Indústria mineira cresce em outubro, mas expectativa para 2026 cai ao menor nível em dez anos
A indústria mineira avançou em outubro, impulsionada pelo período de maior atividade provocado pela Black Friday e pelas encomendas de fim de ano. O índice de evolução da produção atingiu 52,2 pontos, superando em 2,1 pontos o resultado de setembro. Os dados são da Sondagem Industrial, divulgada nesta segunda-feira (24) pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Segundo a economista da Fiemg, Daniela Muniz, além do aquecimento natural da produção nesta época do ano, o maior número de dias úteis em relação a setembro também contribuiu para o resultado. No entanto, na comparação com outubro do ano passado, o índice permanece abaixo do observado em 2024, quando o indicador marcou 54,3 pontos. “Esse resultado mostra que houve uma desaceleração em relação ao ano passado”, afirma.
Apesar do aumento da produção, o emprego industrial registrou queda, assim como a utilização da capacidade instalada. “Ambas permaneceram abaixo da usual para o mês”, completa a economista.
O índice de evolução do número de empregados marcou 48,2 pontos em outubro, indicando queda no emprego industrial. O resultado praticamente não variou em relação ao de setembro (48,1 pontos) e foi 2,4 pontos inferior ao registrado em outubro de 2024 (50,6 pontos). Já o índice de utilização da capacidade instalada efetiva em relação à usual marcou 44,8 pontos em outubro, uma alta de 1,7 ponto frente a setembro (43,1 pontos).
Na comparação com outubro de 2024 (47,4 pontos), houve recuo de 2,6 pontos. Ao permanecer abaixo dos 50 pontos, o índice mostra que as empresas seguem operando com capacidade produtiva inferior à habitual para o mês. “Isso evidencia a cautela do setor industrial diante dos custos financeiros elevados, especialmente juros”, avalia Daniela Muniz.
A especialista também ressalta que a capacidade ociosa precisa ser observada com atenção: “Em excesso, ela é sempre um obstáculo para investimentos e geração de emprego. Se determinada empresa tem capacidade ociosa, ela não precisa contratar mais nem investir para ampliar a produção”.
Quanto aos estoques de produtos finais, o índice registrou queda pelo terceiro mês consecutivo, ficando novamente abaixo do nível planejado pelas empresas. Conforme a sondagem, o índice marcou 49,7 pontos em outubro. Quando está abaixo de 50 pontos, o indicador aponta redução dos estoques.
Além disso, o indicador de nível de estoques em relação ao planejado marcou 47,9 pontos, revelando, também pelo terceiro mês seguido, que os estoques ficaram abaixo do nível esperado pelos industriais.
“Esse comportamento sugere que a demanda superou as expectativas das indústrias mineiras. Apesar da desaceleração, os empresários esperavam uma demanda ainda menor. Foram surpreendidos positivamente”, observa Daniela Muniz.
A economista destaca que os dados de estoques são importantes indicadores de demanda futura. “Quando as empresas ficam com estoques abaixo do planejado por algum tempo, isso tende a impulsionar a produção nos próximos meses. Porém, é preciso acompanhar se o movimento vai se sustentar ou se se trata apenas da sazonalidade do segundo semestre”, explica.
Expectativas recuam ao menor nível em dez anos
Os empresários mostraram expectativas negativas quanto à demanda, à compra de matérias-primas e ao emprego para os próximos seis meses, conforme mostrou a sondagem da Fiemg. O indicador de intenção de investimento permaneceu estável em relação ao mês anterior e ficou abaixo do registrado há um ano, reforçando o ambiente de incerteza e a menor disposição das empresas para expandir suas operações.
Ainda de acordo com a pesquisa, o índice de expectativa de demanda registrou 48,4 pontos em novembro, voltando a indicar perspectiva de recuo da demanda nos próximos seis meses, ao ficar abaixo dos 50 pontos — limite que separa queda de expansão.
“O indicador caiu 3,7 pontos em relação a outubro, que registrou 52,1 pontos, e 4,3 pontos ante novembro de 2024, que marcou 52,7 pontos — o menor valor para o mês em 10 anos”, afirma Daniela Muniz.
O índice de expectativa de compra de matérias-primas também caiu e marcou 48,8 pontos em novembro, indicando perspectiva de queda das compras nos próximos seis meses. Frente a outubro (50,7 pontos), o indicador apresentou redução de 1,9 ponto. Já na comparação com novembro de 2024 (51,6 pontos), a queda foi de 2,8 pontos — o menor patamar para o mês em nove anos.
O índice de expectativa para o número de empregados registrou 47,8 pontos em novembro, sinalizando perspectiva de retração do emprego industrial nos próximos seis meses. O indicador caiu 1,8 ponto ante outubro (49,6 pontos) e 3 pontos frente a novembro de 2024 (50,8 pontos), sendo o menor valor para o mês em nove anos.
No quesito investimentos, o índice ficou estável em relação a outubro e registrou 55,6 pontos em novembro. Contudo, o indicador recuou 3,1 pontos frente a novembro de 2024 (58,7 pontos).
Para a economista da Fiemg, a inflação acumulada acima da meta estabelecida pelo Banco Central e a taxa Selic a 15% ao ano elevam o custo do crédito e aumentam o encargo financeiro das empresas. “Esse cenário também reduz o poder de compra dos consumidores e os investimentos. A atividade tende a perder fôlego e a pressionar o ambiente de negócios”, analisa.
Quanto ao ambiente externo, Daniela Muniz destaca o cenário de incertezas. “A questão das tarifas impostas pelos Estados Unidos e as mudanças constantes atingem a confiança dos empresários e provocam um cenário incerto”, conclui.
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