Indústria de ferro-gusa ainda em compasso de espera com tarifaço

A entrada do ferro-gusa na longa lista de exceções ao tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, até melhorou a expectativa das usinas independentes de Minas Gerais para os próximos meses, mas o setor ainda está preocupado com a insegurança gerada pela política tarifária do presidente norte-americano.
A queda das exportações do insumo para a maior economia do mundo, observada em agosto, deve-se mais à base de comparação alta do mês anterior do que necessariamente pela entrada em vigor da mais recente sobretaxa, explica o presidente do Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer-MG), Fausto Varela.
Em julho, como o mercado ainda não podia prever que seria isentado do tarifaço pelo mandatário norte-americano, muitos pedidos foram antecipados pelas empresas com o objetivo de escaparem da sobretaxa, que entraria em vigor no mês seguinte. Isso fez com que as exportações do mês de julho fossem extremamente atípicas para o setor. A maior economia do mundo é o principal destino dos embarques da indústria mineira de ferro-gusa.
“Nossos embarques em agosto caíram muito em relação ao mês de julho, mas em relação aos meses anteriores, não teve queda expressiva. O problema da referência é que em julho a exportação foi muito maior do que o normal (pela antecipação de pedidos)”, disse Varela. “A nossa observação é ver qual vai ser a reação daqui pra frente, para ver se há uma acomodação, porque, possivelmente, o pessoal fez estoque para se antecipar ao tarifaço”, completa.
O representante do setor aponta que poucas empresas suspenderam a produção devido ao tarifaço e outras começaram a realizar manutenções nas plantas, mas ainda não há corte em massa dos funcionários, fora da rotatividade normal do setor. Ainda assim, com uma tarifa de importação que pode mudar repentinamente a depender do humor de Trump, as usinas de ferro-gusa agora vivem com uma incerteza no horizonte da produção industrial.
“A demissão em massa sempre está no radar, uma vez que não há uma previsão que volte para se ter uma situação favorável. Como o ferro-gusa entrou na isenção, a gente tem a expectativa que volte a melhorar, mas a gente está preocupado com a insegurança”, ressalta.
Até mesmo por conta das tarifas norte-americanas, Varela destaca que a indústria mineira não tem como projetar uma expectativa de desempenho para o fechamento de 2025. O setor esperava, no início deste ano, tentar reverter as quedas recentes de produção do insumo em Minas Gerais, que caiu nos últimos dois anos após uma década de crescimento anual consecutivo.
“Temos que avaliar ainda mais e se vamos ter alguma surpresa ainda, a gente está sempre na expectativa de que haja uma recuperação, mas, com esse movimento das tarifas, não sabemos o que vai acontecer”, diz Varela.
Setor de ferro-gusa não tem sucesso na busca por novos mercados
Boa parte da queda de produção decorre de uma menor demanda no mercado nacional, que geralmente divide a demanda da indústria de ferro-gusa com a exportação. O tarifaço impõe ainda mais desafios neste aspecto, destaca Varela, quando a produção de aço nacional foi sobretaxada em 50%, em um setor já combalido pela importação da China. Os dois movimentos resultam em uma menor demanda de ferro-gusa para a produção de aço.
A busca por outros mercados no exterior, uma alternativa ao tarifaço apontada como sem muita dificuldade para diversas commodities, não é tão fácil de ser realizada no curto prazo para a indústria de ferro-gusa. O presidente do Sindifer revela que o setor tem procurado novos mercados, mas, por enquanto, não tem obtido sucesso em um mercado com players muito bem definidos.
“Já tem uma estabilização no mercado mundial, um direcionamento, uma proximidade, e, como é uma commodity, às vezes o frete onera muito, então não dá para ficar muito distante também. Há fatores que dificultam um redirecionamento da produção. Está sendo tentando, mas nada que possa ser feito no curto prazo”, lamenta Varela.
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