Economia

Inflação registra alta de 6,33% em 2022 na Capital

Elevação do IPCA calculado pelo Ipead é puxada pelo grupo de alimentação (12,90%)
Inflação registra alta de 6,33% em 2022 na Capital
Favorecido pela redução de impostos, o preço da gasolina fechou o ano passado com retração de 29,43% | Crédito: EDILSON RODRIGUES / AGÊNCIA SENADO

Em dezembro, a inflação, em Belo Horizonte, apresentou alta de 1,05%. O resultado mensal fez com que, em 2022, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrasse com variação positiva de 6,33%. De acordo com os dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), no ano, a maior contribuição para a alta veio do grupo de alimentação, que avançou 12,90%.

Já entre os itens, o maior destaque entre os produtos que contribuíram para a alta da inflação em 2022 foi o automóvel novo, com uma elevação de 16,69% nos preços. No sentido contrário, as reduções de impostos fizeram com que a gasolina segurasse a alta do IPCA na Capital, uma vez que o produto encerrou o ano com queda de 29,43%.

O gerente de Pesquisa do Ipead, Eduardo Antunes, explica que a alta da inflação em dezembro – 1,05% – foi bem expressiva e já era esperada. “A demanda aumenta devido às festas de final de ano e, isso, acaba elevando a inflação”. 

No último mês do ano, os produtos que mais contribuíram para o incremento do custo de vida foram os serviços de dentistas, com 8,21% de alta, passagem aérea, 24,64%, e automóvel novo, 1,51%. Dentre as quedas, remédio para diabetes, 17,83%, e gasolina comum com retração de 0,82%. 

No que se refere ao fechamento de 2022, em Belo Horizonte, o avanço no IPCA de 6,33%, segundo Antunes, ficou abaixo do registrado em 2021, mas, mesmo assim, superou a meta estimada para o Brasil, de no máximo 5%.

“No ano, Belo Horizonte apresentou uma inflação de 6,33%, o índice ficou 3,3 pontos percentuais abaixo da alta de 2021, que foi de 9,63%. Ao longo do ano, houve uma retração, uma vez que o índice chegou aos 12%. A redução dos impostos sobre combustíveis, energia elétrica e telefonia contribuíram para segurar a alta”.

De acordo com os dados do Ipead, ao longo do ano, o grupo Alimentação registrou a maior variação positiva, de 12,90%, o que gerou uma contribuição de 2,12 pontos percentuais para a inflação anual. O grupo dos Não-Alimentares apresentou uma variação positiva de 5,04% e contribuição de 4,21 p.p., representando 66,51% da contribuição total de 2022.

Em 2022, todos os cinco itens de alimentação apresentaram elevação, sendo o destaque para Alimentos industrializados com uma alta de 15,93% nos preços, seguido por  Alimentação em restaurante, 7,80%, Alimentos elaboração primária, 11,93%, Alimentos in natura, 33,33%, e Bebidas em bares e restaurantes, 9,40%.

Os produtos alimentares que mais contribuíram para o aumento da inflação foram a refeição, com alta de 11,31% e 0,53 pontos na composição do IPCA, seguida pelo leite, com alta de 37,35%, o pão francês, 17,63%, a batata inglesa, 90,86%, e a maçã, 89,17%.

“A alta dos alimentos foi bastante expressiva e por serem itens de consumo diário, afetam de forma significativa a população”, explicou Antunes.

Com relação à variação de preços, especificamente, o produto alimentar que apresentou a maior elevação no ano de 2022 foi a cebola, 94,30%.

Dentre os produtos do grupo não alimentares, grupo que apresentou alta de 5,04%, o item que mais se destacou foi Despesas pessoais, com variação de 9,16% e correspondendo a 46,99% de participação na variação geral do IPCA. O grupo Saúde e cuidados pessoais veio em seguida, com 12,64% de variação, Encargos e manutenção, com 10,46%, Artigos de residência, 7,93% e Vestuário e complementos, 11,76%. No período, o item Produtos administrados registrou queda de 6,95%.

Entre os não alimentares, a maior contribuição para a alta da inflação veio do automóvel novo, com elevação de 16,69%, do empregado doméstico, 10,18%, do seguro voluntário de veículos, 34,28%, e IPTU, 10,42%. A maior elevação de preços foi vista na passagem aérea, 99,59%.

