Inflação em alta pode afetar avanço da economia brasileira

Quando se fala em inflação, o horizonte desenhado para a economia no restante de 2024 e para o ano seguinte não aponta para um céu de brigadeiro. A estimativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o atual exercício subiu de 3,86% para 3,88%, enquanto a previsão para a inflação de 2025 avançou de 3,75% para 3,77%. Quando a projeção de inflação aumenta, sinaliza uma tendência de redução de consumo o que acende um sinal amarelo em todo o País.
A inflação é um movimento que preocupa, pois a taxa de juros impacta em todos os agentes econômicos, afirmou o professor de Economia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e conselheiro do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Francisco Horácio. “A inflação eleva o custo do crédito para o consumidor, aumenta o custo dos empréstimos para investimentos e faz com que a indústria venha a retrair os planos na hora de investir”, enumerou.
De acordo com Horácio, outro componente importante é a elevação no custo da dívida pública que, com o aumento no volume dos juros, traz restrições ao orçamento público. “É uma preocupação generalizada quando a previsão da Selic é para cima, pois, com o aumento no custo dos empréstimos, a tendência é que os investimentos produtivos sejam reduzidos, fazendo com que haja retração no Produto Interno Bruto (PIB)”, avaliou.
Outro ponto destacado por ele é que, com o aumento da dívida do governo, são reduzidos os aportes em infraestrutura e, devido à queda dos investimentos públicos, consequentemente, geram impactos, como redução tanto no volume de empregos quanto na renda da população, salientou. “Acredito que são dois fatores impactando na alta da inflação na economia: a iminência de guerra no Oriente Médio, que vai elevar o preço do petróleo, e a pressão do custo dos alimentos”, apontou.
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Para ele, no curto prazo será difícil reverter essa tendência de inflação. “O governo precisará aumentar a capacidade de oferta de bens agrícolas no mercado interno, aumentando as políticas setoriais para estimular o setor agrícola a produzir para tentar reduzir a pressão inflacionária que virá do segmento agrícola. Outro ponto é buscar ampliar a capacidade de extração e refino da Petrobras, e de outras empresas que atuam no setor, para que seja possível usar mecanismos para tentar conter a inflação”, ponderou.
Inflação se tornou preocupação para a economia
O coordenador do curso de Ciências Econômicas do Ibmec-BH, Ari Francisco de Araújo Júnior, reforça que a inflação se tornou uma preocupação para a economia brasileira. “Não sei como o mercado demorou a perceber o desenho deste cenário, mas os sinais foram claros desde o início do atual governo Lula. Muitos economistas não vislumbraram os perigos ainda no plano de governo. Temos uma situação atual de endividamento crescendo e, provavelmente, o governo entregará déficits consolidados iguais ao período de pandemia, sem estarmos vivendo uma”, comparou.
Outro fator apontado pelo coordenador é a preocupação sobre a forma como a política monetária será tratada até o final deste governo. “Quando o governo gasta mais, acaba contribuindo para o efeito momentâneo da elevação de produtividade, mas é uma ação normalmente feita em final de mandato para manter a popularidade e se reeleger. Sabemos que o ambiente inflacionário gera incertezas que implicam em uma possível queda na demanda, com as pessoas comprando menos e as empresas investindo menos”, ponderou.
Segundo ele, a visão de administração do governo atual é diferente e “não há preocupação com o endividamento, pois o gestor acredita que assim que a política econômica deve ser usada”, criticou.
Para o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Carlos Primo Braga, a elevação da inflação nunca é um fator positivo. “Do ponto de vista histórico, está dentro da área alvo do Banco Central (BC), porém a trajetória de alta afeta as camadas sociais mais pobres do País. Existem alimentos que poderão sofrer variação, como é o caso do arroz que com certeza fará algum ruído no quesito inflação que, mesmo com aumento pouco significativo, a tendência de alta é preocupante”, avaliou.
De acordo com Braga, se o País continuar com essa tendência inflacionária, o BC deverá adotar uma política monetária mais restritiva. “Inicialmente se esperava que a taxa Selic ficasse abaixo dos 10% em 2024. Hoje ela já está em 10,25%, o que implica em redução no consumo, que acaba desacelerando a economia. O governo sinalizou que ia prestar atenção à situação fiscal. Falou, mas estamos vendo os números do arcabouço fiscal ir para o espaço. O Brasil não é a Argentina, mas os sinais são preocupantes”, ponderou o professor.
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