Economia

Inflação na RMBH dispara em prévia, puxada pela gasolina

Inflação na RMBH dispara em prévia, puxada pela gasolina
Aumento no preço do etanol ocorre porque a cana-de-açúcar em grande parte do País está no período de entressafra | Crédito: Charles Silva Duarte/ Arquivo DC

Em abril de 2022, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) avançou 1,73% na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) –  sexto maior resultado mensal entre as 11 áreas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No País, a variação da prévia da inflação mensal foi também de 1,73%. Já as variações acumuladas em 12 meses foram de 11,55% na RMBH  – o quarto menor resultado entre as áreas de abrangência da pesquisa, e de 12,03% no Brasil.

Na Grande BH, o grupo Transportes apresentou o maior aumento percentual, com a gasolina apresentando o maior impacto individual positivo no índice. Os aumentos se repetiram em setores fundamentais (vestuário, alimentação, remédios), mostrando que a inflação continua longe do centro da meta. Em março, a alta do IPCA-15 foi de 1,05% na região, inferior à de fevereiro, que foi de 1,13%.

Os problemas mundiais de logística, provocados pelo fechamento do porto de Xangai pela Covid e a guerra na Ucrânia, só agravam o problema, que atinge não só o Brasil. Aqui, porém, a inflação ganha força, com medidas de contenção da demanda que desaceleram o processo produtivo. Há ainda a temporada eleitoral, na qual embates entre poderes e medidas eleitoreiras trazem ainda mais incertezas para a economia.

Na região metropolitana, os setores que mais aumentaram preços foram os de Transportes (3,35%), Vestuário (2,67%), Alimentação e Bebidas (2,13%), Habitação (1,40%), Saúde e Cuidados Pessoais (1,08%), Artigos de Residência (0,89%), Despesas Pessoais (0,44%) e Educação (0,11%). Apenas o setor de Comunicação apresentou deflação, de -0,05%.

A alta no setor de Transportes (3,35%) impactou o índice geral de abril em 0,72 ponto percentual. O resultado foi provocado, principalmente, pelo aumento da gasolina (6,88%), o maior impacto individual no mês, de 0,49 ponto percentual. Ainda neste grupo, houve altas do óleo diesel (12,34%), do seguro voluntário de veículos (7,09%) do etanol (5,89%) e do automóvel usado (1,30%).

A elevação dos preços no grupo Vestuário (2,67%) se deve, principalmente, ao aumento das roupas (3,21%), impactando o índice em 0,10 ponto percentual. Já em Saúde e cuidados pessoais (1,08%), os produtos farmacêuticos aumentaram 4,20%, devido ao reajuste de até 10,89% no preço dos medicamentos, aplicado a partir de 1º de abril. Remédios para controle da hipertensão e do colesterol, de amplo uso da população, aumentaram 5,79%. O gás de botijão aumentou 8,73%.

Alimentação e bebidas

No grupo de Alimentação e Bebidas (2,13%) os destaques foram o leite longa vida (15,55%), o tomate (19,72%), o óleo de soja (11,65%), a maçã (11,28%) e o pão francês (3,27%). Entre os produtos que tiveram maiores reduções de preço, estão banana prata (-20,08%) e carne de porco (-2,41%).

Para o economista Paulo Bretas, coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed-MG), os problemas seguem sendo os mesmos. “A pandemia fez novo ataque na China, prejudicando as cadeias produtivas e a logística, já que os portos chineses pararam de operar a plena carga. Paralelamente, temos a guerra na Ucrânia, que é uma importante produtora de alimentos, e as consequências das sanções impostas à Rússia”, apontou.

Para Bretas, o Brasil tem problemas locais que agravam ainda mais a inflação. “Mesmo com o dólar caindo um pouco em relação ao real, o refresco não melhorou a aceleração dos reajustes. Tratar uma inflação de oferta com medidas de contenção de demanda vai controlar apenas efeitos secundários, sem falar que os juros altos diminuem investimentos e aumentam custos financeiros das empresas, que os repassam para seus preços”.

O economista alertou para um problema grave que requer a atenção dos bancos e do governo: o crescimento da taxa de inadimplência de pessoas físicas e jurídicas. “A tendência é piorar”, diz Bretas.  “Ainda vamos ter que conviver com inflação alta e queda do poder de compra da população por um bom tempo. Neste contexto, a recuperação dos empregos também vai ficando mais difícil com indústrias em marcha lenta e o setor de serviços paralisando sua recuperação”, finalizou.

