Economia

Imigrantes preenchem lacunas no mercado de trabalho mineiro

Estado figura entre os cinco com as maiores formalizações no Brasil; Contratações surgem como solução para falta de mão de obra qualificada
Imigrantes preenchem lacunas no mercado de trabalho mineiro
No Brasil, estrangeiros estão distantes de representarem ameaça à mão de obra local | Crédito: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Nos últimos anos, crises socioeconômicas e políticas em diversos países e regiões acentuaram a procura pelo Brasil por imigrantes e refugiados em busca de oportunidades. Além da possibilidade de reconstrução da vida, as iniciativas seguem preenchendo lacunas no mercado nacional em um cenário de escassez de mão de obra qualificada no trabalho – um desafio que se reflete em diversos estados, incluindo Minas Gerais.

Segundo os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), o Estado figurou entre os cinco com os maiores estoques de empregos celetistas com estrangeiros no Brasil. Em 2023, foram 10,6 mil vínculos formalizados em território mineiro – atrás de São Paulo (62,7 mil); Santa Catarina (60,7 mil); Paraná (48,7 mil) e Rio Grande do Sul (32,9 mil).

No País, o levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) aponta que a mão de obra estrangeira é formada em extensa maioria por latino-americanos, com destaque para venezuelanos e haitianos. Ambos os países enfrentam crises, como instabilidade política e hiperinflação, que impulsionam a migração em busca de melhores condições de vida.

De acordo com o economista da FecomercioSP, Jaime Vasconcellos, a combinação entre o aquecimento do mercado de trabalho desde o fim da pandemia e o aumento da oferta de mão de obra têm impulsionado a empregabilidade no Brasil, incluindo de estrangeiros. “Desde 2017, o País recebeu um fluxo imigratório de aproximadamente 2,3 milhões de pessoas. Essa união entre mercado aquecido e maior disponibilidade de mão de obra no País fez com que tivéssemos um aumento expressivo de oportunidades para esse grupo”, destaca.

Com relação à escolaridade, o especialista cita que, com base em estudos realizados, os imigrantes apresentam uma formação semelhante ao da força de trabalho nativa. Segundo ele, no mercado brasileiro, 80% dos trabalhadores possuem pelo menos o ensino médio e entre os imigrantes essa taxa é de 75%. Já com relação ao ensino superior, 21% dos brasileiros concluíram a graduação, enquanto entre os estrangeiros esse índice é de 18%.

A disponibilidade de oportunidades a esse grupo é encarada como uma via de mão dupla, capaz de beneficiar famílias e impulsionar a economia local. Por um lado, o emprego formal garante dignidade aos trabalhadores imigrantes, assegurando seus direitos e proporcionando estabilidade, e, por outro, beneficiando empresas que precisam contratar profissionais qualificados e não encontram com facilidade em momentos de crescimento econômico.

Para o economista da Fundação Ipead, Diogo Santos, uma maior oferta de mão de obra, especialmente para setores intensivos, como a indústria e o comércio, contribui para que empresas reduzam custos com contratações e driblem desafios como a alta rotatividade. “Um maior número de pessoas disponíveis ajuda inclusive a segurar o aumento de custos, pois aumenta a competitividade em um momento de baixos índices de desemprego”, pontua.

Historicamente, Santos avalia que Minas Gerais tem se destacado pela pujante industrialização, o que segue favorecendo a criação de vagas de trabalho, tanto no Estado quanto na região Sudeste e proximidades. “São regiões que possuem maior densidade populacional, além de um setor comercial e de serviços altamente demandados, o que reflete diretamente na demanda por mão de obra local”, acrescenta.

Para o economista, o grande desafio está na necessidade de promover políticas públicas de treinamentos que abordem aprendizados, como língua e aspectos específicos da área desejada. Essas ações, segundo ele, podem ser vinculadas a prefeituras e órgãos públicos que prestem assistência aos trabalhadores, oferecendo maior diversidade de programas de requalificação.

Quebra de barreiras é necessária e beneficia mercado nacional

Embora o Brasil não seja caracterizado como um local de conflitos étnicos, movimentos de protecionismo em diferentes regiões do mundo preocupam e podem regredir avanços. Países como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Áustria têm adotado políticas cada vez mais restritivas com relação à imigração, criando barreiras que dificultam a circulação de pessoas, bem como a integração ao mercado de trabalho.

Diante desse cenário, Jaime Vasconcellos avalia que as circunstâncias devem intesificar o papel do Brasil como um País que acolhe diferentes grupos. “Temos uma oportunidade de protagonizar esse cenário e tratar imigrantes e refugiados de forma ainda mais completa, inserindo-os na economia”, destaca.

Com relação à competitividade em um cenário de desaceleração econômica, o economista acredita que estrangeiros estão distantes de representarem uma ameaça à mão de obra local. Atualmente, a força de trabalho composta por imigrantes e refugiados somam menos de 1% dos atuais 47,3 milhões de trabalhadores com carteira assinada.

Apesar disso, ele acredita que ainda é necessária uma quebra de barreira preconceituosa por parte da população. “Bons negócios são feitos por empresas e pessoas, independentemente da origem. Esse crescimento observado nos últimos anos demonstra que estamos evoluindo e que o mercado tem espaço para abraçar todas as nacionalidades”, conclui.

Mais de 70 mil estrangeiros entraram no mercado formal de trabalho do Brasil

O resultado dos avanços nacionais em mão de obra estrangeira foi comprovado pela pesquisa elaborada pela FecomercioSP. Somente em 2024, cerca de 71 mil postos celetistas foram abertos e preenchidos por pessoas de fora do País – um avanço de 50% em relação a 2023.

Segundo a entidade, os números representaram o maior volume para um único ano desde a criação da metodologia em 2020. Ao todo, 44% da mão de obra estrangeira nacional era de cidadãos da Venezuela, seguido pelo Haiti. Juntos, os países somaram 60% do total de vagas preenchidas por imigrantes no ano passado.

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