Indústria mecânica de Minas sofre com juros altos
A indústria mecânica de Minas Gerais deve encerrar 2025 em um ambiente de apreensão, marcado por demanda abaixo do esperado, investimentos represados e forte impacto da taxa de juros. A avaliação é do presidente do Sindicato da Indústria Mecânica de Minas Gerais (Sindmec-MG), Daniel Junqueira, que aponta o custo do crédito como o principal entrave ao crescimento do setor.
Segundo ele, a indústria de transformação apresentou algum nível de aquecimento ao longo do ano, mas ficou distante das expectativas iniciais. A projeção de crescimento em torno de 5% não deve se confirmar, já que parte dos investimentos e decisões previstas para o fim de 2025 foi adiada para 2026.
Na comparação com 2024, o desempenho deste ano foi considerado pior ou, no máximo, estável, sem avanço relevante em vendas ou produção. O resultado reflete um ambiente de maior cautela, especialmente em segmentos mais sensíveis ao ciclo econômico.
Junqueira destaca que a indústria mecânica, inserida no setor de bens de capital, tende a sentir de forma mais intensa os efeitos da incerteza econômica. Por estar no início da cadeia produtiva e demandar investimentos elevados e de longo prazo, o setor reage com maior prudência em cenários de instabilidade. Nesse contexto, os meses de outubro e novembro foram particularmente difíceis, em meio às expectativas relacionadas ao próximo ano eleitoral.
A taxa de juros elevada aparece como o principal fator de restrição. Segundo o dirigente, taxas nominais superiores a 20% tornam inviáveis operações típicas da indústria mecânica, cujos investimentos costumam ter horizonte mínimo de dez anos. Nesse cenário, o custo financeiro compromete a viabilidade dos projetos e aumenta significativamente o risco das operações.
O presidente do Sindmec relata que há investimentos paralisados à espera de condições mais favoráveis de financiamento. Entre os fatores monitorados pelo setor está a expectativa de redução de dois pontos percentuais no spread do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que poderia destravar decisões represadas.
Além do crédito caro, a escassez de mão de obra qualificada segue como um gargalo estrutural. Profissões como soldador, caldeireiro e montador industrial enfrentam falta de trabalhadores, mesmo com remuneração atrativa. O dirigente também demonstra preocupação com discussões sobre redução de jornada e com o distanciamento da geração mais jovem das carreiras industriais.
Em relação à demanda setorial, o desempenho foi heterogêneo. O setor sucroalcooleiro e algumas atividades ligadas ao extrativismo apresentaram resultados positivos, enquanto petróleo e gás natural ficaram abaixo do esperado. A metalurgia registrou surpresa pontual, mas insuficiente para alterar o cenário geral.
Para 2026, a expectativa é cautelosa, ainda que o dirigente mantenha uma visão positiva de longo prazo. Segundo ele, embora anos eleitorais costumem movimentar a economia, a indústria mecânica tende a adotar postura de espera, dada a natureza de longo prazo de seus investimentos.
Junqueira também aponta a perda de competitividade da indústria nacional frente a concorrentes internacionais, em função da carga tributária, encargos sobre a folha e custos indiretos. Apesar disso, ele identifica nichos promissores, como o mercado de biogás, impulsionado pela agenda de redução de carbono, embora ressalte o alto custo e a longa maturação desses projetos.
Indústria mecânica em Minas Gerais
Ano de cautela e investimentos represados
📉 Balanço de 2025
- Demanda abaixo do esperado
- Crescimento de 5% não se confirma
- Desempenho pior ou estável frente a 2024
💰 Principal entrave
- Juros nominais acima de 20%
- Crédito caro inviabiliza investimentos
- Projetos com prazo mínimo de 10 anos
⏸️ Investimentos represados
- Operações paradas à espera de crédito mais barato
- Expectativa de redução do spread do BNDES
👷 Mão de obra
- Escassez de profissionais qualificados
- Falta de soldadores, caldeireiros e montadores
- Baixo interesse dos jovens pela indústria
🏭 Setores demandantes
- Destaques: sucroalcooleiro e extrativismo
- Abaixo do esperado: petróleo e gás
- Metalurgia com desempenho pontual positivo
🔮 Olhar para 2026
- Ano eleitoral tende a gerar espera
- Investimentos de longo prazo exigem previsibilidade
- Biogás surge como nicho promissor, apesar de custos elevados
Ouça a rádio de Minas