Economia

Inflação das férias apresenta desaceleração, aponta FGV-Ibre

O grande destaque foi a passagem aérea, que sofreu redução de 18,97% em novembro do ano passado
Inflação das férias apresenta desaceleração, aponta FGV-Ibre
Foto: Alisson J. Silva / Arquivo / Diário do Comércio

A inflação dos produtos e serviços típicos do período de férias apresentou uma desaceleração, recuando de 7,32%, em novembro de 2023, para 2,87% no mesmo período do ano passado. Mesmo assim, alguns itens de lazer e consumo continuam entre os principais vilões da alta de preços, enquanto outros surpreendem com reduções expressivas.

O levantamento foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), com base nos dados mais recentes do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O coordenador dos índices de preços do FGV Ibre, André Braz, avalia que o verão de 2024 foi menos desafiador se comparado com o mesmo período do ano anterior, o que acaba influenciando no ritmo dos preços. “Um verão mais ameno também faz com que os preços tenham uma inflação um pouco mais amena. É uma resposta do próprio mercado, a lei da oferta e da procura”, explica.

No entanto, o especialista alerta para a possibilidade de alta dos preços destes produtos e serviços, devido à desvalorização cambial, porém, tudo dependerá de como será a política monetária adotada. Ele ainda destaca que se o clima for de estações mais definidas, é possível que tenhamos uma inflação mais elevada dos itens de férias, causado pela alta demanda.

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Já o economista e colunista do Diário do Comércio, Guilherme Almeida, aponta que um dos fatores que podem explicar essa desaceleração no indicador são os efeitos causados pelos juros restritivos. Ele lembra que, em 2023, esses efeitos ainda estavam em um estágio inicial, passando a ter maior relevância na demanda ao longo do ano seguinte.

“Se nós compararmos os índices de inflação do ano passado com 2023, em relação a esses itens selecionados, vamos perceber que o efeito dos juros foi maior e mais forte em 2024”, compara.

Queda no preço da passagem aérea

Outro fator que explica esse cenário, segundo Almeida, é a desaceleração da inflação de alguns subitens que compõem o indicador, como é o caso da passagem aérea, que registrou queda de 18,97% em novembro do ano passado. Essa foi a maior redução entre os itens analisados na pesquisa.

Para o economista, a variação negativa no preço da passagem aérea foi causada por dois motivos principais. O primeiro seria a redução no valor médio do litro de querosene utilizado pelo setor de aviação comercial como combustível.

“Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), tivemos uma redução de 11,4% no valor médio do litro comercializado nos meses de outubro e novembro. Então, isso representa um custo menor para as companhias aéreas e, consequentemente, o repasse para as passagens acaba ocorrendo via redução dos preços”, explica.

Além disso, o economista aponta que o aumento na oferta de voos e de assentos ao longo de 2024 frente ao que foi registrado no ano anterior também pode ter tido sua parcela de contribuição para essa redução.

André Braz também aponta para a influência da demanda nos preços das passagens, que registraram alta de mais de 20% em novembro. No entanto, ele acredita que o cenário pode mudar em 2025 devido ao aumento no valor da querosene e na demanda, devido à melhor situação econômica e de trabalho.

“A história em 2025 deverá ser um pouco diferente do ano anterior. O saldo dos movimentos dos preços das passagens ao longo deste ano deve ser positivo, ou seja, ela deve subir de preço pressionando mais a inflação por conta desse aumento de custos e da própria demanda”, completa.

Os outros destaques do estudo incluem o transporte por aplicativo (-4,94%) e os pacotes turísticos (-4,37%), que contribuíram para aliviar o orçamento de quem planejou viagens no período de férias.

Metrô BH.
Inflação na passagem de metrô subiu de 1,49%, no 11º mês de 2023, para 10,56% em novembro do ano passado. Foto: Divulgação Metrô BH

Metrô e serviços de streaming mantém índice no positivo

Entre os itens que contribuíram para segurar a queda do indicador, dois estão entre os grandes destaques, o metrô e os serviços de streaming. A inflação na passagem de metrô subiu de 1,49%, no 11º mês de 2023, para 10,56% em novembro do ano passado. Já o índice que mede o valor dos serviços de streaming, saltou de 1,07% para 10,88% no período.

