Indústria está com estoques acima do planejado

A desaceleração do consumo do varejo, por consequência dos juros elevados, tem impactado em um acúmulo de mercadorias nos estoques industriais. A Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra, por exemplo, que desde setembro do ano passado, o indicador de estoques do setor no Brasil está acima de 100, o que indica uma concentração indesejada de produtos nos armazéns dos fabricantes brasileiros.
Em Minas Gerais, o cenário é parecido. Na Sondagem Industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), pesquisa mensal que revela o comportamento da indústria mineira e perspectivas dos empresários, aponta que, nos últimos dois meses, os estoques de produtos finais nas fábricas ficaram acima do planejado pelos industriais. Em abril, inclusive, o indicador alcançou 53 pontos, o maior nível desde agosto de 2019.
A economista da Gerência de Economia e Finanças Empresariais da entidade, Daniela Muniz, explica que esse resultado assinala que a demanda foi inferior à esperada, ou seja, as indústrias esperavam vender mais, porém não houve procura, o que levou ao acúmulo de estoques. Conforme ela, o recuo na demanda se deve ao elevado patamar dos juros no País.
“Um dos fatores que estão levando as empresas a ter acúmulo de estoques é a redução de demanda. Estamos já há um tempo com a taxa de juros em um nível bastante elevado. A política monetária está apertada com os juros em um terreno restritivo. Então, agora estamos tendo esse impacto na demanda doméstica, no consumo das famílias, nos investimentos. E temos percebido que já está havendo essa desaceleração como consequência”, avalia.
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Ainda de acordo com Daniela Muniz, vários setores da indústria estão sentindo o efeito da taxa de juros no terreno restritivo. Isso porque, segundo ela, a maioria dos setores na economia é composta por atividades mais sensíveis à política monetária.
“Então, a partir do momento que você tem durante um bom tempo uma política monetária restritiva, tem uma certa defasagem e depois ela começa a influenciar a demanda. É o que estamos vendo: essa desaceleração. E a partir do momento que isso ocorre, acaba existindo um certo acúmulo de estoques”, ressalta.
Resultados do indicador em 2023
No quarto mês de 2023, o indicador de estoques efetivado alcançou o maior nível em quase três anos, porém os resultados também não foram favoráveis em oito dos últimos 12 meses. Destrinchando a pesquisa, observa-se que apenas em abril de 2022 (49,4 pontos); junho (48,2 pontos); julho (49,5 pontos) e fevereiro do atual exercício (49,7 pontos), o estoque ficou abaixo do planejado, o que sugere que a demanda por bens industriais foi superior à esperada.
Nesse ano, especificamente, o indicador ficou acima do planejado, além de abril, em janeiro (51 pontos) e março (50,2 pontos). Verifica-se, dessa forma, que a curva do índice em 2023 teve uma leve baixa entre o primeiro e o segundo mês do ano, ao cair 1,3 ponto, mas teve uma crescente nos demais. Na passagem de fevereiro para março, a alta foi de 0,5 pontos. Já entre o terceiro e o quarto mês, a elevação foi ainda maior, de 2,8 pontos.
A nova edição da Sondagem Industrial será divulgada na próxima segunda-feira (26). Os dados serão atualizados com o comportamento dos estoques dos fabricantes em maio.
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