Inadimplência sobe e endividamento cai em Belo Horizonte no mês de agosto

O número de consumidores com contas em atraso em Belo Horizonte cresceu novamente. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) aponta que, em agosto, 59,9% dos entrevistados declararam possuir algum compromisso financeiro em atraso, resultado 2,2 pontos percentuais maior ao observado em julho (57,7%).
De maneira detalhada, no caso de famílias com renda igual ou inferior a dez salários-mínimos, o índice chegou a 61,8%, enquanto, para famílias com renda acima desse patamar, o indicador ficou em 49%. O levantamento foi conduzido pelo Núcleo de Estudos Econômicos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), com dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Já o número de pessoas que não conseguirão pagar seus compromissos financeiros voltou a cair em Belo Horizonte. Em agosto, 19,8% dos entrevistados declararam não ter condições de quitar suas dívidas, frente a 20,2% em julho. No período, cerca de 30,5% do orçamento mensal das famílias estava comprometido.
O principal compromisso financeiro assumido pelos consumidores da capital mineira é o cartão de crédito. Em agosto, 96,7% das famílias da cidade comprometeram suas rendas com essa modalidade de pagamento. Para grupos familiares que ganham acima de dez salários-mínimos, o levantamento aponta que 98,8% estão endividados no cartão. Já entre consumidores com rendimentos abaixo de dez salários, a proporção é de 96,3%.
O levantamento indicou uma convergência nos tipos de endividamento entre diferentes faixas de renda em Belo Horizonte. Tanto para famílias que recebem até dez salários quanto para consumidores com renda superior a esse patamar, a principal dívida após o cartão de crédito são os carnês.
A modalidade de pagamento foi citada como a dívida mais importante por 27,7% dos entrevistados na primeira faixa de renda e por 22,4% dos respondentes mais abastados, que tradicionalmente costumam citar o financiamento de veículos nesse quesito.
Endividamento recua em Belo Horizonte
O endividamento das famílias de Belo Horizonte recuou levemente em agosto. No oitavo mês do ano, 88,2% dos consumidores da capital mineira estavam endividados, resultado 0,2 ponto percentual a menos que o observado em julho.
A pesquisa sobre endividamento e inadimplência também mostrou que as dívidas estão atrasadas, em média, há 58,4 dias na Capital. A maior parte (40,8%) das famílias com renda até dez salários está com contas atrasadas acima de 90 dias. Outros 30,6% têm débitos atrasados entre 30 e 90 dias, enquanto 28,5% das famílias dessa faixa de renda têm contas pendentes em até 30 dias.
Já entre as famílias com renda superior a dez salários, a maior parte (40%) tem pagamentos com atraso de 30 a 90 dias, enquanto 34,5% estão com atrasos de até 30 dias nas contas. Para 25,5% das famílias mais abastadas, o atraso é superior a 90 dias.
Crédito caro, bolso vazio
A economista da Fecomércio MG, Fernanda Gonçalves, aponta que a queda no endividamento indica que os consumidores belo-horizontinos estão mais cautelosos em relação ao crédito, hoje mais oneroso em tempos de taxa básica de juros (Selic) historicamente elevada, já que os atuais 15% ao ano representam o maior patamar desde julho de 2006.
Ao mesmo tempo, a Selic, aliada à alta geral do custo de vida, forma um caminho para a inadimplência, já que as famílias enfrentam mais dificuldades para manter as contas em dia. “A taxa de juros alta dificulta o acesso ao crédito e, somada às condições de vida – com necessidades básicas a preços elevados – compromete o poder de compra”, disse.
Ela destaca que, neste cenário, o cartão de crédito se torna o “vilão”, já que é utilizado para despesas cotidianas cada vez maiores, como alimentação, o que leva muitos consumidores a parcelarem as faturas. O parcelamento encarece as dívidas do cartão de crédito, que, atreladas à Selic elevada, ficam com juros ainda maiores, reduzindo mais o poder de compra.
Assim, gera-se um efeito em cadeia que prejudica o poder aquisitivo da população como um todo, mesmo em um cenário de inflação relativamente estabilizada. “Mesmo que a inflação esteja nesse nível (controlada), ainda persistem as consequências das taxas de juros, inclusive relacionadas ao cartão de crédito, que atingem os consumidores”, analisa Fernanda Gonçalves.
Retrato da inadimplência em BH (agosto/2024)
- 59,9% das famílias com contas em atraso
- Atraso médio: 58,4 dias
Até 10 salários-mínimos
- 61,8% inadimplentes
- 40,8% com atraso acima de 90 dias
Acima de 10 salários-mínimos
- 49% inadimplentes
- 40% com atraso entre 30 e 90 dias
Cartão de crédito – principal dívida
- 96,7% das famílias
- 98,8% (acima de 10 salários)
- 96,3% (até 10 salários)
Carnês – segunda dívida mais citada
- 27,7% (até 10 salários)
- 22,4% (acima de 10 salários)
Endividamento geral: 88,2% (queda de 0,2 p.p. frente a julho)
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