico” desde 2012, em função do assoreamento de trechos do rio, que tem um total de 2,8 mil quilômetros de extensão, banha 505 municípios brasileiros e abastece 11,4 milhões de pessoas.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, informou que grandes grupos já manifestaram interesse em realizar essa operação hidroviária. “Vamos trabalhar muito nos próximos meses para garantir a execução do projeto, que é fundamental para o fortalecimento da logística brasileira e para o desenvolvimento do País”, ressaltou.
Entre os produtos que devem ser transportados pela hidrovia, saindo de Pirapora em direção a Juazeiro e Petrolina, para abastecer o Nordeste, está o café. Já saindo de Petrolina, navegarão em barcaças, gesso agrícola, que é usado como fertilizante e condicionador de solo, além de gipsita, drywal e calcário em direção à Pirapora, de onde seguirá para abastecer outros estados da região Sudeste.
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Esses produtos também terão como destino as divisas entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, área conhecida como Matopiba, de forte produção agrícola. O açúcar e o óleo devem sair de Juazeiro até Pirapora, para abastecer o Sudeste e o Matopiba.
Hidrovia será por etapas
Devido à sua magnitude, o MPor informou que o projeto foi dividido em três etapas. Todas elas preveem integração intermodal, por rodovias e ferrovias. A primeira fase, com 577 quilômetros de extensão, sendo 525 quilômetros navegáveis, ligará pelas águas Juazeiro (BA) e Petrolina a Sobradinho (BA) e terminará em Ibotirama (BA). As cargas serão escoadas por rodovias até o Porto de Aratu-Candeias, na Baía de Todos os Santos (BA).
A previsão é que 5 milhões de toneladas de cargas passem pelo trecho logo no primeiro ano. O Porto de Santos, maior complexo portuário da América Latina, por exemplo, movimentou, por cabotagem, em 2024, pouco mais de 5 milhões de toneladas.
A segunda etapa terá 156 quilômetros entre Ibotirama e Bom Jesus da Lapa e Cariacá, ambas na Bahia. Já a terceira etapa aumentará a hidrovia em 648 quilômetros e ligará Bom Jesus da Lapa e Cariacá a Pirapora, finalizando a integração Sudeste-Nordeste.
Também está prevista a conexão, através da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), a maior do País, e com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), até os Portos de Ilhéus (BA), Porto Sul e Aratu-Candeias.
Redução do custo logístico é vantagem da hidrovia
O economista Guilherme Almeida ressalta que o Brasil tem um vasto recurso hídrico navegável, que tem como uma das vantagens a redução do custo logístico. “Em média, o transporte hidroviário é mais barato do que o transporte rodoviário e ferroviário, ainda mais em longas distâncias. As embarcações têm alta capacidade de carga e um baixo consumo energético por tonelada transportada, reduzindo o custo logístico e aumentando a competitividade”, observou.
Outro ponto positivo das hidrovias, conforme o economista Fernando Sette Júnior, está relacionado com a sustentabilidade. No entanto, ele ressaltou que é preciso avaliar de forma criteriosa a questão das alterações do leito do rio, além do impacto na fauna aquática.
De acordo com informações do MPor, um comboio de embarcação hidroviária pode substituir até 1,2 mil caminhões na estrada, reduzindo a emissão de CO₂ e o desgaste das rodovias.
Para o diretor do Departamento de Navegação e Fomento da Secretaria Nacional de Hidrovias e Navegação do MPor, Otto Luiz Burlier, a matriz logística brasileira é muito desigual, já que cerca de 70% das cargas são movimentadas no País por meio rodoviário. “Precisamos aproveitar o potencial do Brasil. Temos cerca de 60 mil quilômetros navegáveis e apenas 20 mil são, de fato, aproveitados comercialmente”, observou.
Sette Júnior acrescentou que a hidrovia é um bom meio de transporte, sendo mais uma opção logística, num cenário de rodovias em más condições em vários pontos do País. Ele ressaltou que, para que as hidrovias possam ser viabilizadas, o governo tem que torná-las atrativas para a iniciativa privada, o que pode ser feito ao se garantir segurança jurídica, bem como oferecendo boas condições de financiamento do empreendimento como as oferecidas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Descentralização da hidrovia
Para iniciar o projeto, o MPor informou que vai passar a gestão da hidrovia, atualmente sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), para a Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), autoridade portuária vinculada ao ministério.
Com a descentralização, que deve ocorrer ainda neste mês, a Codeba iniciará os estudos técnicos e voltados para a retomada da navegação. Em parceria com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Codeba também vai realizar estudos para a concessão da nova hidrovia do São Francisco.
Procurada pela reportagem, o MPor informou que ainda não há valor de investimento previsto para a nova hidrovia do São Francisco, sendo que os valores por etapa serão conhecidos após elaboração dos estudos que serão feitos pela Codeba. (Com informações da Agência Gov)
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