Economia

​Impactos do fogo em Minas: combate a incêndios custa R$ 10 mi; veja principais desafios

De todos os chamados dos bombeiros para combater incêndios no Estado este ano; 40% foram em lotes vagos
​Impactos do fogo em Minas: combate a incêndios custa R$ 10 mi; veja principais desafios
Bombeiros na Serra da Moeda | Crédito: Divulgação Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

Nas últimas 48 horas, Minas Gerais já registrou 344 novos focos de incêndio, conforme mostram os registros por satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Com o tempo seco, sem chuvas, baixa umidade do ar e muito vento, o fogo encontra o ambiente ideal para se propagar nas vegetações e atingir grandes proporções. Para controlar tudo isso, o Estado destinou, somente este ano, o valor de R$ 10 milhões para ações de enfrentamento e prevenção a ocorrências nas matas de Minas

Segundo o governo estadual, este montante inclui a aquisição de equipamentos, veículos e aeronaves. Além do Corpo de Bombeiros atuando diretamente nas ocorrências, cerca de 800 brigadistas também apoiam o combate ao fogo. 

Brigadistas
Brigadistas no combate ao fogo | Crédito: Robson Santos/ Semad

“Entre as aquisições, estão 20 viaturas utilizadas nas operações de prevenção e combate a incêndios e um avião Air Tractor, visando maior agilidade para o combate de focos de queimadas. Além disso, também foram adquiridos novos kits de combate a incêndio — compostos por óculos, capacetes, mochilas de hidratação, balaclava, soprador, motosserra e motobomba”, detalhou o governo de Minas, por meio de nota. 

Além disso, este é o primeiro ano em que os bombeiros assumem o protagonismo na inteligência do combate aos incêndios. Coube à corporação coordenar a implementação de novas estratégias para prevenir e combater incêndios, como a instalação de reforços operacionais aéreos e terrestres nas Unidades de Conservação do Estado (UCs). 

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Minas tem 95 UCs, mas os esforços se dão nas áreas onde as queimadas são mais frequentes, conforme detectado em estudo da corporação sobre os registros dos últimos 10 anos. São elas:

  • Parque Estadual Serra do Cabral, em Joaquim Felício;
  • APA Cochá e Gibão, em Bonito de Minas;
  • Apae Alto do Mucuri, em Teófilo Otoni;
  • e Parque Estadual Serra do Rola Moça, situado entre os municípios de Belo Horizonte, Nova Lima, Ibirité e Brumadinho.
Base de operações do Corpo de Bombeiros na Apa Cochá e Gibão
Base de operações do Corpo de Bombeiros na Apa Cochá e Gibão | Divulgação Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

O porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, tenente Henrique Barcelos, explica como este trabalho estratégico tem sido realizado.  

“Este ano tivemos um desafio maior que foi assumir a coordenação do programa Força-Tarefa Previncêndio, em que ficamos à frente da prevenção e do combate aos incêndios também nas UCs. Então, o reforço e aporte de investimentos foram voltados para a proteção desse patrimônio ambiental. Isso envolve a contratação de brigadistas, renovação dos Air Tractors, que são essas aviações que conseguem jogar água por cima do fogo, e instalação de bases operacionais, que são estruturas logísticas montadas dentro das unidades de conservação consideradas estratégicas para que a gente consiga fazer o monitoramento in loco e ter um tempo-resposta menor nos pontos de incêndios”, detalha. 

Uma sala de coordenação também foi criada para monitorar todas as UCs por satélite e identificar a incidência de focos de incêndio rapidamente. O resultado disso é que 80% das queimadas nas unidades são extintas em 24 horas, segundo Barcelos. 

Ainda segundo o governo de Minas, anualmente são realizados cursos de formação de brigadistas especializados em prevenção de incêndios florestais. “Neste ano, cerca de 800 profissionais estão em atuação nas ocorrências de combate a incêndios nas áreas verdes de Minas Gerais, sendo 500 brigadistas do Corpo de Bombeiros e outros 280 profissionais extras, contratados especificamente para o período crítico da seca, compreendido entre os meses de agosto a outubro”, diz a nota.

40% dos incêndios em vegetação em Minas Gerais ocorrem em lotes vagos

As ocorrências de incêndio, no entanto, não se concentram somente nas Unidades de Conservação. Por todo o Estado, há focos espalhados em diversas vegetações, tanto em áreas rurais como urbanas. Não por acaso, o “carro-chefe” dos incêndios em Minas são os lotes vagos. É o que explica o tenente Barcelos. 

