Indústria calçadista eleva embarques com práticas ESG

A indústria calçadista mineira está otimista. Depois de começar o ano levando um susto com a variante Ômicron e com o aumento dos insumos, o setor comemora a recuperação do mercado interno e o aumento das exportações. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados do Estado de Minas Gerais (Sindicalçados), Luiz Barcelos, dois fatores impulsionam essa reconquista do mercado externo pelos calçados brasileiros.
O primeiro é a necessidade de diversificar fornecedores por parte dos maiores importadores, Estados Unidos e Europa, até então muito dependentes da China.
Também conspira a favor do produto brasileiro a crescente exigência, por parte dos clientes, das práticas de ESG. A indústria brasileira de calçados, segundo Barcelos, respeita mais as regras de meio ambiente e condições de trabalho.
O primeiro trimestre, porém, foi difícil, diz Barcelos. “Todos os insumos subiram, couro, embalagem, borracha, material químico. O principal deles, o couro, que responde por 30% do valor final de um sapato, praticamente dobrou de preço”, conta o dirigente. Além de “rezar”, brinca Barcelos, o remédio foi buscar novos fornecedores, melhorar a eficiência e fortalecer parceiros tradicionais.
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Outra adversidade foi o surto da variante Ômicron da Covid. A grande quantidade de casos levou para casa funcionários de calçadistas e fornecedores, provocando um atraso geral na cadeia de produção. “A demanda está relativamente boa, mas poderíamos ter produzido mais e vendido mais”, lamentou.
Ele calcula que, em 2021, o setor recuperou 80% da demanda de 2019, puxada tanto pelo mercado interno – já que os brasileiros largaram os chinelos em casa e voltaram às ruas calçados – quanto pelo mercado externo.
Vendas externas
As exportações de sapatos tiveram uma recuperação expressiva em 2021. Foram embarcados 123,6 milhões de pares, que geraram US$ 900,3 milhões em receita – resultados 32% maiores em volume e 36,8% em valores na comparação com 2020.
Quando comparada à de 2019, a receita ainda foi 7,4% menor e o volume 7,3% maior, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Apesar de o maior exportador brasileiro ser o Rio Grande do Sul, Minas, que responde por 18,1% das indústrias calçadistas nacionais, também pôde se beneficiar.
“A exportação voltou com toda força, em especial por parte de americanos e europeus, os principais compradores. O frete chinês aumentou e os importadores, muito dependentes da produção chinesa, resolveram diversificar os fornecedores”, explica Barcelos.
“O Brasil já foi grande exportador de calçados, deixou de ser porque a China tomou o mercado e eu acredito que vai voltar a ser”, completa. Para se ter uma ideia, nove em cada dez pares de sapatos são fabricados no continente asiático, em especial na China e na Índia.
Práticas ESG
Também concorrem para uma possível recuperação de mercado externo pelo Brasil as crescentes exigências das práticas de ESG – a governança social, ambiental e corporativa que avalia como uma corporação trabalha objetivos sociais além do lucro de seus acionistas. “As marcas estão atentas a isso e o Brasil respeita mais as regras. Este pode ser o nosso grande diferencial”, anunciou Barcelos.
Para ele, o conflito entre Rússia e Ucrânia não vai afetar tanto o setor, a não ser que se prolongue excessivamente. Afinal, se o mundo parar de crescer, todos podem ser prejudicados. A retomada pós-Covid pode, no entanto, trazer uma má notícia para o setor calçadista nacional. “As pessoas vão voltar a viajar, o que pode desaquecer o mercado interno, já que voltam a ter oportunidade de comprar fora”, disse.
Mas o que pode assustar mesmo o consumidor nacional é o preço dos sapatos que, em 2022, estão entre 30% e 40% mais caros do que em 2021. Quando comparados a 2019, os preços dobraram. Mas parece que esse fator não prejudicará as encomendas para a próxima estação.
O Minas Trend mal começou e já mostrou que o mercado tem apetite por bons sapatos no verão. “O primeiro dia foi muito bom, estou muito otimista. A gente tem condição de, descontada a inflação, não só voltar aos níveis de 2019 como, impulsionado pelas exportações, mas de superar e melhorar ainda mais os números da indústria calçadista brasileira”, garantiu o representante.
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