Economia

Indústria mineira desacelera: faturamento e mercado de trabalho recuam em junho

Resultado negativo foi puxado pela indústria extrativa mineral; mercado de trabalho tem o pior desempenho em 13 meses
Atualizado em 6 de agosto de 2025 • 19:06
Indústria mineira desacelera: faturamento e mercado de trabalho recuam em junho
Crédito: Alexandre Guzanshe/Diário do Comércio

Impactado pela desaceleração na economia, o faturamento da indústria em Minas Gerais recuou 0,5% em junho frente a maio. O resultado, negativo pelo segundo mês consecutivo, foi puxado pela indústria extrativa mineral, que recuou 8%, enquanto o segmento de transformação permaneceu em estabilidade.

A queda nos indicadores afetou também o mercado de trabalho, que registrou o primeiro resultado negativo em 13 meses, recuando 0,5%. Os dados fazem parte da pesquisa Indicadores Industriais (Index), divulgados nesta quarta-feira (06) pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Em junho, apenas duas das seis variáveis analisadas encerraram com números acima do registrado no mês anterior. As horas trabalhadas na produção, com crescimento de 2,4%, e a utilização da capacidade instalada, que aumentou de 81% para 83,7%, mostram que apesar da desaceleração, ainda há esforço das indústrias para manter a operação em atividade.

Diferentemente do observado em meses anteriores, os resultados para indústria extrativa mineral contribuíram diretamente para a queda. Embora o segmento de transformação tenha maior peso, a estabilidade apresentada frente a redução de pedidos em carteira no mercado interno e externo mineral impactaram significativamente no resultado geral.

Com relação aos indicadores do mercado de trabalho, o decréscimo de 0,5% em junho, inédito no ano, intensifica os sinais de desaceleração no setor. Como reflexo da redução na empregabilidade, a massa salarial caiu 1,1%, e o rendimento médio real dos trabalhadores apresentou queda de 1,0%.

De acordo com o economista da Fiemg, Arthur Oliveira, a indústria de Minas Gerais já esperava um ano mais desafiador em 2025 se comparado a 2024. “Daqui para frente, aumenta-se um pouco o pessimismo e a confiança de desaceleração dos industriais”, pontua.

Apesar do recuo nos indicadores de emprego, ele ressalta que a taxa de desemprego, ainda na mínima histórica, deve sustentar consumo e renda da população ao longo do ano. A previsão resgata o otimismo e traz fôlego para o setor, uma vez que o elevado consumo tende a impactar positivamente o desempenho da indústria, preservando a resiliência, mesmo em cenários desafiadores.

No primeiro semestre, os resultados para a indústria encerraram de forma positiva para Minas Gerais, com avanço acumulado de 1,9%, enquanto o crescimento observado nos últimos doze meses soma 4,5%. Para Oliveira, esse cenário, é sustentado por uma demanda interna ainda aquecida, aliada a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos.

Com altos juros e ‘tarifaço’, futuro é incerto e demanda atenção

A elevada taxa básica de juros (Selic), um dos principais motivos da atual desaceleração na economia nacional, deve persistir, no mínimo, até o final do ano. A política monetária contracionista com Selic a 15% ao ano posiciona o País entre aqueles com os maiores juros reais do mundo, tornando o cenário da indústria mineira ainda mais desafiador no segundo semestre.

Somado a isso, o estudo da Fiemg pontua que a capacidade do governo de adotar novos estímulos fiscais segue com limitações consideráveis diante do aumento das preocupações com a sustentabilidade das contas públicas. Ainda assim, diante dos resultados positivos no primeiro semestre, a entidade projeta um crescimento econômico moderado para o setor até o final do ano.

Além da economia interna, tensões geopolíticas entre Brasil e Estados Unidos com imposição de tarifas adicionais sobre as exportações podem afetar negativamente a indústria nos próximos meses. Segundo Arthur Oliveira, os resultados de junho, embora ainda não apresentem impacto direto da tarifação, desenham um futuro com ainda mais incertezas, especialmente para empresas exportadoras.

As expectativas, segundo o economista, caminham para uma evolução das negociações, que ainda não estão encerradas. Em caso de irreversibilidade, a medida pode levar a uma redução nas intenções de investimento, com impacto direto no faturamento, ainda que não seja imediato.

“A Fiemg acredita que o diálogo precisa ser a nossa principal bandeira no momento, e o Brasil tem bons argumentos econômicos para reverter tarifação”, conclui.

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