Indústria de bolsas prevê acentuar recuperação este ano

Não faltaram percalços durante a pandemia para o setor de bolsas. Aumento dos insumos, a alta do dólar, que fez o couro ir para o exterior junto com a carne, e as lojas fechadas foram alguns dos desafios enfrentados pelos “guerreiros” do setor, como define a empresária Vanessa Macintyre, da marca de bolsas La Spezia. “Quem produz no Brasil, produz em qualquer lugar do mundo. São tantas as variáveis econômicas que o empresário enfrenta, que ele se qualifica para vencer em qualquer lugar”, garante.
E olha que, em 2019, parecia que tudo ia melhorar, quando houve um aumento de 5% na venda de bolsas, impulsionada pela alta do dólar, que então desestimulava a importação de produtos asiáticos; a queda dos juros; e o que parecia a retomada de crescimento e emprego – um cenário que prometia dias melhores para os industriais do setor. Mas aí veio a pandemia e todas as expectativas tiveram que ser revistas.
De acordo com o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Bolsas e Cintos de Minas Gerais (Sindibolsas-MG), Celso Luiz Afonso da Silva, após sofrer muito durante a pandemia da Covid-19, o setor vem se recuperando. “Em 2021, tivemos um crescimento de 5% na produção, que ainda foi menor que antes da pandemia. Para 2022, a estimativa é de acentuar a recuperação e crescer o mesmo índice até o final do ano”, prevê o presidente. “Com a liberação dos espaços físicos ao longo de 2021, o volume de vendas no comércio apresentou um crescimento de 13,8% em relação a 2020”, informa.
Outro ponto de retomada foi a volta dos eventos presenciais, com feiras de lançamento da Coleção Outono-Inverno. Para a temporada Verão 22/23, o Minas Trend se consolidou como a primeira feira de lançamentos do Brasil. “A última edição, realizada em abril, foi mais enxuta, mas o mercado varejista se mostrou aquecido, o que estimulou o lojista a fazer compras antecipadamente”, aponta Afonso.
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Segundo o Sindibolsas-MG, o índice de preços ao produtor em 2021 acumulou alta de 24,3% e esses aumentos têm sido parcialmente incorporados aos preços dos produtos. “A elevação dos custos de insumos ou a falta deles, bem como a queda na demanda, foram os principais vetores que afetaram negativamente a recuperação das indústrias do nosso setor”, aponta Celso Afonso.
A dificuldade de contratação de trabalhadores, mão de obra cada vez mais escassa, continua sendo um problema para as empresas. “Os profissionais do setor são em grande parte pessoas de idade mais avançada, com muitos anos de chão de fábrica. As faixas mais jovens não se interessam por esse segmento profissional e não está em curso, portanto, uma renovação. Há fábricas com vagas, dispostas a treinar, mas não há candidatos”, lamenta Afonso.
Para o presidente do Sindibolsas, uma boa ajuda para o setor neste momento vem com o apoio às empresas na inovação para seu modelo de negócio, melhorando sua produtividade, qualidade e sustentabilidade. Um esforço que, segundo o dirigente, a Fiemg vem realizando com frequência, disponibilizando cursos e programas nessa direção.
Exemplo disso é o programa Fiemg Competitiva, que, segundo seu gestor, Tadeu Chaves Tolentino Neves, trabalha o desenvolvimento das indústrias de maneira geral, mas com olhar específico para cada setor e região. Um exemplo é o apoio que o programa deu às empresas de bolsas e calçados, preparando-as para participar de um salão de negócios, no caso o Minas Trend.
“Nós trabalhamos basicamente em três frentes: como preparar uma coleção e levar para uma feira; a produção com foco em modelagem; e a comercialização”, esclarece Neves. Também fizeram parte do programa um curso on-line de experiência do cliente, além de workshops de tendências do mercado e de marketing digital, fundamental após a pandemia.
Marketing digital
O investimento em ferramentas on-line foi o pulo do gato para empresários como Vanessa Macintyre. “Investi muito em marketing, equipamentos, catálogos, vídeos, todo o tipo de tecnologia disponível durante a pandemia. Acredito que quem soube se reinventar nesse período, até cresceu”, diz a empresária.
Até o início de 2020, 60% de sua produção tinham como destino o atacado; o resto se distribuía entre duas lojas próprias em Belo Horizonte e São Paulo e para o e-commerce. “Durante a pandemia, o atacado quase zerou e eu fiquei com um estoque enorme. Investi em um on-line bom, que cresceu muito neste período”, conta Vanessa.
Não quer dizer que tudo foi fácil. A empresária enfrentou uma constante falta de matéria-prima. De seis meses para cá, o couro aumentou, segundo ela, sete vezes, e passou de R$ 70 para R$ 95 o metro. A qualidade dos insumos também caiu, obrigando-a a devolver ferragens, por exemplo, para fornecedores que, depois de demitir, tiveram que mudar o quadro de funcionários.
Mas valeu a pena. Na comparação do primeiro trimestre de 2022 com o de 2021, as vendas da La Spezia aumentaram 10%, um aumento que se deu no atacado, informa Vanessa. Ela observa, no entanto, que o segmento atendido por sua marca, das classes A e B, sente pouco as adversidades econômicas do momento, como a inflação e a queda na renda.
“Meu público continua saindo, indo a muita festa, muito evento. Essas pessoas querem ser vistas, querem brilho e cor, na vida e na bolsa”, conclui.
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