Economia

Inflação pressiona endividamento na Capital

Em abril, índice recuou 1,1 ponto em Belo Horizonte, mas ainda assim patamar de famílias com dívidas é alto: 87,9%
Inflação pressiona endividamento na Capital
Crédito: Pexels

O número de famílias que possuem contas ou dívidas em Belo Horizonte diminuiu no mês de abril, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Fecomércio-MG. O índice recuou 1,1 ponto, mas, mesmo sendo o valor mais baixo desde setembro de 2021, continua em um patamar alto, de 87,9%. O índice mineiro é superior ao nacional, que é de 77,7% de famílias endividadas – dez pontos percentuais a mais do que em abril de 2021, quando era de 67,5%.

A média de endividamento na capital mineira é de 67,8%, considerando a série histórica, o que mostra o quão elevado é o índice atual. O principal fator para esses níveis de endividamento é a conjuntura econômica, de inflação elevada. “Com um IPCA de 11,3% ao ano, a influência é bastante direta, já as famílias se veem afetadas pela elevação dos preços e adquirem dívidas para manter o padrão de consumo”, observa o economista-chefe da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida.

Ele destaca a diferença entre os conceitos de endividamento e inadimplência. “O primeiro é todo e qualquer compromisso financeiro que o consumidor adquire, e inclui por exemplo a fatura do cartão de crédito que vai chegar no final do mês”, explica Almeida. Já a inadimplência acontece quando o consumidor atrasa o pagamento da dívida. Ela também está em patamar elevado na Capital: os consumidores com contas em atraso chegam a 44,4%.

“Isso é bastante negativo pois acarreta diversos impedimentos legais e o consumidor, com o nome sujo, fica à margem do mercado de crédito”, aponta o economista. “Isto é fruto dessa conjuntura adversa pela qual passamos, que inclui ainda uma elevada taxa de desemprego, a queda da renda das famílias e o encarecimento do crédito, que só ampliam a inadimplência”.

O aumento da Selic piora este cenário. Ao sair de um nível histórico, de 2% na taxa básica de juros no início do ano passado, para os 12,75% definidos ontem, sua elevação se reflete em todos os instrumentos de crédito dos quais as famílias lançam mão para fazer face aos gastos.

O principal deles em Belo Horizonte é o cartão de crédito. Em abril, 84,4% dos consumidores da Capital se comprometeram com essa modalidade. “É importante ter atenção e se planejar para não perder o controle do orçamento, uma vez que essa modalidade possui um dos maiores juros praticados no mercado”, afirma Almeida.

Crédito pessoal, carnês e financiamentos de carro e casa também são dívidas muito contraídas na capital mineira. Vale mencionar também a utilização do cheque especial: em abril, o número de usuários aumentou 9,6%, um aumento de 2,2 pontos percentuais em relação a março. Entre o público com renda superior a dez salários mínimos, o aumento foi ainda maior, passando de 7,2% em março a 10,9% em abril.

No índice geral, 14,8% das famílias acreditam que não terão condições de pagar suas contas que já estão atrasadas. Entre as famílias cuja renda é de até dez salários mínimos, o índice chega a 16,5%. A pesquisa também mostra que as dívidas estão atrasadas há 62,4 dias, em média.

Para Guilherme Almeida, a pressão inflacionária também explica a forma mais acentuada com que a inadimplência afeta as famílias de renda mais baixa. “Isso ocorre porque há itens da cesta de consumo que têm pesos diferentes no orçamento familiar. As que têm renda de até dez salários mínimos geralmente contratam dívidas para produtos e serviços de primeira necessidade, tais como gás, energia elétrica, combustíveis, medicamentos e compras de supermercado”, explica.

E mesmo diante de uma inflação alta, o consumo continua em um patamar razoavelmente elevado. Isso acontece pela essencialidade dos bens consumidos, que são itens dos quais as famílias não podem abrir mão. “Em termos de alimentos, o máximo que o consumidor pode fazer para reduzir gastos é substituir marcas ou produtos, mas em um processo generalizado de aumento de preços, o orçamento familiar é impactado do mesmo jeito”, conclui o economista.

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