O economista ressalta que os preços do metrô são caracterizados como ‘administrados’, pelo fato de serem regidos por contratos, com valores reajustados periodicamente. Como em muitas metrópoles brasileiras este é um dos principais meios de transportes utilizados pelos turistas, os reajustes acabam tendo um peso maior no índice de férias.

“Nós tivemos o fator contratual, de reajuste das passagens de metrô e, consequentemente, essa inflação de quase 11%”, reforça.

Já o coordenador dos índices de preços do FGV Ibre, destaca que o comportamento dos preços das tarifas do metrô estão relacionados ao tempo entre um reajuste e outro. “Em algumas épocas o serviço fica sem reajuste anual, às vezes por período superior a 12 meses o preço não é revisto e quando ocorre o reajuste ele sofre uma intensidade mais forte”, relata.

Quanto aos serviços de streaming, Almeida avalia que o cenário é parecido com o do preço do metrô, apesar de não ser um item administrado, mas é um serviço contratual passível de reajuste, assim como de negociação entre as partes envolvidas.

Para Braz, os valores do streaming, diferente do metrô, respondem à própria demanda, ou seja, em períodos de maior crescimento da atividade econômica e menor desemprego esse serviço passa a fazer parte de um pacote permanente das famílias.

“À medida que o bem-estar social melhora, a cesta de consumo das famílias se amplia e esses serviços de streaming acabam sendo um tipo de lazer relativamente barato. E pela lei da oferta e da procura quanto maior a demanda, maior o preço e eu acho que esse aumento que ele”, aponta.

O outro destaque foram os doces, que subiram de 2,76% para 5,12%. Com essa variação entre altas e reduções, a inflação das férias reflete o comportamento do mercado e as tendências de consumo, impactando diretamente os gastos relacionados ao lazer e turismo.

Pessoa descansando na praia.
Planejamento financeiro ainda é uma das melhores opções para evitar imprevistos. Foto: Adobe Stock

Planejamento para fugir da inflação no período de férias

Dentre as maneiras que os consumidores podem fazer para evitar os impactos gerados pela inflação dos produtos e serviços típicos do período de férias, o economista destaca o planejamento. Para ele, esse tipo de comportamento pode evitar qualquer tipo de imprevisto com relação ao aspecto financeiro e também pessoal.

“Durante o processo de planejamento, as famílias precisam avaliar qual é a sua capacidade orçamentária e contrastar isso com as suas intenções, como o destino das férias, o que será adquirido ou consumido. Todo esse planejamento é importante para que haja um controle do orçamento familiar frente a essas variações de preços”, considera.

Além disso, Almeida destaca a necessidade de realizar algumas pesquisas prévias que possibilitaram que as escolhas sejam mais flexíveis. “A família que vai viajar em janeiro pode começar a se planejar em julho, agosto ou setembro do ano anterior para avaliar quais são as melhores localidades com os melhores preços e buscar por passagens aéreas mais baratas”, explica.

O coordenador dos índices de preços do FGV Ibre ressalta que o consumidor possui mais força do que imagina, sendo capaz de rejeitar ou consumir menos de um produto que registrou uma forte elevação de preço. Esse tipo de comportamento pode servir como uma mensagem indicando que o nível de preços praticado não é o ideal.

“Eu acredito que o consumidor deve exercer mais o seu poder, procurando substituir ou consumir menos aquilo que for possível. Em algumas situações, o preço vai responder à própria restrição de oferta”, destaca.

O especialista ainda pontua que, em algumas situações, o valor responde à própria restrição de oferta, como a safra de determinado produto, por exemplo. Nestes casos, não há muito que ser feito. “Se é um produto cuja oferta depende da safra e ela for mal sucedida, o preço vai subir”, completa.

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