Economia

Inadimplência aumenta 5,81% em Belo Horizonte

Impulsionadas pelos juros, dívidas avançam 1,2% por mês desde dezembro de 2022
Inadimplência aumenta 5,81% em Belo Horizonte
Foto: Alessandro Carvalho

A inadimplência entre os moradores da capital mineira apresentou crescimento de 5,81% em maio deste ano, segundo levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), feito com base nos dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Em maio do  ano passado, o incremento foi de 4,83%. Na comparação de maio frente ao mês de abril do mesmo ano, o avanço foi de 1,96%. 

A inadimplência vem apresentando alta desde janeiro de 2022, conforme a entidade, com picos nos meses de agosto e setembro do ano passado. “A alta taxa de juros e o endividamento provocado pela pandemia têm dificultado a negociação das dívidas das famílias. Fora isso, ainda estamos em um cenário inflacionário que, além de corroer o poder de compra, também reduz a capacidade de pagamento. Esses são os principais fatores que estão impulsionando a inadimplência”, diz a economista da CDL/BH, Ana Paula Bastos.

De acordo com a entidade, o valor médio da dívida em Belo Horizonte chegou a R$ 4.558,37 no quinto mês de 2023, cerca de 3,5 salários mínimos, e vem crescendo 1,2% mensalmente, desde dezembro de 2022, quando a média era de R$ 4.283,69.  

A economista afirma que todo cenário de inadimplência é preocupante, já que ela retira as pessoas do mercado de consumo, o que reduz a circulação de renda e geração de empregos. “Mas ainda que a inadimplência tenha avançado, os programas de renegociação de dívidas sinalizam um arrefecimento em médio e longo prazos”, observa.

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A presidente do Conselho Regional de Economia – 10ª Região – Minas Gerais (Corecon-MG),  Valquíria Assis, também avalia a situação como preocupante. “O fato de o valor médio das dívidas estar crescendo mensalmente indica que as pessoas estão tendo dificuldades em honrar seus compromissos financeiros. Além disso, é possível que os juros altos e a inflação  tenham contribuído para o aumento da inadimplência em Belo Horizonte”, diz.

Ela acrescenta que as taxas de juros elevadas tornam mais difícil para as pessoas pagarem suas dívidas, especialmente quando combinadas com uma renda que está sendo corroída pela inflação.

Para o professor e coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Estácio Venda Nova, Alisson Batista, os dados servem de alerta para o crédito. “Nacionalmente tem-se observado este aumento. O levantamento de abril de 2023, realizado pela Serasa, indica que o Brasil conta com 71,44 milhões de pessoas em situação de inadimplência. Cerca de 80% das famílias estão endividadas”, diz.

Ele observa que endividamento sadio, ou seja, aquele que não compromete as finanças familiares, não é alarmante. Dessa forma, um financiamento imobiliário já previsto dentro do orçamento, não é motivo para preocupação. “Contudo, temos que ficar atentos para as dívidas com juros altos, sobretudo de curto prazo, como cartão de crédito com pagamento rotativo e cheque especial”, alerta.

Idosos têm a maior taxa de inadimplência

O levantamento da CDL/BH mostra que a faixa etária entre 65 e 95 anos é a que apresenta a maior taxa de inadimplência (15,81%) em maio. A redução da renda por conta do valor da aposentadoria e as despesas mais altas com saúde favorecem o endividamento.

Já os jovens entre 18 e 24 anos são a faixa populacional com menor inadimplência (-1,68%). “Esse grupo ocupou as principais vagas de emprego geradas nos últimos meses, tiveram sua renda aumentada e, com isso, conseguiram honrar com os compromissos financeiros”, observa o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva. 

Na análise por gênero, as mulheres estão mais inadimplentes (5,41%) que os homens (3,48%). O motivo, segundo o levantamento da CDL/BH, é que a taxa de desemprego entre o gênero feminino é superior ao masculino.

No quarto trimestre de 2022 o índice de desemprego entre elas foi de 9% e, entre eles, de 5,7%. Além disso, outro fator que influencia no aumento da inadimplência entre as mulheres é a disparidade salarial entre os sexos. Enquanto o salário médio dos homens é de R$ 4.225, as mulheres recebem R$ 3.221, uma diferença de 36,25%.  

Ainda conforme a pesquisa, o número de dívidas por CPF também vem aumentando em Belo Horizonte. Desde janeiro do ano passado, os números do SPC Brasil revelam uma ascendência. Em maio, o indicador ficou em 17,1%. No mesmo mês de 2022, o índice era de 7,2%. 

“Um CPF é registrado somente uma vez na base de inadimplentes. O que varia é o volume de dívidas, ou seja, o valor devido, e o número de contratos em atraso. Um CPF pode ter, por exemplo, uma única dívida de R$ 5 mil, e outro CPF possuir cinco dívidas de mil reais cada. Neste caso, ambos teriam o mesmo volume de dívidas, mas número de contratos em atraso diferente”, explica Ana Paula Bastos. 

De acordo com ela, esse aumento está atrelado ao período de instabilidade econômica ocasionado pela pandemia. “Nesse cenário, marcado por recessão e desemprego, as pessoas enfrentaram dificuldade para quitar as contas básicas, como água, luz, aluguel, gás, e precisaram recorrer às linhas de crédito, o que ocasionou um endividamento excessivo”, diz. 

Consumidor deve ficar atento aos gastos

Para evitar a inadimplência é essencial planejar o uso da renda, alerta a economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Ana Paula Bastos. “É fundamental que as pessoas avaliem sua situação financeira, consumam com consciência e avaliem os pagamentos a prazo. Muitas vezes, nas compras parceladas, o consumidor não se atenta ao impacto do valor no orçamento e acaba comprometendo sua renda”, observa.

Ela destaca que a falta de planejamento financeiro em um cenário de alta inflação e juros elevados pode ser o estopim para uma crise financeira. A economista aconselha que os devedores devem procurar quitar, em primeiro lugar, as contas essenciais e aquelas com maior incidência de juros, como o cartão de crédito, por exemplo. 

A presidente do Conselho Regional de Economia – 10ª Região – Minas Gerais (Corecon-MG), Valquíria Assis, destaca que cada devedor tem a sua realidade, o que deve ser levada em conta na hora de definir as estratégias para sair da situação de inadimplência, uma delas é a renegociação de dívidas. “Instituições financeiras e credores podem oferecer opções de renegociação de dívidas, como redução de juros, alongamento do prazo de pagamento ou descontos em parcelas em atraso. Isso pode facilitar o pagamento das dívidas e ajudar as pessoas a recuperarem sua saúde financeira”, diz.

Ela também aconselha analisar a possibilidade do programa do governo Desenrola Brasil, lançado no último dia 5 e que tem como objetivo a renegociação de dívidas de pessoas físicas. Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco já informaram que entrarão no programa, que deve começar em julho. Caixa Econômica Federal, Mercantil e Banrisul divulgaram que aguardam a regulamentação da medida, a ser publicada pelo Ministério da Fazenda nos próximos dias.

O professor e coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Estácio Venda Nova, Alisson Batista, alerta que datas comemorativas tendem a fomentar o consumo, o que pode contribuir para a inadimplência. Ele destaca que duas importantes datas para o varejo foram comemoradas recentemente, num curto espaço de tempo: Dia das Mães e Dia dos Namorados. “Uma conscientização é necessária, bem como revisar as despesas, analisar as prioridades e balancear as finanças familiares”, diz.

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