“Por vegetação estamos falando de áreas urbanas não protegidas também, como margens de rodovias, onde as pessoas jogam uma guimba de cigarro pela janela do carro ou ateiam fogo em um amontoado de lixo e isso acaba fugindo do controle. Há também a prática de pessoas que querem limpar um terreno com fogo por ser mais rápido e mais rentável, mas isso é totalmente contraindicado, principalmente nesta época do ano”, alerta. 

Das 17.595 ocorrências de incêndios em vegetação atendidas pelos bombeiros este ano, 40% ocorreram em lotes vagos. Veja as origens do fogo em Minas Gerais:

  • Lotes vagos (área urbana): 7.213 ocorrências;
  • Áreas urbanas não protegidas: 3.535;
  • Pastos: 2.574;
  • Margens de rodovias: 2.069;
  • Áreas rurais não protegidas: 1.048;
  • Propriedades rurais particulares: 264;
  • Unidades de Conservação: 240;
  • Áreas urbanas pertencentes a órgãos públicos: 192;
  • Entorno de Unidades de Conservação: 140;
  • Áreas de reflorestamento: 109;
  • Áreas urbanas de órgãos privados: 100;
  • Áreas rurais de órgãos privados: 46;
  • Produções agrícolas: 31;
  • Áreas rurais de órgãos públicos: 22;
  • Canaviais: 12.

O Corpo de Bombeiros estima que 90% dos incêndios são provocados por ação humana. “Boa parte deles é por imprudência e também há uma fatia de incendiários que agem por ação criminosa. Os incêndios em lotes vagos, por exemplo, ocorrem onde não são feitas manutenções, e isso acaba gerando muito material orgânico e vegetação seca. O proprietário não se preocupa com aquilo e chega este período do ano, de estiagem e baixa umidade, e o lote acaba vindo a se incendiar, propagando o fogo por vegetações próximas”, explica o tenente Barcelos. 

Incêndio em vegetação de área urbana em Uberlândia
Registro de um incêndio em vegetação de área urbana em Uberlândia | Credito: Divulgação Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

As vistorias dos bombeiros nestes locais geram boletins de ocorrência sobre a possibilidade de risco de incêndio. Isso é encaminhado aos respectivos municípios para que eles façam a devida autuação dos proprietários. Em alguns casos, há penalizações sobre o IPTU, caso a limpeza do terreno não esteja em dia. 

Por que é tão difícil apagar o fogo?

Nos últimos dias, dois grandes incêndios chamaram a atenção dos mineiros. O da Serra do Cipó, que demorou 4 dias para ser controlado e consumiu 8.500 hectares de vegetação, e o da Serra da Moeda, que também foi debelado após o trabalho de 134 agentes, em apoio aéreo e terrestre. 

Nesta segunda-feira (26), o Corpo de Bombeiros informou que também combate incêndios no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, no Parque Estadual Itacolomi, na Área de Proteção Ambiental Estadual Alto do Mucuri e na Estação Ecológica Estadual Mata dos Ausentes. 

Enquanto isso, outras queimadas estão com o status de “debeladas” na listagem da corporação, mas seguem sendo monitoradas. Isso acontece porque o fogo pode voltar a qualquer momento, mesmo nos locais onde já foi controlado.

O tenente Barcelos explica: “Esse monitoramento compreende também a pesquisa por eventuais focos de incêndio que possam estar ocultos. Isso aconteceu, por exemplo, na Serra da Moeda. Após as chamas já estarem controladas, houve uma reignição, que também foi controlada rapidamente. Mas isso é comum em áreas de vegetação porque mesmo após o combate das chamas, alguma brasa ainda pode restar oculta na vegetação e não fica perceptível, mas pode aflorar com o aumento da temperatura no próximo dia”, diz. 

Reignição é o nome dado a uma nova ignição de incêndio que já foi combatido e até extinto.

Incêndios deixam 160 mil pessoas sem energia elétrica no Estado

As queimadas em Minas Gerais também prejudicam o fornecimento de energia elétrica. Segundo um levantamento da Cemig, somente em julho, 159.505 unidades consumidoras tiveram o serviço interrompido por causa de incêndios. 

Incêndio ameaça fiação elétrica
Registro de um incêndio que ameaça cabos de energia | Crédito: Divulgação Cemig

Este número é três vezes maior que o de clientes que tiveram o serviço interrompido em todo o primeiro semestre deste ano, quando as queimadas deixaram cerca de 45 mil pessoas sem energia. A região que teve mais casos de interrupção de energia foi a Zona da Mata, com 66 mil moradores sem luz somente em julho. 

O serviço é interrompido, nessas situações, porque as chamas danificam os equipamentos como postes, cabos e torres. Além disso, os incêndios costumam ocorrer em áreas de vegetação, muitas vezes, de difícil acesso, dificultando o restabelecimento do serviço à população.

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