Influenciada pela alta taxa de juros, inadimplência sobe em Belo Horizonte

A inadimplência entre os consumidores de Belo Horizonte cresceu 2,81% em maio deste ano na comparação ao mesmo mês de 2024, quando o índice era de 0,46%. De acordo com levantamento feito pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), essa alta no cadastro de negativados ocorre devido a fatores como:
- a taxa de juros elevada,
- a inflação,
- a priorização de contas básicas por parte dos consumidores
- e o uso intensivo do cartão de crédito.
O presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva, destaca que o mês de maio registrou o maior aumento anual da inadimplência de pessoa física na capital mineira nos últimos 12 meses. “Infelizmente, isso indica um período de fragilidade na economia após uma fase de recuperação ao longo do segundo semestre de 2024”, avalia.
Ele também explica que a dificuldade em quitar dívidas já existentes levou ao aumento do percentual de inadimplentes em Belo Horizonte, refletindo um cenário econômico desafiador para as famílias na Capital. O estudo mostra que o valor médio das dívidas dos belo-horizontinos está em R$ 5.352,79, o que representa um crescimento de 1,19% em relação ao registrado no mês anterior (R$ 5.289,70).
O dirigente ainda destaca que o encarecimento do custo de vida faz com que muitos consumidores priorizem o pagamento de contas básicas e recorram de forma intensiva ao cartão de crédito. Segundo Souza e Silva, essa modalidade possui as taxas de juros mais altas do mercado, o que agrava ainda mais o endividamento e a inadimplência.
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Na divisão por gênero, os homens registraram contas em atraso com valor médio de R$ 5.621,98. Esse montante é 5,63% superior ao apresentado pelas mulheres (R$ 5.305,48). No entanto, elas são as principais inadimplentes, representando 46,85% do cadastro de negativados, enquanto os homens representam 43,81%.
O presidente da CDL/BH explica que esse cenário pode ser explicado por diferenças estruturais no perfil de consumo, renda e acesso ao crédito entre os gêneros. Segundo ele, os homens tendem a assumir compromissos financeiros de maior valor, refletindo-se em valores médios da dívida mais elevados. Já as mulheres ainda enfrentam desigualdade salarial e maior informalidade, o que limita a capacidade de pagamento e aumenta a exposição à inadimplência.
“Além disso, muitas vezes elas são responsáveis pelo orçamento familiar, o que as torna mais suscetíveis a atrasos em situações de aperto financeiro. Assim, o maior número de registros entre mulheres e o valor médio mais alto entre homens refletem padrões distintos de endividamento e vulnerabilidade financeira entre os gêneros”, acrescenta.
Já na divisão por idade, o grupo etário entre 40 e 64 anos é o mais inadimplente (46,04%), seguido por aqueles com 25 a 39 anos de idade (31,63%), acima de 65 anos (18,36%) e entre 18 e 24 anos de idade (3,72%). O valor médio de dívidas (na soma de todas as dívidas) por faixa etária é:
- 18 a 24 anos – R$ 3.491,76;
- 25 a 29 anos – R$ 5.307,94;
- 30 a 39 anos – R$ 6.364,70;
- 40 a 49 anos – R$ 6.095,67;
- 50 a 64 anos – R$ 5.158,25;
- 65 a 84 anos – R$ 4.266,88;
- 85 a 94 anos – R$ 2.652,37;
- acima de 95 anos – R$ 1.789,73.
Souza e Silva explica que as faixas etárias mais jovens, assim como as pessoas mais idosas, apresentaram níveis reduzidos de inadimplência, refletindo tanto uma menor exposição ao crédito quanto menor capacidade ou necessidade de endividamento.
Quanto à evolução de dívidas em atraso, ou seja, total de registros de contas não pagas, o crescimento foi de 7,64% na variação anual. Isso corresponde a um aumento de 1,98 ponto percentual (p.p.) em relação a abril deste ano, sendo esta a maior alta mensal de 2025.
Inadimplência também cresce entre as empresas de Belo Horizonte

A pesquisa realizada pela CDL/BH também aponta para um aumento no cadastro de pessoas jurídicas inadimplentes em maio deste ano. O indicador de empresas inadimplentes subiu 7,85% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Essa é a maior alta nos últimos dois anos na capital mineira.
De acordo com Souza e Silva, esse avanço pode ser atribuído a uma combinação de fatores macroeconômicos e setoriais. Dentre eles, o especialista destaca o cenário de juros elevados e crédito mais restrito, que impacta a capacidade de pagamento de empresas, elevando o número de inadimplentes.
Para as empresas, especialmente no setor de serviços, o aumento dos custos operacionais e a dificuldade em acessar capital de giro também contribuíram para o avanço das dívidas em atraso. Esse ambiente de restrição de crédito, custos elevados e perda de renda resultou em maior fragilidade financeira, levando tanto famílias quanto negócios a atrasarem pagamentos e, consequentemente, elevando os índices de inadimplência na capital mineira.
Porém, apesar do crescimento da inadimplência entre as empresas de Belo Horizonte, o índice da cidade está em um nível melhor que o observado na média nacional (9,42%), em Minas Gerais (9,81%) e na região Sudeste do Brasil (8,19%).
Para a entidade, o aumento de empresas negativadas reflete as pressões enfrentadas pelo setor produtivo diante de um cenário macroeconômico adverso. “A elevação da Selic tem encarecido o crédito e dificultado o acesso ao capital de giro. Isso não permite uma redução do custo operacional e afeta a capacidade de pagamento das empresas”, explica Souza e Silva.
Segundo ele, esse ambiente de restrição de crédito, custos elevados e perda de renda resultou em maior fragilidade financeira, levando tanto famílias quanto negócios a atrasar pagamentos e, consequentemente, elevando os índices de inadimplência na capital mineira.
O valor médio devido pelas empresas belo-horizontinas foi de R$ 5.717,98 no mês passado. Dentre os diferentes segmentos analisados, o maior número de negativações concentrou-se no setor de serviços, com 50,33% das pessoas jurídicas negativadas. Em seguida, aparecem:
- comércio (27,40%);
- indústria (6,01%);
- agricultura (0,12%).
As contas em atraso das empresas concentram-se especialmente em:
- comércio (0,52%);
- serviços de comunicação (10,34%);
- bancos (7,98%);
- água e luz (1,42%).
Souza e Silva explica que a trajetória da inadimplência de pessoas jurídicas (PJ) e pessoas físicas (PF) em Belo Horizonte apresenta um comportamento cíclico semelhante ao longo dos últimos anos. Em ambos os casos, as carteiras alternam momentos de alta e queda, respondendo a dinâmicas macroeconômicas vigentes.
“Por outro lado, percebe-se que a inadimplência das empresas apresenta maior volatilidade e oscilações mais acentuadas, enquanto a inadimplência das pessoas físicas costuma variar de maneira mais gradual”, pontua.
Um exemplo citado pelo dirigente é de quando há aumento de custos ou redução nas vendas. Ele relata que, nesse caso, as empresas sentem o impacto mais rapidamente, o que faz com que a inadimplência cresça de forma mais acentuada nesse grupo em comparação aos consumidores.
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