Indústria do lítio enfrenta problemas com derretimento dos preços

A indústria do lítio tem enfrentado dificuldades em razão de uma retração substancial nos preços do mineral no mercado internacional. Diante desse cenário adverso, empresas operam no vermelho ou com resultados abaixo do esperado, optam por postergar expansões produtivas e novos players demonstram receio em executar investimentos.
Essa é a avaliação que executivos do setor fizeram ao Diário do Comércio, durante o evento Brazil Lithium & Critical Minerals Summit, realizado nesta semana, em Belo Horizonte, pela The Net-Zero Circle by IN-VR, consultoria global de comunicação.
Conhecido como “ouro branco” e “petróleo do século XXI” por ser essencial à transição energética, o lítio atingiu níveis históricos de preços em 2022, tornando-se a “menina dos olhos” dos investidores. Contudo, em 2023, as cotações despencaram cerca de 80%. Desde então, os valores não chegaram nem perto do pico e seguem caindo consideravelmente.
Para se ter uma ideia, a tonelada do concentrado de espodumênio com 6% de óxido de lítio era negociada a US$ 626 na Bolsa de Valores da China, nesta quinta-feira (5), o que representa um recuo de 23,3% desde o início de 2025. Já o carbonato de lítio, com pureza mínima de 99,5% de grau bateria, era vendido a US$ 8.364 por tonelada, uma queda de 18,5% no acumulado do ano. Os dados foram extraídos da Shanghai Metal Market (SMM).
O CEO da Companhia Brasileira de Lítio (CBL), Vinicius Alvarenga, afirma que, diante dos preços atuais, a indústria do lítio, como um todo, vive um momento dramático. Segundo ele, quem já opera está no prejuízo ou com resultados abaixo do desejado; enquanto novos projetos, em qualquer ponto da cadeia produtiva, da mineração até a produção de células de baterias, não avançam porque o capital disponível para investimentos está represado.

O conselheiro da Atlas Lithium, Rodrigo Menck, ressalta que, no ano passado, a situação do setor já era desafiadora, mesmo com as cotações bem acima das atuais. Na visão dele, o mercado está cauteloso quanto à aplicação de capital em projetos de lítio justamente por causa das incertezas sobre o prazo de recuperação dos investimentos.

Situação das empresas com projetos no Brasil
Em desenvolvimento, a indústria do lítio no Brasil está concentrada em Minas Gerais. São três empresas operando no Estado, a pioneira CBL, a AMG e a Sigma Lithium. Várias outras estão com projetos em andamento, como a Atlas, a PLS e a Lithium Ionic.
No caso da CBL, a empresa, além de ter uma operação enxuta, com baixos custos fixos, tem investido em tecnologia, processos e treinamento de pessoal para se tornar cada vez mais competitiva. Logo, apesar do contexto desfavorável dos preços, não cogita diminuir operações e o quadro de funcionários, de acordo com o CEO.
Por outro lado, a companhia segue sem dar início ao plano de expansão produtiva, por considerar que as cotações do momento não justificam investimentos em crescimento operacional, algo que, inclusive, aumentaria a competitividade da empresa. “Os projetos de expansão das unidades de mineração e de refino estão prontos e licenciados, mas estamos aguardando maior clareza no cenário para iniciar a implantação”, ressalta Alvarenga.
A Sigma está construindo uma segunda planta industrial, e a CEO Ana Cabral já deixou que os investimentos continuarão acontecendo independente dos valores do lítio. Durante sua participação no evento na capital mineira, a executiva afirmou que a empresa tem resiliência aos preços do mercado por ter um dos custos mais baixos do setor a nível global.

Já o vice-presidente da PLS no Brasil, Leandro Gobbo, ressalta que a situação não ameaça a empresa, que é bem estruturada e se prepara com antecedência para esse tipo de cenário. O conselheiro da Atlas também segue otimista com o projeto mesmo com o derretimento dos preços. Menck diz que a empresa terá um dos menores custos de produção do mercado.
Razões para a queda nos preços do lítio e perspectivas de recuperação na visão da indústria
Diversos fatores levaram à queda significativa dos preços do lítio. Para o CEO da CBL, embora esteja crescente, a demanda fora da China não tem evoluído como o previsto. Somado a isso, há no mercado uma oferta mais resiliente e com custos mais baixos do que se imaginava, sobretudo de origem africana, onde as operações não enfrentam as mesmas exigências de sustentabilidade do Brasil, criando um diferencial no custo de produção.
Conforme Alvarenga, surpreendentemente, não se vê projetos ou grandes operações sendo colocadas em manutenção ou paralisadas no mundo, o que contribuiria para a redução de estoques, para baixar os níveis de oferta e para voltar a equilibrar os preços. Ele afirma que é difícil prever, mas que a empresa não acredita em uma recuperação das cotações a curto prazo. “Estamos nos preparando para um cenário adverso por mais dois ou três anos”, diz.
O vice-presidente da PLS no Brasil também pontua que são vários motivos para a baixa nos preços, desde o aumento dos estoques até a alta capacidade de produção e um aumento na oferta. Gobbo pondera que o lítio ainda é um mercado pequeno, em desenvolvimento, e fica sujeito a oscilações mais fortes, tanto de alta quanto de redução.
O executivo destaca que a demanda por lítio segue em constante crescimento. Dessa forma, a expectativa da empresa é que, em dado momento, isso se reflita positivamente nos preços. “Estamos que o preço volte a subir. Tendo em vista as características do mercado, pode ser que o próximo passo seja um aumento mais agudo. Mas não tem como saber”, afirma.
O CEO da Lithium Ionic, Blake Hylands, ressalta que a China continua controlando o mercado de lítio e que os preços seguirão voláteis por um tempo, até que as cadeias produtivas integradas no mundo ocidental estejam estabelecidas. Ele lembra que têm analistas projetando a recuperação dos preços já para 2027 ou 2028, mas que isso pode acontecer antes, uma vez que a demanda segue crescendo.

Para o executivo, com as flutuações, do ponto de vista de investimento, ainda é difícil para investidores institucionais manterem suas posições e apostarem no longo prazo, esperando que os preços se sustentem em um patamar mais razoável. “Quero dizer o seguinte: dois anos atrás, quando o espodumênio estava a US$ 8.000, era um absurdo. Agora que está a US$ 600, também é um absurdo. Essa volatilidade precisa começar a sair do mercado”, diz.
Na visão de Hylands, ainda que os preços possam subir antes de 2028, a volatilidade deve permanecer por um tempo mais longo. O CEO crê em um processo de uma década para que as cotações se estabilizem. Ele vê o patamar próximo de US$ 2 mil como o ideal.
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