Economia

Importação de aço leva setor a rever projeções do ano para baixo

Resultados do setor podem continuar negativos no próximo ano, aumentando ainda mais a crise das usinas
Importação de aço leva setor a rever projeções do ano para baixo
Produção brasileira de aço bruto recuou 8,1% no acumulado dos primeiros dez meses do ano | Crédito: Divulgação/Aço Brasil

A siderurgia nacional segue constatando com números que atravessa um momento difícil e que a situação pode piorar ainda mais, caso medidas não sejam tomadas pelo governo federal para conter a importação de aço no País. Nessa quinta-feira (23), o Instituto Aço Brasil apresentou os resultados do setor até outubro, uma nova projeção para o fechamento do ano, além das estimativas iniciais para o próximo exercício. E vários indicadores apresentados estão negativos. 

A entidade mostrou que, nos dez primeiros meses de 2023, as siderúrgicas brasileiras tiveram uma produção de aço bruto 8,1% menor, frente a igual período de 2022. Ao mesmo tempo, viram as vendas internas caírem 5,3%, as exportações 2,5% e o consumo aparente crescer apenas 0,3%. Por outro lado, conforme enfatiza o presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil, Jefferson de Paula, assistiram às importações “tomarem” o mercado doméstico, com uma elevação de 54,8%.

O cenário desafiador, que inclui uma ociosidade das usinas de 40%, levou a uma revisão para baixo de alguns valores previstos para este ano. Em setembro, a previsão era de quedas de 5% na produção e de 0,3% nas exportações, enquanto a importação de aço subiria 42,6%. Agora, o setor prevê reduções de 8% e 1% e uma alta de 48,6%, respectivamente. Já o prognóstico das vendas internas passou de um recuo de 6% para 5,6% e do consumo aparente de 1,5% para estabilidade.

Mas existe a possibilidade de que a “tempestade perfeita” não cesse tão cedo. Tanto é que, para o ano que vem, o instituto está prevendo que as empresas produtoras de aço fabriquem uma quantidade 3% inferior ao que será registrado ao fim de 2023, vendam internamente 6% a menos e observem a importação de produtos siderúrgicos crescerem 20%. Como alento, a projeção indica que os embarques devem expandir na casa dos 1,3% e o consumo aparente no País 1%.

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Brasil deixou de empregar 248 mil pessoas devido ao impacto das importações diretas

A “inundação de aço”, sobretudo, da China, mercado que responde por 56,7% das importações brasileiras, vem deixando rastros profundos na economia. Segundo o Aço Brasil, com o impacto da importação direta, que será de 5 milhões de toneladas neste ano, 248 mil pessoas deixaram de ser empregadas, o que resultaria em uma massa salarial anual de quase R$ 9 bilhões. Neste caso, o governo federal deixou de arrecadar mais de R$ 1,3 bilhão somente de Imposto de Renda (IR).

O mesmo motivo levou a uma perda de faturamento na siderurgia de R$ 30,6 bilhões. Já os impostos diretos não pagos pelo setor foram de R$ 5,13 bilhões e a perda efetiva de arrecadação no Brasil, sob efeitos indiretos da importação, de R$ 2,8 bilhões. Projetando receber diretamente 6 milhões de toneladas de aço em 2024, os números serão ainda piores, de acordo com a entidade, que busca uma solução emergencial para conter a entrada de produtos siderúrgicos no País. 

Governo está sensível à situação e pode rever a alíquota de importação 

Há alguns meses, o setor de aço está tentando convencer o governo a alterar a alíquota de importação de 9,6% para 25%. O percentual é o mesmo praticado por Estados Unidos, México e 27 países da União Europeia. O presidente-executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, diz que o Executivo federal está sensível à situação e escutando todos os lados, o que inclui os consumidores, que acreditam que se aumentar a tarifa, o valor do aço nacional subirá. 

De Paula demonstra otimismo. “Estamos em situação de emergência. Quanto mais rápido tomar essa decisão melhor, mas sabemos que tem alguns trâmites: estamos no Mercosul, tem outros itens a serem resolvidos pelo governo. Nós acreditamos que até o final do ano, o governo tome essa decisão e no primeiro trimestre do ano que vem esteja implementado”, disse, reiterando que, caso não seja tomada, a partir desse período, o setor terá que se adequar ao novo mercado. 

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