Economia

‘Inflação de clima’: efeitos climáticos impactam IPCA da RMBH, que teve alta de 6,17%

Segundo especialista, itens que mais contribuíram para o aumento dos preços são impactados pelo clima; entenda
‘Inflação de clima’: efeitos climáticos impactam IPCA da RMBH, que teve alta de 6,17%
Foto: Reprodução Unsplash / Luis Graterol

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou alta de 6,17% na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no acumulado dos últimos 12 meses. O resultado, mais uma vez, é o maior índice de inflação entre as 16 áreas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no período.

No mês de setembro, a inflação subiu pela nona vez no ano na RMBH ao registrar alta de 0,51% em relação a agosto.

Apesar de este mês não ser o maior índice das regiões pesquisadas como vinha acontecendo, a RMBH não registrou decréscimo de inflação neste ano. Entretanto, ficou acima da média nacional que foi de 0,44%. No acumulado do ano, a Grande BH soma alta de 4,57%.

O resultado regional está sendo impactado pelos efeitos climáticos e produzindo o que o assessor econômico do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Bruno Inácio, chama de “inflação de clima”.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


“Isso porque os dois itens que mais contribuíram para o aumento dos preços são impactados pelo clima”, analisa Inácio.

São eles alimentos e bebidas (0,50%), com destaque para alimentos no domicílio (0,56%) como limão, mamão e carnes, e, neste último item, destacam-se, ainda, a carne de porco (3,67%) e o contrafilé (3,79%), que registraram os maiores incrementos.

“A estiagem afeta as pastagens na seca. O produtor tem dificuldade de alimentar o gado, fazendo aumentar os preços para o consumidor”, observa o especialista.

No caso das bebidas, o calor favorece o consumo. “É inflação de demanda. A gente consome muito mais bebidas no clima mais quente, o que favorece, inclusive, bares e restaurantes”, pontua Inácio.

A energia elétrica também foi lembrada. O acionamento da bandeira vermelha impactou não só a RMBH como todo o País. “A bandeira tarifária vermelha também está associada à estiagem. Estamos pagando o preço deste clima adverso, com eventos climáticos mais severos como as estiagens mais longas”, explica o assessor econômico do BDMG.

Por último, Bruno Inácio lembra dos combustíveis. A RMBH tem praticado preços mais altos que a média nacional neste ano. E isso tem pressionado a cesta de consumo por aqui. “Vale lembrar que quando falamos de combustíveis, estamos falando de um item que se desdobra nos demais. Sobe combustível, sobe tudo”, conclui.

Projeções são de estabilidade do cenário

O economista do C6 Bank, Heliezer Jacob, estima que essa pressão causada pelo aumento da energia elétrica deve permanecer durante outubro em todo o País por causa do acionamento da bandeira vermelha 2.  

Para a RMBH, Bruno Inácio do BDMG destaca que a continuidade dos efeitos climáticos afetarão os preços dos alimentos até o final do ano.

“Devemos ter uma pressão de preços ligados à agricultura e à pecuária nos próximos meses, pois agora viveremos o efeito de ‘La niña’, avalia.

Entretanto, pondera, em termos de serviços que estavam tendo alta muito forte no início do ano, os números mostram uma leve melhora que deve se perpetuar.

No País, alta de 0,44% é puxada pela energia elétrica

No âmbito nacional, os impactos são semelhantes aos vistos na RMBH. De acordo com o gerente da pesquisa do IBGE, André Almeida, o resultado foi influenciado principalmente pelas altas no grupo de habitação (1,8%), após aumento nos preços da energia elétrica residencial, que passou de -2,77% em agosto para 5,36% em setembro, e no grupo de alimentação e bebidas (0,5%), que subiu após dois meses consecutivos de quedas.

Almeida destaca a influência da bandeira tarifária da energia elétrica residencial nos resultados de habitação.

“A mudança de bandeira tarifária de verde em agosto, onde não havia cobrança adicional nas contas de luz, para vermelha patamar um, por causa do nível dos reservatórios, foi o principal motivo para essa alta. Essa bandeira vermelha patamar um acrescenta R$ 4,46 aproximadamente a cada 100 kWh consumidos”, explica. O item exerceu impacto de 0,21 ponto percentual no índice geral de setembro.

O grupo de alimentação e bebidas registrou alta de 0,50%, com aumento de preços na alimentação no domicílio (0,56%), após dois meses seguidos de recuos. André Almeida salienta que esse resultado foi influenciado, em grande parte, pelo aumento nos preços da carne bovina e de algumas frutas como laranja, limão e mamão.

“Falando especificamente das carnes, a forte estiagem e o clima seco foram fatores que contribuíram para a diminuição da oferta. É importante lembrar que tivemos quedas observadas ao longo de quase todo o primeiro semestre de 2024, com alto número de abates. Agora, o período de entressafras está sendo intensificado pela questão climática”, analisa o gerente.

Também em âmbito nacional, o economista do C6 Bank, Heliezer Jacob, estima que o IPCA feche o ano em 4,7%, acima do teto da meta, que é em torno de 4,5%. Ele diz ainda que para 2025 a previsão é que a inflação fique em 4,8%.    

A estimativa do banco é que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) siga com o ciclo de alta da Selic nas próximas decisões, com ajustes de 0,5 ponto percentual nas reuniões de novembro e dezembro.

“Projetamos Selic em 11,75% ao final de 2024 e em 10% ao final de 2025”, afirma Jacob.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas