Inadimplência avança na Capital puxada por juros e inflação

Nos últimos seis meses, o percentual de famílias endividadas em Belo Horizonte cresceu 14,4 pontos e atingiu 82,1%. Mas, embora essa dinâmica movimente a economia, o endividamento associado à inadimplência traz preocupação tanto a quem compra quanto a quem vende.
Atualmente, 35,9% dos consumidores possuem contas em atraso na capital mineira, ante 35,2% em junho. É o que mostra a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG).
A alta da inflação – que avançou 0,71% em julho na Região Metropolitana de Belo Horizonte – e os reajustes na taxa Selic (5,25%) – que encareceram os juros no País – contribuíram para o crescimento da inadimplência na Capital.
De acordo com a pesquisa, o cartão de crédito segue como a modalidade mais usada pelos belo-horizontinos. Em julho, 81,9% dos entrevistados tinham dívidas com o cartão de crédito. Conforme dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a modalidade possui um dos maiores juros praticados no mercado (em média, 250,22% ao ano, no crédito rotativo).
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Boletos atrasados e juros a perder de vista tiram o sonho de quem está devendo. Mas, apesar da “tormenta”, o endividamento é avaliado como “positivo” para o setor econômico. Segundo a economista da Fecomércio-MG, Gabriela Martins, o endividamento não é ruim para o comércio nem para a economia.
“Na verdade o endividamento é positivo para o comércio. Quando o consumidor tem acesso ao crédito e busca o endividamento, isso se torna um processo positivo para a economia, visto que há um aumento no consumo, através do uso do crédito. O grande problema está no aumento da inadimplência, que é ruim. Quando aumenta a inadimplência, as pessoas passam a não ter acesso ao crédito e quando isso acontece, ela tem o consumo restrito e o menor consumo afeta negativamente toda a economia”, explica.
A economista Gabriela Martins alerta que a inflação em alta acelera o processo de endividamento e inadimplência das pessoas. “O aumento da inflação faz com que as pessoas tenham menor poder de compra e, como temos acompanhado, está havendo um aumento de preços justamente nos bens essenciais como os combustíveis, os alimentos e agora também na energia elétrica. São produtos que as pessoas não podem deixar de consumir porque são bens essenciais e levam as pessoas que têm uma redução da renda e do poder de compra a buscarem o crédito para manter seu consumo básico ideal”, esclarece.
A economista afirma que complementar a renda por meio de crédito é um risco alto e que se não houver um planejamento familiar rigoroso, o endividamento poderá se tornar uma inadimplência.
Renda comprometida
Em julho deste ano, cerca de 82,1% dos belo-horizontinos estavam com dívidas com cartões de créditos, boleto, carnê, financiamento de automóveis e imobiliários, cheque especial e crédito pessoal.
Além disso, a pesquisa mostra que os consumidores comprometem 31% da renda com dívidas e o tempo médio para regularização das dívidas é de seis meses e meio. “As famílias devem ficar atentas e organizarem as dívidas. Dar preferência a pagar as dívidas com os juros mais altos e não perder o controle para não transformar em inadimplência”, pontua Gabriela Martins.
A economista da Fecomércio reforça que o endividamento não compromete o comércio. “Apesar das famílias estarem endividadas, elas ainda têm acesso ao crédito e estão consumindo. O problema está diretamente ligado à inadimplência, quando esse acesso ao crédito é interrompido e o poder de consumo não é mais possível”.
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