Indústria da panificação teme nova alta nos preços do trigo

Passados dois meses do início da guerra na Ucrânia, o mercado do trigo e aquelas atividades que dependem da commodity já começam a perceber a estabilização dos preços do insumo, reajustados, principalmente, no início de março. No entanto, novas preocupações surgem: a safra nos Estados Unidos, que foi aquém das expectativas devido ao clima, e uma possível demanda concentrada no insumo produzido na Argentina.
A análise do presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), Vinícius Dantas, considera que as altas relacionadas à guerra já foram contornadas, o que não significa, necessariamente, um respiro para as padarias. Somente neste ano, as panificadoras já sentiram uma alta de 20% do trigo, uma variação que pode subir com os resultados das safras atuais e do clima.
“Os preços que tinham que subir com a guerra já subiram. Mas agora nós tivemos notícias de que o clima nos Estados Unidos não foi favorável ao trigo. Isso nos preocupa porque ficamos só com o trigo que vem da Argentina. E essa é uma questão internacional: todos irão comprar o trigo de lá”, pontua Dantas em relação à preocupação do aumento da demanda naquele país pressionar os preços.
Hoje, conforme acrescenta Dantas, a maior parte do trigo utilizado no Brasil já é proveniente da Argentina. E, em alerta adicional, o presidente da Amipão destaca que os moinhos argentinos estão assumindo uma postura agressiva frente ao mercado e, ao invés de exportar o trigo, estão enviando a farinha de trigo pronta para a indústria. Apesar de isso não trazer impactos às padarias e indústrias, os moinhos brasileiros podem perder competitividade devido aos preços mais baixos praticados nos moinhos argentinos.
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Preços ao consumidor
Com a absorção de cerca de 20% de alta no insumo que é base para a indústria da panificação, o repasse aos consumidores chegou a 11%, ainda conforme os dados da Amipão. Contudo, a estabilização momentânea percebida no preço do trigo contribui para que o pão francês, por exemplo, não sofra novas altas. O pãozinho doce, porém, não deve permanecer com o mesmo preço. Ainda de acordo com Vinicius Dantas, a margarina, o leite e o ovo, ingredientes utilizados nas receitas para a fabricação do produto, são os novos alvos de altas nos preços.
“As margarinas subiram excessivamente e o leite também por conta do período. Com a chegada do frio, nós sabemos que o pasto não existe. E a alimentação para o gado fica mais cara com o consumo da soja e do milho. E o pão doce continua aumentando pelo reflexo dos preços dos ovos durante a quaresma”, aponta Dantas.
Diante dessa roda-gigante de preços e da inflação de itens como o leite, o comportamento do consumidor muda e incentiva estratégias das panificadoras. Na rede de padarias em que Vinicius Dantas está à frente como empresário, a Ping Pão, os clientes reduziram parte do consumo de pão francês. Mas ele acredita que por se tratar de um dos alimentos essenciais na mesa do consumidor, é possível incentivar o consumo com um ingrediente: a qualidade.
“Eu trabalho com um produto de destaque em qualidade no mercado. E o cliente considera que vale a pena pagar um pouco mais por um produto que também é um dos mais baratos na mesa do brasileiro”, afirma Dantas.
Além dos insumos diretamente relacionados à produção dos alimentos, outro material que impacta o preço é o papel, já que essa embalagem favorece a armazenagem dos pães.
Diante de todas as variáveis já apontadas, Vinicius acrescenta que é necessário encontrar um caminho para o equilíbrio dos preços, já que somente a correção de salários conforme a inflação não é suficiente para repassar a inflação dos insumos, sendo que todo o cenário econômico atual já chegou ao limite.
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