Indústria mineira desacelera em julho

O faturamento real da indústria mineira caiu 6,7% em julho na comparação com o mês anterior, conforme a Pesquisa Indicadores Industriais (Index), divulgada na quarta-feira (6) pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A queda é a segunda mais intensa para o mês desde o início da série histórica.
O dado mostra redução de ritmo no resultado da atividade, já que o faturamento da indústria do Estado cresceu 3,5% na passagem de maio para junho. Na ocasião, foi o segundo crescimento consecutivo do indicador.
Nas demais bases de comparação, o resultado da variável foi positivo. Em julho deste ano frente a igual mês de 2022, a alta foi de 1,8%. No acumulado dos sete primeiros meses de 2023, a elevação foi de 5,7%, enquanto que no primeiro semestre o crescimento foi de 6,5%, o que confirma a desaceleração. Ainda conforme o Index, nos últimos 12 meses até julho, o incremento foi de 6,6%.
O resultado negativo de julho frente junho no faturamento não causou surpresa, segundo a economista da entidade, Daniela Muniz, e é explicado pela redução de pedidos em carteira no segmento de transformação. “Já era esperado um resultado mais moderado”, diz.
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Ela observa que o desempenho foi puxado pelo recuo de 8,1% no período da indústria da transformação. O cenário foi diferente para a indústria extrativa que teve alta de 12% no faturamento.
De acordo com a economista, a taxa básica de juros, a Selic, continua impactando negativamente, já que dificulta o acesso ao consumo de bens duráveis, bem como desestimula investimentos. A Selic está no patamar de 13,25% ao ano, considerado alto.
O corte na taxa, feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, aconteceu em agosto. Antes disso, a taxa estava ainda mais elevada, 13,75% ao ano.
Mais variáveis
Conforme o levantamento da Fiemg, as horas trabalhadas na produção recuaram 1,8% em julho ante o mês anterior. O resultado é reflexo da maior concentração de funcionários em férias e das paradas técnicas em algumas empresas. A utilização da capacidade instalada ficou estável em julho.
Com relação aos índices referentes ao mercado de trabalho, a massa salarial (-0,5%) e o rendimento médio real registraram queda (-1%), enquanto o emprego praticamente não variou (0,1%) nesse tipo de análise.
Apesar da queda mensal, a economista observa que os indicadores de faturamento e do mercado de trabalho apresentaram crescimento no acumulado do ano. “Depois das dificuldades enfrentadas durante a pandemia, a normalização das cadeias de insumos e matérias-primas vem contribuindo para o recuo nos custos de produção e, consequentemente, nos preços de bens industriais”, ressalta.
Daniela Muniz acrescenta que, entre os pontos positivos na economia, está a recomposição da renda das famílias a partir do aumento do salário mínimo, da ampliação de medidas de transferência de renda e da resiliência do mercado de trabalho, fatores que estão favorecendo o consumo das famílias. Além disso, incentivos fiscais do governo federal estimularam a demanda, como foi o caso dos subsídios para a aquisição de automóveis.
Perspectiva
Para os próximos meses, a expectativa é de desempenho moderado da atividade industrial, conforme a economista, tendo em vista que a taxa de juros em patamar elevado deverá seguir limitando o consumo de bens industriais mais dependentes de crédito. “Vale lembrar que, mesmo que aconteçam outras quedas nos juros, o impacto não é imediato, leva tempo para ser sentido”, observa.
Por outro lado, a melhora do mercado de trabalho, o arrefecimento da inflação e o programa de renegociação de dívidas criado pelo governo federal deverão contribuir, em certa medida, para a sustentação do consumo de bens industriais no segundo semestre. “O segundo semestre é tradicionalmente mais aquecido em razão das datas comemorativas que estimulam o consumo, só que o desempenho do período vai depender do resultado de outros fatores”, diz.
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