Economia

Incentivos para fontes intermitentes desequilibram setor de energia

Subsídios concedidos para usinas solares e eólicas geram desequilíbrio e ameaçam afetar a estabilidade do sistema nacional, alerta entidade
Incentivos para fontes intermitentes desequilibram setor de energia
Crédito: Marcos Santos / USP Imagens

As profundas transformações que o setor de energia elétrica brasileiro tem passado, nos últimos anos, levantam debates sobre os desafios de manter a estabilidade do sistema. Uma dessas discussões está relacionada às alegações de inversão de fluxo e aos cortes de geração do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para fontes de energia intermitentes, como nas usinas solares e eólicas.

Para a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), a retirada ou redução dos incentivos fiscais para fontes de energia solar e eólica podem reequilibrar o sistema elétrico e até diminuir a conta de luz de consumidores e empresas.

Além disso, o Estado e o País enfrentam um novo desafio que tem sido cada vez maior: os eventos climáticos extremos, que afetam o fornecimento da eletricidade seja pelo lado da geração, com longas estiagens que afetam os reservatórios das hidrelétricas, quanto por fortes ventos e enchentes, que causam danos na rede de distribuição.

Para o presidente da Abradee, Marcos Madureira, as fontes de energia renováveis intermitentes têm, atualmente, incentivos considerados elevados para o patamar de desenvolvimento que os segmentos já alcançaram, o que resulta num alto custo assumido pelos demais consumidores para bancar os subsídios. Segundo ele, cerca de 5,8% da conta de luz da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é destinada para o subsídio ao setor de geração distribuída (GD).

Marcos Madureira
Marcos Madureira aponta distorções no mercado nacional de energia | Crédito: Divulgação Abradee

Esses incentivos criam distorções no mercado de energia brasileiro, com investimentos que geram uma rentabilidade muito acima da média em comparação a outros segmentos do setor elétrico com maiores custos. “Isso termina incentivando que você coloque mais e mais geração (de fontes intermitentes). É importante você ter uma geração renovável, mas é importante também que você faça isso dentro de um equilíbrio no sistema”, avalia Madureira.

O presidente-executivo da entidade, que é engenheiro eletricista, aponta que nem toda a inversão de fluxo causa problemas na rede de distribuição, desde que tenha um ponto de consumo próximo ao grande volume de energia injetada na rede, que seja suficiente para absorver o volume injetado.

No caso de Minas Gerais, a maior parte da energia solar é gerada no Norte do Estado, região que está longe de ser uma das maiores consumidoras de eletricidade no território mineiro. “Tem um volume grande de energia sendo injetado em redes que não foram preparadas para isso. Essas redes foram pagas inclusive pelos consumidores de energia elétrica nas tarifas de energia. Aquilo traz alguns problemas”, analisa Madureira.

Além da redução dos incentivos para fontes de energia solar e eólica para reequilibrar os investimentos no setor de energia, uma outra alternativa para enfrentar as inversões de fluxo e os cortes de geração, segundo o presidente da Abradee, é o investimento em armazenamento de energia.

Eventos climáticos extremos desafiam distribuição de energia

Para os próximos anos, o setor de distribuição de energia elétrica tem pela frente um processo de renovação de concessões para cerca de 19 distribuidoras que, juntas, representam mais de 60% do mercado. O presidente da Abradee afirma que a antecipação das renovações é fundamental para o setor ter mais previsibilidade para poder garantir mais investimentos.

Além disso, Madureira alerta que os eventos climáticos extremos desafiam as empresas de distribuição a ter cada vez mais preparo, sobretudo para atendimento de emergência. “Isso pressupõe melhorar a capacidade de previsibilidade. Precisamos cada vez mais ter uma melhor rede não só de dados, mas de análise de dados, para melhorar a nossa capacidade de prever onde e em que intensidade determinados eventos climáticos vão ocorrer”, argumenta.

Uma das medidas adotadas nos últimos anos, vista recentemente nas enchentes no Rio Grande do Sul, é o compartilhamento de estruturas entre as empresas do setor. A Cemig, por exemplo, enviou à distribuidora local equipamentos, veículos e equipe para auxílio durante a catástrofe.

Os efeitos das alterações climáticas no setor de energia estarão na pauta de discussões do Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica (Sendi 2025), organizado pela Abradee, entre os dias 27 e 30 de maio no Expominas, em Belo Horizonte.

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