Economia

Demanda argentina acelera exportações de veículos em Minas Gerais

Terceiro maior parceiro comercial de Minas Gerais, Argentina compra cada vez mais veículos nacionais, impulsionando marcas que atuam no Estado
Demanda argentina acelera exportações de veículos em Minas Gerais
Foto: Reprodução/Adobe Stock

Diferentemente da rivalidade no futebol, as relações comerciais entre Brasil e Argentina seguem cada vez mais próximas, com a corrente comercial atingindo a marca de US$ 20,7 bilhões entre janeiro e agosto de 2025. Na indústria de veículos, os “hermanos” já correspondem por mais da metade (59%) dos embarques brasileiros realizados neste ano ao exterior, impactando o desempenho da indústria automotiva, incluindo polos localizados em Minas Gerais.

Apenas em agosto, o setor de automóveis nacional exportou 57,1 mil unidades, o melhor resultado em sete anos, com alta de 19,3% sobre julho e de 49,3% sobre o mesmo mês do ano passado. Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O aquecimento na demanda vinda da Argentina é um dos fatores apontados pela Stellantis, por exemplo, para o sucesso nas exportações de veículos no Brasil. Neste ano, o polo automotivo da montadora localizado em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), exportou 28.017 unidades no período de janeiro a agosto, o que representa um aumento de 166% em relação ao mesmo período de 2024.

Atualmente, a montadora italiana é líder de mercado no país vizinho e se concretizou como um dos principais destinos das exportações brasileiras, conforme detalha o vice-presidente de Supply Chain da Stellantis para a América do Sul, Matias Merino.

Navio cargueiro
Tanto a Stellantis quanto a Mercedes-Benz do Brasil garantem que o mercado argentino segue aquecido e gerando negócios | Foto: Stellantis Brasil

Segundo o executivo, com uma economia mais aberta, a empresa conseguiu melhorar as condições para implementar fluxo comercial, o que impactou no crescimento comercial em território argentino. “Na Argentina somos protagonistas no setor. Saltamos de 29% para 31% de marketshare no último ano, com um portifólio abrangente em veículos de passeios e comerciais leves”, destaca.

Veículos como Fiat Strada e o Peugeot Partner Rapid são considerados modelos de destaque nos embarques para a Argentina. No total, seis modelos do Polo Automotivo de Betim são enviados ao mercado argentino, com destaque para a Fiat Strada (6.234 unidades), o Mobi (6.017 unidades) e o Fastback (4.283) entre os mais exportados de janeiro a agosto de 2025.

A alta flexibilidade nas instalações da montadora, bem como a capacidade instalada nos polos de Betim, Goiana (PE) e Porto Real (RJ) são considerados cruciais para atender ao crescimento da demanda sem necessidade imediata de novos turnos. No entanto, o avanço nas exportações, alinhado ao crescimento da montadora no País, viabilizou 1.500 novos empregos em 2025, sendo 1.200 em Minas Gerais. “Eventuais ajustes na produção ou contratações adicionais são avaliados de forma contínua, de acordo com o cenário de mercado”, complementa Merino.

O bom desempenho também é experimentado pela Mercedes-Benz. Com parte da produção realizada em Juiz de Fora, na Zona da Mata, os envios da companhia ao país vizinho até agosto de 2025 já superaram todo o volume exportado em 2024. No acumulado de janeiro a agosto de 2025, as exportações de caminhões e ônibus da marca já superam o volume exportado no exercício passado.

Caminhões da Mercedes-Benz
País responde por mais da metade das exportações de veículos comerciais da Mercedes-Benz do Brasil | Foto: Divulgação Mercedes benz do Brasil

O gerente sênior de Estratégia de Vendas e Exportações da Mercedes-Benz do Brasil, Mauro Vieira, pontua que a Argentina é um dos principais mercados nas exportações da montadora, responsável por mais da metade das exportações de veículos comerciais da marca. Dentre os fatores atribuídos ao desempenho está a proximidade geográfica, que permite tempos de entregas mais curtos e a adaptação para determinadas aplicações de caminhões e ônibus no país vizinho.

Além de caminhões e ônibus montados, a empresa também exporta veículos em CKD – modelos enviados a partir de um conjunto completo de peças desmontadas, sendo montados numa fábrica local. Além disso, peças também são embarcadas individualmente, atendendo a necessidades de parceiros internacionais.

Inflação argentina e abalos nas relações políticas com o Brasil não afetam desempenho

A inflação acumulada de 33,6% na Argentina em 12 meses e os abalos nas relações políticas com o Brasil não interferiram, até o momento, no desempenho das exportações. Ambas as montadoras avaliam que acompanham de perto o cenário, mas garantem que, atualmente, o mercado argentino está aquecido e gerando muitos negócios.

“Nossa presença histórica no país, aliada à diversidade do portfólio e à confiança dos consumidores argentinos, nos dá segurança para atravessar eventuais momentos de instabilidade”, comenta Merino.

“Essa evolução se reflete também na estratégia da empresa quanto a atuação na América Latina, a exemplo dos recentes investimentos da Mercedes-Benz na Argentina com nova fábrica para montagem de veículos e novo centro de distribuição de peças”, acrescenta Vieira.

Argentina segue como 3º maior parceiro comercial de Minas Gerais

A solidez por décadas nas negociações pode ser explicada pela aproximação história entre os dois países, muito em função da facilitação de acordos viabilizada pelo Mercosul. Para a analista de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Verônica Winter, os acordos bilaterais, aliado à proximidade entre os dois países, seguem movimentando diversas cadeias produtivas, incluindo a de automóveis.

“A Argentina é hoje o terceiro maior parceiro comercial de Minas Gerais, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. É uma relação favorecida pela proximidade geográfica e pela logística facilitada, o que tem impulsionado o crescimento das trocas bilaterais nos últimos anos”, explica.

Além de veículos, também são exportados insumos da cadeia automotiva, como o aço. Essa diversidade tem potencial de impactar significativamente no mercado de trabalho mineiro e tende a impulsionar ainda mais o crescimento do setor nos próximos anos.

Mas, diante das atuais incertezas do comércio internacional, Verônica Winter considera que o momento é de cautela para estimar expectativas. Entretanto, o país vizinho é encarado como uma importante alternativa para o deslocamento de produtos em relação a outros mercados, e, por isso, as perspectivas são positivas.

“Temos um histórico de relações com a Argentina dentro do Mercosul, e já existe um acordo voltado à expansão do comércio entre os países, criando uma alternativa para determinados produtos em relação a outros mercados”, justifica.

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