Importações podem fazer indústria do aço desaparecer no Brasil, diz CEO da Gerdau
O alto índice de importação de aço pelo Brasil pode minar a indústria nacional, alertou o CEO da Gerdau no Brasil, Gustavo Werneck, nesta sexta-feira (31). Segundo o executivo, muitas empresas já operam no prejuízo e não conseguirão se manter por muito tempo caso o governo federal não adote medidas. Apesar disso, as perspectivas para o próximo ano são positivas.
De acordo com Werneck, as empresas não conseguem operar “no vermelho” por muito mais tempo e estão perdendo o fôlego, o que coloca em risco a continuidade das operações no País. “Se não houver uma redução significativa na entrada de produtos importados no Brasil, será impossível que as siderúrgicas sobrevivam. Elas podem desaparecer”, alertou.
No caso da Gerdau, o executivo afirmou que o desempenho na América do Norte continua sendo o principal motor de crescimento da companhia, impulsionado por uma demanda interna resiliente.
“A redução das importações na América do Norte, resultado direto das medidas protetivas adotadas durante o governo Donald Trump, fez com que nossos volumes totais crescessem tanto na comparação trimestral quanto na anual, registrando alta superior a 10%. Além disso, o segmento América do Norte alcançou participação recorde em nossos resultados, representando 65% do Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] consolidado no período”, afirmou.
No Brasil, segundo Werneck, o mercado segue impactado pela entrada excessiva de aço importado. “A taxa de penetração das importações permanece acima de 6 milhões de toneladas em 2025, o que equivale a quase 30% das vendas internas, reforçando a necessidade urgente de medidas efetivas de defesa comercial da indústria brasileira do aço e dos empregos nacionais”, completou.
O alto nível de importações de aço já levou à demissão de 1,5 mil colaboradores da Gerdau no Brasil entre janeiro e julho deste ano, além do fechamento de plantas em Barão de Cocais, em Minas Gerais, e Mogi das Cruzes, em São Paulo. A situação também fez a empresa anunciar a redução de 22% nos investimentos previstos para o próximo ano.
Ainda segundo Gustavo Werneck, a empresa decidiu antecipar o anúncio de investimento em respeito aos públicos com os quais se relaciona, para deixar claras suas preocupações quanto ao futuro das operações no Brasil.
“Não faz sentido manter investimentos elevados se não encontrarmos um ambiente de competição adequado. Não queremos pressionar o governo, mas essa é a realidade do mercado. Só investimos se houver cliente”, afirmou Werneck.
Perspectivas para 2026 são positivas
No entanto, as perspectivas da empresa permanecem positivas para 2026. Segundo Werneck, há uma sensibilidade maior do governo federal para o tema e ações mais concretas em apoio à indústria nacional. A visão é compartilhada pelo CFO da Gerdau, Rafael Japur: “Há um avanço técnico na questão. O governo federal tem visitado as empresas, coletado dados e se aprofundado nas análises para avançar nas investigações — algo que não acontecia anteriormente”.
Para o CEO da Gerdau, o cenário ideal é aquele em que as condições de competição voltem a ser equilibradas. “As medidas antidumping deveriam reduzir o patamar de importações de 30% para 10%. Assim, teríamos novamente uma competição leal e isonômica, que permitiria a empresas como a nossa voltar a investir”, afirmou.
Outro fator que torna a empresa mais otimista para 2026 é a perspectiva de crescimento dos setores industriais — especialmente o automotivo — e a estabilidade na construção civil.
Resultados da Gerdau no terceiro trimestre
No terceiro trimestre, a Gerdau registrou lucro líquido ajustado de R$ 1,09 bilhão, alta de 26% em relação ao trimestre anterior, mas queda de 23,9% frente ao mesmo período de 2024.
O Ebitda ajustado foi de R$ 2,7 bilhões, 6,9% superior ao do segundo trimestre, mas 9,2% inferior ao mesmo período de 2024. Já as vendas de aço alcançaram 3 milhões de toneladas, alta de 9,3% sobre o trimestre anterior e de 9% em relação a 2024. No Brasil, as comercializações cresceram 16,6% em relação ao segundo trimestre, impulsionadas pelo aumento das exportações e das vendas no mercado interno.
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