Indústria de calçados não considera taxação suficiente para aumentar competitividade

Mais do que a taxação de 20% para as compras de até US$ 50 em sites estrangeiros, como as plataformas asiáticas Shein, Shopee e Aliexpress, o Brasil precisa de reformas estruturantes que possam aumentar a competitividade da indústria nacional, destaca o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados do Estado de Minas Gerais (Sindicalçados-MG), Luiz Raul Aleixo Barcelos.
“O Brasil não tem competitividade por uma série de entraves que o País possui, como a burocracia, a alta carga tributária e os altos custos sobre a folha. Falta competitividade na indústria calçadista e também na de confecção”, observa.
Para ele, a taxação das plataformas estrangeiras, em especial, as asiáticas, pode dar um fôlego ao setor, permitindo uma concorrência “um pouco menos desleal”, mas que não vai resolver o problema. “A taxação é importante neste momento como um paliativo”, analisa.
O dirigente defende que as reformas, com medidas que permitam que a indústria tenha mais competitividade, vão contribuir de fato para uma melhora de cenário para o setor.
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E foi nesta quinta-feira (27) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que cria a taxação das compras internacionais de até US$ 50, a chamada “taxa das blusinhas”, que deve começar a vigorar a partir do dia 1º de agosto. O governo vai encaminhar nos próximos dias uma medida provisória ao Congresso Nacional regulamentando a taxação.
Dessa forma, para os produtos mais baratos, a taxa de importação será de 20% sobre o valor e para itens acima de US$ 50, o imposto previsto é de 60%. Também foi criada uma faixa intermediária, entre US$ 50 e US$ 3.000, que terá um desconto de US$ 20 na taxação.
Indústria de calçados enfrenta concorrência desleal
O presidente do Sindicalçados-MG afirma que a atual concorrência desleal com os marketplaces chineses vem causando preocupação nas indústrias de calçados e de confecção, e também causa impactos negativos para os varejistas nacionais. “É um problema generalizado de toda a cadeia da moda”, destaca.
Ele conta que o setor de bolsas e acessórios passa por um cenário semelhante ao vivido pela indústria de calçados no Estado. O Sindicato Intermunicipal da Indústria de Bolsas e Cintos de Minas Gerais (Sindibolsas-MG) foi incorporado ao Sindicalçados-MG.
De acordo com Barcelos, as vendas da indústria calçadista do Estado registraram queda de aproximadamente 10% no acumulado dos cinco primeiros meses de 2024 frente ao mesmo intervalo do ano anterior.
O dirigente diz que espera um resultado melhor no segundo semestre do ano, já que o período é tradicionalmente mais aquecido na comparação com os seis primeiros meses do ano, em razão da coleção de verão e do impacto da data comemorativa mais importante do ano: o Natal. “A gente tem que tentar manter o otimismo”, diz.
Redução do mercado – A atividade conta com 993 indústrias no Estado, segundo os dados mais recentes (2022). Considerando a produção de calçados por unidades da Federação, Ceará, Rio Grande do Sul e a Paraíba se destacaram em 2023 como os três maiores produtores em termos de pares, com participação de mercado de 26%, 23,9% e 15,1%, respectivamente, conforme informações do relatório setorial 2024, da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Minas Gerais ocupou a quarta posição, com redução do market share, desde 2021 (15,9%). Em 2022, a participação passou 14,7% e no ano seguinte para 14,3%.
No País, a indústria calçadista encerrou o primeiro quadrimestre de 2024 empregando diretamente 288,28 mil pessoas, 4,9% menos do que em igual período do ano passado, conforme dados elaborados pela associação, que espera que a retomada do imposto de importação para remessas de até US$ 50 do e-commerce internacional, em 20%, deva ajudar na produção nacional, refletindo também no nível de emprego. Em Minas Gerais, segundo dados de 2023, a atividade empregava 29,2 mil pessoas.
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