Indústria da reciclagem de plásticos mostra recuperação em 2024

Depois de um ano ruim para a indústria de reciclagem de plásticos no Brasil em 2023, o setor demonstrou sinais de recuperação e cresceu 5,8% em faturamento em 2024, conforme estudo anual encomendado pelo Movimento Plástico Transforma, iniciativa do PICPlast, uma parceria entre a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e a Braskem, divulgados na manhã desta quinta-feira (25).
No ano passado, o setor faturou R$ 4 bilhões, registrando um aumento nominal de 5,8% em relação a 2023, quando o faturamento foi de R$ 3,78 bilhões. Entretanto, a recuperação não foi suficiente para superar o melhor resultado desde 2018, quando o estudo começou a ser feito, de R$ 4,72 bilhões atingidos em 2022.
De acordo com o diretor executivo da MaxiQuim, empresa que realizou o levantamento, Maurício Jaroski, o prolongado ciclo de baixa das commodities petroquímicas pressionou a competitividade dos reciclados nos últimos dois anos.
Ele explica que com os preços das resinas de primeiro uso ou virgens mais baixos, o interesse da indústria de transformação por matéria-prima reciclada reduziu. Efeito que acabou refletindo nos resultados de 2023 de forma mais impactante, e que ainda respingou em 2024, apesar de em menor proporção.
Porém, no ano passado, mesmo com esse impacto, a indústria de reciclagem foi capaz de aumentar a produção do plástico reciclado em 7,8% . De acordo com o especialista responsável pelo estudo, houve reflexo de uma recuperação dos preços praticados pelas resinas de primeiro uso.
Em termos absolutos, a produção brasileira do plástico reciclado, também conhecido como resina pós-consumo (PCR), ou seja, aquela que foi recolhida após o seu uso pelo consumidor final e transformada em matéria-prima para a fabricação de novos produtos, alcançou cerca de 1,01 milhão de toneladas em 2024, ante as 939 mil toneladas de 2023.
Minas é o segundo maior produtor do sudeste
Desse total, mais da metade da produção foi produzida na região sudeste, sendo Minas Gerais o segundo maior estado produtor da região, perdendo apenas para São Paulo. Em Minas, no ano passado, foram produzidas 56 mil toneladas, já em São Paulo, 448 mil toneladas. Rio de Janeiro (48,1 mil toneladas) e Espírito Santo (6,8 mil) completam a produção da região.
Ainda levando em consideração o volume produzido, o índice de reciclagem mecânica para embalagens plásticas pós-consumo alcançou 24,4%, enquanto o índice geral para todos os tipos de plásticos foi de 21%. Ou seja, de todo o plástico produzido e utilizado em 2024, o Brasil reciclou 21%.
Entretanto, o preço praticado por tonelada caiu 1,1%, demonstrando, conforme o estudo, que apesar da produção ter aumentado, o valor agregado ao material reciclado foi menor.
“A indústria se recuperou, mas está muito longe dos resultados de 2022. A gente entende que ela conseguiu recuperar de forma marginal, mas está longe de ter sido uma retomada forte, em termos de volume reciclado ou de valorização”, explica Jaroski.
Geração de empregos cresce
O setor também gerou mais empregos, alcançando a marca de 20 mil postos de trabalho diretos em 2024, um crescimento de 7,7% em relação ao ano anterior (2023). E apesar dos desafios, a capacidade instalada das indústrias recicladoras também cresceu 1,9% e chegou a 2,43 milhões de toneladas, reflexo, conforme explicou Jaroski, de investimentos realizados em anos anteriores.
O estudo mostrou também a diversidade das fontes dos mais de 1,5 milhão de toneladas de resíduos plásticos que chegaram às recicladoras. Os sucateiros foram os responsáveis pela maior parte do fornecimento, 33%. A indústria forneceu 23% dos resíduos e as beneficiadoras (recicladoras menores) responderam por 19%.
Empresas de logística reversa, ou seja, aquelas que fazem gestão de resíduos, forneceram 11% dos resíduos consumidos pelas indústrias de reciclagem. Coube às cooperativas (10%), às fontes geradoras (2%), aos aterros (2%) e aos catadores (0,5%) o restante do fornecimento dos resíduos.
Indústria de alimentos e bebidas seguem como principais clientes
As indústrias de alimentos e bebidas continuaram sendo os segmentos que mais demandaram material plástico reciclado, seguidos pelas indústrias de higiene pessoal, cosméticos e limpeza doméstica. Juntos, esses setores se consolidam como os principais consumidores, impulsionados pela demanda por embalagens com conteúdo reciclado. Foram 167 mil toneladas e 132 mil toneladas demandadas, respectivamente.
“No segmento de alimentos e bebidas vemos muito as pets sendo utilizadas. É a única resina que pode ser utilizada no contato direto com o alimento, daí o volume”, pontua Jaroski.
O grande destaque, conforme detalhou o diretor, ficou para a agroindústria, que cresceu mais de 35% frente a 2023 em função de aplicações na plasticultura, lonas, mangueiras e agroquímicos.
“Se compararmos com 2018, quando o estudo começou, percebemos uma inversão de protagonismo. Naquele ano, a construção civil era o principal destino da resina reciclada, enquanto o segmento de alimentos e bebidas tinha uma participação menor. Essa mudança reflete o avanço regulatório e os compromissos de grandes marcas de consumo com a economia circular e o uso de materiais mais sustentáveis”, complementa.
Brasil é um dos maiores produtores mundiais
O levantamento reforçou também a importância estratégica do Brasil. Segundo dados de 2023, Brasil e México foram responsáveis por 76% de todo o volume de plástico reciclado na América Latina, o que evidencia a consolidação de uma indústria de grande porte e relevância para a circularidade na região.
A título de comparação, enquanto o Brasil alcançou o volume de 1 milhão de toneladas em 2024, o México havia reciclado, em 2023, 1,53 milhão de toneladas, enquanto toda a América Latina somou 3,79 milhões de toneladas.
Na Europa, a produção em 2023 foi de 7,1 milhões de toneladas, mas com queda de 8% em relação ao ano anterior, sinal de que mesmo os mercados mais maduros no âmbito da reciclagem também sofreram com a queda generalizada dos preços das resinas de primeiro uso a nível global.
Perspectiva para o futuro
Apesar dos desafios de 2023 que ainda refletem em 2024, a indústria de reciclagem de plásticos no Brasil se mostra resiliente. O envolvimento das empresas na coleta de materiais e o aumento na capacidade de produção de resinas recicladas sinalizam um futuro promissor, segundo a sócia-executiva da MaxiQuim, Solange Stumpf.
De acordo com a executiva, ao analisar os 10 anos passados, percebe-se uma evolução grande tanto de volume quanto de estrutura do setor. “Os volumes cresceram muito nesse período, o faturamento, o número de empregos, de indústrias. Houve expansão, principalmente, na estruturação industrial. São indústrias que hoje possuem uma gestão melhor, mais profissionalizadas, com mais tecnologia. Temos indústrias de grande porte. Isso nos dá a tranquilidade de dizer que tem um potencial muito grande pela frente. A capacidade de crescimento é muito grande, não só pela capacidade instalada, que ainda é subutilizada, como também em cima de novos investimentos”, finalizou.
Ouça a rádio de Minas