Indústria mecânica de Minas Gerais começa a sentir efeitos do tarifaço

A produção de bens de capital em Minas Gerais ainda não foi afetada significativamente pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já que o setor, via de regra, tem entregas planejadas em contratos firmados há algum tempo. Mas a retração na demanda futura alterou a perspectiva da indústria mecânica mineira, que já começou a efetuar algumas demissões.
O Sindicato da Indústria da Mecânica de Minas Gerais (Sindmec) revisou para baixo as expectativas de desempenho para o ano. O presidente da entidade, Daniel Junqueira, espera uma queda de até 10% na produção mineira neste ano em comparação ao ano passado.
As exportações do setor de bens de capital do Estado para os Estados Unidos representam 20% do total de embarques da indústria mecânica mineira ao exterior.
“Estamos muito apreensivos no sentido de investimento futuro, de novos clientes vindo, de planos de expansão que podem não acontecer”, afirma Junqueira, que reduziu em 15% o quadro de funcionários de sua empresa devido à perspectiva de menos negócios.
A preocupação da indústria mecânica mineira é menos com clientes tradicionais em setores como a mineração e o sucroalcooleiro e mais com a siderurgia mineira, afetada pelo tarifaço dos Estados Unidos e já bastante impactada pelas importações de aço da China.
Até por isso, o presidente do Sindmec acredita que o tarifaço de Trump, imposto não somente ao Brasil, mas também à China, pode aumentar o volume das importações chinesas na siderurgia nacional e, igualmente, no setor de máquinas e equipamentos, devido a um redirecionamento da oferta chinesa. O receio do setor é ainda maior dada a proximidade do governo brasileiro com o chinês, que poderia facilitar a entrada dos chineses no País.
“São essas duas preocupações, com o tarifaço e em ampliar essa entrada de produtos chineses. Se ocorrer, vamos ter um problema do aumento da concorrência e isso pode vir afetar nosso mercado também”, explica Junqueira.
Ele afirma que a indústria mecânica do Estado tem procurado novos clientes no mercado interno para escoar a produção, mas que essa solução não consegue ser aplicada tão rapidamente. Novos mercados são procurados até mesmo ao redor da América do Sul, em uma busca ainda mais complexa, aponta Junqueira, já que o mercado e o volume de negócios são diferentes.
O impacto do tarifaço dos Estados Unidos já deverá ser sentido em uma menor produção de bens de capital no Estado no início do próximo ano. “Trata-se de adequação ao mercado futuro, a perspectiva está pior do que agora. Se não afetou diretamente nossas empresas, o tarifaço afetou os nossos clientes”, finaliza o presidente do Sindmec.
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