Economia

Indústria de cimento no Brasil prevê crescimento de 0,8% para este ano

Porém, segmento registrou queda na demanda de 2,8% em 2022
Indústria de cimento no Brasil prevê crescimento de 0,8% para este ano
Estado tem destaque na indústria nacional e é o maior produtor de cimento | Crédito: Divulgação

As expectativas da indústria do cimento no Brasil para o ano de 2023 são de um crescimento na demanda de 0,8% frente ao ano anterior. Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), Paulo Camillo, este ano será de incertezas. Ele também destaca que o País deve ter um governo com uma postura voltada para a promoção dos investimentos em infraestrutura no país.

O presidente da entidade explica que esse ganho representa quase um terço do que foi perdido em 2022, quando o setor registrou uma queda na demanda de 2,8%. Portanto, o setor apresenta boas perspectivas para um futuro próximo com o início de uma recuperação.

Camillo ressalta que grande parte dessa expectativa está voltada à área habitacional, já que o país possui um déficit de seis milhões de unidades. O presidente do sindicato lembra que um dos grandes fatores para o aumento da demanda do cimento está sendo a retomada em moldes antigos do programa Minha Casa Minha Vida, “que praticamente deve ter obras no País inteiro”.

Outro fator responsável por esse clima de otimismo, segundo Camillo, é o crescente investimento em rodovias. Ele explica que, neste ano, deve haver um posicionamento governamental mais voltado à promoção de investimentos em infraestrutura. “O setor já está gerando cimento para implementar os grandes projetos de 2023 que começam a entrar em obra. Há um grande programa na área de transportes, seja rodoviário, ferroviário ou até fluvial, que está sendo desenvolvido para fazer frente a essa infraestrutura que o Brasil tanto precisa”, relata.

Dentre os tipos de pavimento, Camillo destaca o chamado pavimento rígido, feito de concreto, que já demonstrou ser muito mais eficiente – no ponto de vista de qualidade, durabilidade e de sustentabilidade ambiental – que o pavimento flexível (asfalto). Segundo o presidente do Snic, o pavimento rígido também vem sendo utilizado no setor privado para pavimentar ruas e avenidas de condomínios devido à eficiência e durabilidade. “Então, a utilização desse pavimento não só nas rodovias, mas também no pavimento urbano, é uma realidade que vem crescendo no Brasil e traz otimismo para a indústria, principalmente a partir dos últimos dois anos”, conta.

Camillo ainda lembra que boa parte do consumo de cimento no país, entre 2019 e 2021 – portanto, durante a pandemia – foi motivado pela vontade das pessoas em investir mais em suas residências, já que elas deixaram de ser apenas um local para a moradia e passaram a servir para o lazer e para o trabalho. O dirigente relembra que, após a segunda metade de 2021, quando houve uma redução do poder de compra e aumento da inflação, essa demanda da indústria do cimento caiu. “Então, o que a gente tem hoje é uma significativa redução das vendas na ponta do comércio da indústria do cimento, mas, por outro lado, temos obras residenciais, que também vêm gerando a maior demanda do setor”, destaca.

Ele conclui que essa indústria possui diversas frentes de trabalho que podem contribuir para a recuperação do vigor de antes, principalmente no período entre 2006 a 2014. Mas ressalta que o problema fiscal do Brasil pode ser considerado um fator preocupante, pois há dificuldade de o País investir recursos próprios. Outros pontos preocupantes são o endividamento das famílias, a alta taxa de juros e o desemprego.

Para Camillo, melhorar os salários e reduzir o nível de desemprego é necessário, pois é o que vai gerar renda para a população. Quanto ao endividamento das famílias, o presidente do Snic avalia que o País está “vivendo o pior momento de toda a série histórica”, o que prejudica de forma significativa a utilização dos recursos e também inviabiliza a disponibilidade deles para a realização de diversas obras e construções particulares. “O problema do endividamento é um problema importantíssimo que tem que ser superado, e vem prejudicando frontalmente o desempenho da atividade da construção civil”, reforça.

Outro fator que vem gerando dor de cabeça para a indústria do cimento e para o setor de construção é a guerra entre Rússia e Ucrânia, que vem onerando o custo dos insumos. Um dos exemplos é o preço do principal insumo utilizado na fabricação do cimento – o coque -, que registrou um aumento de mais de 90% nos últimos anos: elevação de 125% em 2020; de 98,2% em 2021, e de 3,1% em 2022.

Além do coque, outros insumos também têm apresentado preços inflacionados, como o gesso (+96% em 2021 e +11% em 2022) e refratário, que é o sistema de tijolos usado para proteger o forno do cimento, (+40% em 2021 e +70% em 2022). Também houve um aumento no custo do frete rodoviário (+28% em 2021 e +34% em 2022). “A indústria vem sofrendo uma pressão brutal de custos que vem onerando significativamente o insumo e vem comprometendo a rentabilidade dessa indústria”, relata.

Em contrapartida, a indústria do cimento já vem adotando um programa que tem como objetivo a substituição de insumos como o coque por produtos alternativos como sobras de plásticos e biomassas (cavaco de madeira, palha de arroz, caroço de açaí, casca de babaçu). Camillo destaca que o programa, inicialmente previsto apenas para 2025 com o objetivo de substituir 28% do coque, já foi colocado em prática em 2021 e vem gerando impacto positivo para o setor.

Sobre a geração de empregos no setor de cimentos, o presidente do sindicato deixa claro que não espera um aumento significativo, já que a própria projeção de crescimento para a indústria é baixa neste ano. Ele também explica que essa indústria trabalha com uma capacidade ociosa acima da indústria tradicional, pois a demanda por cimento surge em grande velocidade. Camillo conta que a capacidade ociosa do setor em 2021 foi de 31%, e em 2022, com a queda de produção, ela passou para 32,9%.

Mas ele também lembra que essa indústria apresentou um crescimento entre os anos de 2019 e 2021, de 3,5%, 10,5% e 6,6%, respectivamente, quando o esperado para aquele período de pandemia era uma queda. “É sempre muito surpreendente e, por isso, a necessidade dessa indústria trabalhar sempre com a capacidade ociosa para poder atender com velocidade a demanda”, completa.

Produção de Cimento em Minas Gerais

Paulo Camillo também destaca o fato de Minas ser o maior produtor de cimento no Brasil, com nove grupos industriais operando no Estado, além de 15 fábricas de cimento que geram 23 mil empregos diretos e indiretos. O Estado registrou 17,5 milhões de toneladas de cimento produzido em 2020, e em 2021, a produção foi para 18,2 milhões de toneladas. Por fim, Camillo lembra que se trata de uma indústria estratégica – já que não há opções que possam substituir o cimento, com mais de 90% das construções sendo feitas com este produto – e que Minas possui um papel de destaque no mercado nacional não só pelo volume de produção, que é o equivalente a 30% do que é produzido no Brasil, mas também pelo fato de metade de sua produção ser consumida por outros estados.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas