Industrial deve estar atento à gestão para enfrentar 2022

Após cinco meses de queda na produção, a indústria mineira entra para 2022 num cenário de incertezas. A inflação tem afetado os custos de mão de obra, na medida em que os acordos coletivos vêm sendo assinados, considerando ao menos o IPCA, na casa dos dois dígitos. O dólar alto segue pesando nos insumos e a previsão do mercado financeiro é de que feche o próximo ano acima dos R$ 5,50.
A falta de alguns itens, provocada por paradas pontuais em razão da pandemia em alguns setores, ainda não foi completamente sanada e continua a pressionar os preços. E a projeção do mercado financeiro para 2022 é de uma inflação convergindo para o teto da meta, mas segundo economistas isso deve ocorrer somente a partir do segundo semestre. Diante desse cenário, especialistas aconselham aos empresários dar uma atenção maior à gestão e à legislação para seguirem resilientes no próximo ano.
Para minimizar impactos da elevação do custo com mão de obra, por exemplo, num cenário de incertezas, a presidente do Conselho de Relações de Trabalho, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Érika Morreale Diniz, aconselha ao empresário do setor industrial manter um bom ambiente de trabalho, pois isso facilita o diálogo com os trabalhadores, e estar antenado às vantagens que a atual legislação trabalhista lhe permite.
“O empresário pode fazer os ajustes nos acordos ou convenções, conforme a realidade da sua empresa. Ele pode trazer a realidade do negócio, suas demandas, a essas conversações. Participar das reuniões, não deixando apenas para as federações resolverem com os sindicatos”. Um exemplo, segundo Érika Morreale, foi a negociação coletiva unificada assinada pela Fiemg e representantes de sindicatos e forças sindicais de metalúrgicos na semana passada.
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“Havia, entre outras, uma questão relacionada ao teletrabalho em que, conforme a CLT, as empresas deveriam manter funcionários ‘preponderantemente em casa’, ou seja, na maior parte dos dias trabalhados na semana deveria estar em casa. E isso na realidade de hoje da indústria está inviável em muitos segmentos, gerando questões trabalhistas. Isso foi levado à negociação coletiva, foi amplamente debatido e houve consenso, alterando a cláusula para ‘preponderantemente ou não’, resguardando juridicamente as empresas”, explicou.
Outro ponto é ter um conhecimento detalhado da gestão da empresa, apostando em tecnologias e automação que possam reduzir custos. “O registro de ponto, por exemplo. Temos uma cláusula que permite à empresa adotar sistema alternativo de ponto, com georreferenciamento a partir do celular do funcionário. Isso reduziria custos com aquela velha e obsoleta máquina de ponto. Enfim, associar conhecimentos de gestão e de legislação é algo sempre positivo na indústria, principalmente em momentos de incertezas”, completou.
Cautela
O empresário industrial está cauteloso para 2022, na visão do economista e consultor financeiro Mussa Agostinho Vaz Vieira. “Estamos, por hora, em um círculo vicioso com inflação, desemprego e câmbio elevado persistentes. Para completar, ainda não houve um ajuste na produção mundial e o choque de oferta de insumos ainda existe, podendo ser melhor ajustado em 2022. Mas com o surgimento da Ômicron, não se sabe se isso vai acontecer. E, por fim, é um ano de eleição, o que gera incerteza. Por isso, o industrial está cauteloso em fazer investimentos, tomar novos empréstimos”, informou Mussa que é professor de Economia da Una.
Diante disso, o conselho do especialista é também de um mapeamento financeiro detalhado. “Ele (empresário) precisa ter esse tipo de conhecimento. Quanto pior a crise, maior precisa ser o conhecimento em detalhes do seu negócio e em relação ao mercado e às leis. Dessa forma, ele saberá onde cortar e fazer ajustes para evitar os cortes de pessoal. Quando você demite um empregado, você está demitindo um potencial consumidor”, finalizou.
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