Indústria mineira ainda não foi impactada pela crise dos semicondutores
A indústria automotiva mineira ainda não foi afetada pela tensão entre Holanda e China envolvendo a fabricante de semicondutores Nexperia. A briga diplomática entre os dois países acendeu um alerta no setor automotivo brasileiro. O receio é que a restrição das exportações dos componentes eletrônicos pela China afete diretamente a cadeia produtiva do setor de automóveis, bastante depende dos semicondutores.
Conforme o alerta da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) ao governo brasileiro, a apreensão é que a disputa pelo controle da Nexperia, empresa de capital chinês, leve a uma nova escassez global de chips, repetindo o cenário de paralisações nas montadoras vivido durante a pandemia de Covid-19 em 2020 e 2021. Dessa forma, a Anfavea pediu medidas rápidas por parte do governo para evitar a escassez da matéria-prima e a repetição do cenário.
Durante o Fórum CNT de Debates, realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e que reuniu em Brasília (DF) autoridades públicas e empresários, o presidente da Anfavea, Igor Calve, defendeu que o governo brasileiro, mais próximo ao governo chinês, faça uma interlocução para destravar as negociações entre a Holanda e a China, para que as exportações ao Brasil desse material possam ser feitas com tranquilidade.
“Estamos diante de uma crise que se desenha global no fornecimento de chips. Começamos a receber notificações sobre uma iminente interrupção de fornecimento de peças. A nossa indústria pode começar a parar nas próximas duas ou três semanas”, alertou Calve.
O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças-Abipeças), que representa toda a indústria de autopeças instalada no Brasil, enviou uma carta diretamente ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, com a “solicitação de apoio governamental em razão da situação crítica de abastecimento de componentes fabricados pela empresa chinesa Nexperia”.
Segundo o Sindipeças, nas últimas semanas, já havia sido observada “uma redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais” para módulos de controle, sistemas de injeção e produtos de alta tecnologia usados em veículos leves, comerciais e industriais.
Procurado pela reportagem, o Mdic não se manifestou até o fechamento da publicação. No entanto, Igor Calvet, da Anfavea, disse que Alckmin foi receptivo ao pleito do setor e que “iria buscar informações a respeito do cenário”.
Em Minas Gerais, a Stellantis, uma das maiores montadoras de automóveis do mundo, com fábrica em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, afirmou que, por enquanto, a produção segue normal e que havendo alterações comunicará ao mercado.
Já a Mercedes-Benz, responsável pela produção de cabines de caminhões, com unidade fabril em Juiz de Fora, na Zona da Mata, alegou que está monitorando de perto a situação e em contato constante com seus fornecedores. No entanto, até o momento, não registrou impacto na produção.
A Iveco, fabricante de veículos pesados, caminhões e utilitários leves, com planta em Sete Lagoas, também na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não se posicionou.
Entenda a crise
A nova crise dos semicondutores se deve a disputas geopolíticas intensificadas neste mês, depois que o governo holandês assumiu o controle da fabricante Nexperia, uma gigante de semicondutores subsidiária de um grupo chinês, sob o argumento de proteger a propriedade intelectual.
Em resposta, a China impôs restrições à exportação de componentes eletrônicos, o que pode afetar em poucos dias a produção em algumas fábricas automotivas na Europa e no Brasil.
A Nexperia fabrica chips considerados não sofisticados, mas necessários em grande volume e amplamente utilizados nas indústrias automotiva e de eletrônicos. Não foi divulgado quanto tempo durarão os estoques.
O impacto da falta de semicondutores mexe não apenas com a indústria automotiva, mas com toda a cadeia de produtos eletrônicos, como a de celulares e computação, setores elétrico e eletrodomésticos.
(Com informações da Reuters e Agência Folha)
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