Hub de biotecnologia e ciências da vida Biotechtown pode encerrar atividades

Parte das atividades do BiotechTown, hub voltado exclusivamente para áreas de biotecnologia e ciências da vida, localizado em Nova Lima (RMBH), está temporariamente suspensa. Os acionistas – governo do Estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), e Fundepar (Fundep Participações) – estão revendo suas participações no empreendimento e paralisando os investimentos essenciais à continuidade do projeto.
O DIÁRIO DO COMÉRCIO apurou que a maioria dos funcionários já foi dispensada e que o hub tem se mostrado economicamente inviável, mesmo tendo recebido aportes vultosos nos últimos anos. Segundo uma fonte que pediu anonimato, a operação já está no patamar mínimo.
Tudo isso também apesar de ter acelerado 31 startups desde 2018, somando R$ 10.1 milhões aplicados no ecossistema. E de contar com estrutura completa, inclusive, o Open Lab, laboratório compartilhado, que possibilitava o aluguel de equipamentos e estrutura, produção de ensaios ou experimentos e elaboração e execução de PD&I. E o CMO (Contract Manufacturing Organization), planta de produção voltada para o desenvolvimento de lotes-pilotos e lotes comerciais de produtos para a saúde de forma exclusiva e customizada em escala industrial.
“Um dos sócios investidores suspendeu o aporte financeiro previsto e não vai ser possível continuar, mesmo com toda a infraestrutura instalada. Ou seja, mesmo após investir cerca de R$ 25 milhões, o governo de Minas entendeu que o empreendimento não é mais estratégico. Ou mudou as diretrizes de participação em projetos do tipo”, sugeriu outro interlocutor da área de ciência e inovação.
Governo alega que hub não cumpriu plano
Primeiramente, o presidente da Codemge, Thiago Toscano, explicou que não se trata apenas de falta de investimento do governo. “Nenhuma das startups performou, o BiotechTown não cumpriu o plano e já estamos tendo prejuízos. O balanço já indica que nossa participação está zerada, inclusive. Colocamos cerca de R$ 5 milhões, depois compramos R$ 16 milhões em debêntures e o hub negativo em R$ 26 milhões. E ainda queriam que colocássemos mais R$ 1,5 milhão até encontrarem uma saída. Saída que, na nossa opinião, não há”, afirmou.
De toda maneira, o diretor de participações da Codemge, Eduardo Sampaio, ressaltou que a decisão do governo ocorreu, sobretudo, porque membros da Fundepar informaram, mesmo que informalmente, que a empresa não tinha mais interesse em continuar investindo no projeto. Mas que o executivo estadual aguardava uma decisão conjunta e formal sobre a realização dos aportes. Somente depois avaliariam o encerramento das atividades ou a redução das operações enquanto se busca um novo investidor.
“Foram apenas reuniões. Isso ainda não foi discutido no âmbito de governança da empresa nem assembleia de acionistas. Ainda é preciso formalizar qualquer decisão. Mas os gastos do empreendimento estavam muito elevados e não havia contrapartida de receitas”, explicou.
Ainda conforme Sampaio, no fim do ano passado, foi solicitado um orçamento para continuidade das operações aos gestores. E a queima de caixa do BiotechTown foi tão expressiva que não havia recursos suficientes para o trabalho. Diante da situação, ”a Fundepar falou que não tem interesse e a Codemge não vai fazer sozinha”, avisou.
Fundepar nega que tenha desistido de investir no BiotechTown
Procurada, a Fundepar negou qualquer decisão. “Isso não é verdade. A Fundepar está 100% adimplente com suas obrigações. Reforçamos nossa posição de manutenção das atividades integrais do Biotechtown”, disse o diretor-executivo da Fundepar, Carlos Lopes.
A reportagem também procurou a prefeitura de Nova Lima, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Ainda assim, o governo do Estado disse que a unidade do BiotechTown segue em funcionamento. Mas admitiu que os sócios estão reavaliando o hub e seu plano de negócios, com base na performance do ativo e no risco de investimento. E que a parte do hub de negócios focada na aceleração de startups permanece em operação, enquanto estão sendo reformuladas as atividades dos laboratórios.
Confira trecho da nota enviada pelo Estado, por meio da Codemge:
“Para implantação do BiotechTown, previu-se R$ 9,9 milhões de aporte em capital social dos sócios Fundep Participações (50,5% de participação) e Codemge (49,5%). Vinculadas ao alcance de metas predeterminadas, foi concebida uma estrutura de dívida/financiamento com emissão de debêntures pelo empreendimento para aquisição pela Codemge, no valor de R$ 25,17 milhões. A medida objetivava a estruturação do negócio.
Os desembolsos foram realizados de acordo com o andamento do projeto. A Codemge já aportou no BiotechTown R$ 4,9 milhões, referentes ao capital social, e R$ 17,8 milhões relativos às debêntures, conforme as metas atingidas pelo empreendimento.
Em abril de 2023, a Codemge fez o último aporte no BiotechTown, de R$ 418 mil, e aguarda valor correspondente da Fundep Participações. A continuidade do projeto depende de novos aportes de capital dos sócios, decisão que está em tratativa. Nesse sentido, a Codemge apresentou proposta para novo aporte, condicionada à contribuição de ambos os sócios na proporção de suas participações no capital social”.
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