Índice do País tem a maior elevação em 27 anos

Rio de Janeiro – Puxada pela disparada da gasolina, a inflação medida pelo IPCA-15 no País acelerou para 1,73% em abril, segundo divulgou ontem (27) o IBGE. É a maior variação para o mês em 27 anos. Ou seja, desde abril de 1995 (1,95%), período inicial do Plano Real. Em março de 2022, o IPCA-15 havia subido 0,95%.

Com os dados de abril, o IPCA-15 passou a acumular alta de 12,03% em 12 meses. É a maior desde novembro de 2003 (12,69%). Até março deste ano, estava em 10,79%.

“Houve até uma surpresa com o IPCA-15 abaixo das expectativas, mas o contexto ainda é de uma inflação muito pressionada”, afirmou o economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos.

Neste caso, os preços foram coletados de 17 de março a 13 de abril. Isso significa que o índice captou reflexos econômicos da fase inicial da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Com o conflito no Leste europeu, houve disparada das cotações do petróleo no mercado internacional, o que levou a Petrobras a promover um mega-aumento nos preços de combustíveis nas refinarias em 11 de março.

Gasolina

De acordo com o IBGE, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA-15 tiveram altas de preços em abril. A maior variação (3,43%) e o principal impacto (0,74 ponto percentual) no índice do País vieram dos transportes, que aceleraram em relação a março (0,68%).

O grupo foi influenciado justamente pelo aumento dos combustíveis (7,54%). A gasolina teve alta de 7,51%. Assim, respondeu pelo maior impacto individual no IPCA-15 do mês (0,48 ponto percentual).

Também houve altas no óleo diesel (13,11%), no etanol (6,60%) e no gás veicular (2,28%).

Ainda em transportes, as passagens aéreas, que haviam recuado em março (-7,55%), subiram 9,43% em abril. Já os preços do seguro de veículo (3,03%) aceleraram pelo oitavo mês consecutivo, acumulando avanço de 23,46% em 12 meses.

Táxis (4,36%), passagens de metrô (1,66%) e ônibus urbanos (0,75%) tampouco escaparam da carestia.

Comida – O segmento de alimentação e bebidas veio na sequência do ranking dos grupos, atrás de transportes. A alta nesse ramo foi de 2,25%, com impacto de 0,47 percentual no IPCA-15. O resultado de alimentação e bebidas do País foi puxado pelos itens consumidos no domicílio (3%), com destaque para tomate (26,17%) e leite longa vida (12,21%).

Outros produtos também tiveram altas expressivas. É o caso da cenoura (15,02%), do óleo de soja (11,47%), da batata-inglesa (9,86%) e do pão francês (4,36%). A cenoura, aliás, acumulou disparada de 195% em 12 meses. Trata-se da variação mais intensa nessa base de comparação.

No início do ano, a produção de alimentos foi impactada pelo clima adverso no Brasil. Os registros de seca no Sul, além de chuvas fortes no Nordeste e no Sudeste, castigaram plantações diversas. Assim, geraram reflexos sobre a oferta e os preços da comida.

A guerra na Ucrânia também pressionou as cotações de commodities agrícolas como o trigo. O insumo é usado na fabricação de pães, massas e biscoitos.

Juntos, transportes e alimentação e bebidas responderam por cerca de 70% do IPCA-15 de abril. Na comparação entre diferentes meses, a alta de 1,73% é a maior do índice desde fevereiro de 2003 (2,19%).

Pressão

No acumulado de 12 meses, o indicador prévio está bem acima da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA. O centro da medida de referência é de 3,50% em 2022. Já o teto foi definido em 5%. Analistas do mercado financeiro projetam estouro da meta em 2022, o que significaria o segundo ano consecutivo de descumprimento.

A alta prevista pelo mercado para o IPCA é de 7,65% até dezembro, de acordo com a mediana do boletim Focus, publicado pelo BC. Há instituições financeiras que projetam avanço ainda maior, na faixa de 8%.

Para tentar conter a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) vem elevando a taxa básica de juros. Em março, o colegiado subiu a Selic para 11,75% ao ano.

Na visão de analistas, a disparada do IPCA-15 em abril mantém a pressão sobre o Copom, que volta a se reunir nos dias 3 e 4 de maio. A expectativa é de um avanço de 1 ponto percentual na Selic, que iria para 12,75%. (Folhapress)

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