IBGE aponta desaceleração, mas café impacta novamente IPCA na RMBH

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) desacelerou e subiu 0,41% no mês de março, em relação a fevereiro, quando a alta foi de 1,31%. O indicador que mede a inflação foi impulsionado principalmente pela continuidade do aumento do preço do café moído, como mostram os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (11).
O índice da região metropolitana da capital mineira foi inferior à inflação média do País, que registrou alta de 0,56%. Já no desempenho mensurado nos últimos 12 meses, a inflação acumulada no Brasil foi de 5,48%, enquanto na Grande BH chegou a 6,07% – a maior variação entre as áreas pesquisadas pelo instituto.
Nos três primeiros meses do ano, o levantamento do IBGE também aponta que o IPCA acumulado na RMBH ficou próximo à média nacional: 2,16% frente a 2,04% – a 6ª maior variação positiva entre as 16 áreas pesquisadas.
A maior alta percentual da região metropolitana no mês foi de 0,82%, registrada no grupo de vestuário, puxado pela alta de 1,31% nos preços da roupa masculina.
O grupo de alimentação e bebidas registrou alta de 0,71% no IPCA da RMBH, uma desaceleração frente a fevereiro, quando alcançou 1,10%. O preço do café moído continuou em trajetória de alta e subiu 10,05% em março, o que impactou o índice geral em 0,07 ponto percentual (p.p.) – o maior impacto individual positivo no IPCA.
No mês passado também houve aumento de 15,36% no tomate, que impactou o indicador em 0,05 p.p.. O IBGE também detectou altas nos preços do ovo de galinha (10,83%), leite longa vida (2,94%) refeição (0,56%), manga (30,98%), mamão (9,87%) e cebola (11,75%), em ordem decrescente de impacto no índice geral.
Por outro lado, a queda de 7,36% nos preços do arroz causou impacto de -0,03 p.p. e não deixou a inflação em alimentação e bebidas subir ainda mais.
Confira outros impactos no IPCA da RMBH
Além dos grupos de vestuário e alimentação e bebidas, outros conjuntos ajudaram a elevar o IPCA na RMBH em março. São eles:
- Despesas pessoais (0,67%)
- Saúde e cuidados pessoais (0,59%)
- Artigos de residência (0,58%)
- Comunicação (0,45%)
- Educação (0,12%)
- Habitação (0,10%)
O grupo de transportes foi o único a apresentar deflação na RMBH em março, de -0,08%. Foi uma forte desaceleração em relação a fevereiro, quando alcançou 0,71%, puxada principalmente pelas quedas de 5,07% no preço do ônibus intermunicipal, de 4,49% no ônibus interestadual e de 2,05% no custo do etanol.
Inflação dos alimentos ainda exigirá atenção na RMBH
O economista, consultor e conselheiro de política econômica Stefan D’Amato reforça que, apesar do IPCA da RMBH no mês ser menor que a média do País, no acumulado em 12 meses, a região permanece com a maior inflação entre as áreas pesquisadas pelo IBGE e bem acima do índice nacional. “O resultado reforça a persistência de pressões inflacionárias estruturais no contexto metropolitano, mesmo diante de uma desaceleração mensal”, analisa.
Ele aponta que choques de oferta, decorrentes da sazonalidade agrícola, variações climáticas e repasses de custos logísticos, refletiram, em parte, na inflação do grupo de alimentação e bebidas, principalmente produtos in natura e semielaborados, o que fez o grupo dos alimentos ter papel relevante no resultado do IPCA da RMBH em março.
“A despeito da queda no preço do arroz, a alimentação segue como um vetor de volatilidade e impacto direto no custo de vida das famílias”, destaca D’Amato. Já o crescimento da inflação no grupo de vestuário, afirma o economista, indica uma possível recomposição de preços, após relativa estabilidade nos meses anteriores.
A pressão de outros grupos no IPCA como despesas pessoais e saúde e cuidados pessoais, segundo D’Amato, veio sobretudo pelo encarecimento de serviços e itens sensíveis à renda como cinema, hospedagem, empregado doméstico e planos de saúde. Em contrapartida, a deflação do grupo de transportes colaborou para conter o avanço do índice geral na RMBH.
“No entanto, trata-se de alívio pontual, sujeito a reversão conforme oscilação do câmbio e dos preços internacionais de combustíveis”, ressalta o consultor econômico.
D’Amato explicou que é possível os índices de inflação dos próximos meses terem uma aceleração menor, especialmente nos grupos que concentram reajustes no início do ano como educação, com as mensalidades escolares, e habitação, com o aluguel. Entretanto, ele aponta que a manutenção da pressão inflacionária nos alimentos e serviços exige atenção.
“A inflação metropolitana continua refletindo desequilíbrios setoriais e de oferta, sugerindo a importância de políticas coordenadas, tanto no campo monetário, quanto no planejamento produtivo e logístico, para mitigar os efeitos da inflação estrutural, sem comprometer a recuperação do dinamismo econômico regional”, finaliza.
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