No ano, produtos importantes tiveram peso para que a inflação não subisse ainda mais. Entre os alimentos que contribuíram para isso estão o lanche, com queda de 2,51%, e o filé mignon, 12,75%.

Dentre os não alimentares, o destaque foi a queda de 29,43% na gasolina. A retração do produto foi a maior em peso e também em valor do grupo. Outras importantes quedas foram a de 24,71% na energia elétrica, de 9,35% em excursões, e de 20,18% em telefonia móvel.

“Gasolina, telefonia e a energia foram itens beneficiados pela redução tributária adotada pelo governo federal em meados de 2022. A medida ajudou a frear a inflação, que chegou a superar 12% em alguns períodos do ano passado”.

Antunes destaca ainda que é impossível fazer alguma previsão sobre o comportamento da inflação em 2023, mas alerta que janeiro costuma ser um mês de alta no custo de vida. “Janeiro concentra o reajuste das escolas, do IPTU e a população viaja mais. Também teremos um reajuste da Copasa. Tudo isso, deve contribuir para o aumento do índice”. 

Cesta básica

O ano passado também foi marcado pela elevação da cesta básica. De acordo com os dados do Ipead, em Belo Horizonte, a cesta básica apresentou variação positiva de 0,13% em dezembro frente a novembro. O valor chegou a R$ 711,48, preço equivalente a 58,7% do salário mínimo.

Ainda que pequena, a variação positiva no último mês fez com que o valor da cesta avançasse 16,86% em 2022. A variação no ano ficou muito acima da inflação acumulada no período, que foi de 6,33%.

Em dezembro, os itens que apresentaram maior variação positiva foram o feijão carioquinha, com alta de 10,99%, seguido pela batata inglesa, 7,10%, e arroz, 6,4%. Entre as quedas, destaque para a banana caturra, 24,05%, manteiga, 3,07%, e café moído, 1,22%.

Já no fechamento do ano, os produtos que ficaram mais caros foram a batata inglesa, 90,77%, leite pasteurizado, 49,60%, farinha de trigo, 32,18%, e tomate, 30,53%. No período, somente o açúcar cristal registrou queda, de 1,88%.

Índice de Confiança 

Em dezembro, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC-BH) alcançou 43,79 pontos, apresentando uma alta de 4,44% na comparação com novembro. O resultado contribuiu para que o ICC aumentasse 25,58% em 2022 em relação ao ano anterior.

“A confiança do consumidor manteve a tendência de alta e chegou a 43,9 pontos. Esta foi a maior alta em oito anos. Apesar de ainda estar abaixo de 50 pontos (fronteira entre a situação de pessimismo e otimismo), a percepção  melhorou muito”, explicou o gerente de Pesquisa do Ipead, Eduardo Antunes.

Ao longo de dezembro, o Índice de Expectativa Econômica (IEE) apresentou alta de 11,54% em comparação com o valor do mês anterior, influenciado pela alta na percepção dos consumidores sobre o item emprego (14,24%), situação econômica do País, 12,7%, e inflação, 6,17%.

O Índice de Expectativa Financeira (IEF) apresentou queda em comparação com o mês de novembro, 0,42%, sendo o item pretensão de compra o que apresentou a única queda do setor, de 8,32%. Em situação financeira da família houve avanço de 1,74%, e situação financeira da família em relação ao passado, 1,77%.

Com Jair Bolsonaro, alimentos subiram 57%

Um período a ser esquecido. Os consumidores brasileiros há quase três décadas não eram tão castigados por uma inflação dos alimentos como nos anos recentes.

No período do governo de Jair Bolsonaro, os alimentos subiram, em média, 57%, um percentual bem acima dos 30% da inflação geral do período. Em alguns casos, os reajustes acumulados dos alimentos do início de 2019 ao final de 2020 beiraram os 200%.

Os dados acumulados no período são da Folha de S.Paulo, com base nas informações de 2022 divulgadas pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Pior, foi um período de aumento na taxa de desemprego, perda na renda dos consumidores e ausência de reajustes no salário mínimo.

Os alimentos, inclusive os básicos, ficaram distantes do poder aquisitivo de boa parte da população. Isso elevou para 33 milhões o número de pessoas que tiveram dificuldades para se alimentar.

As principais altas de preços atingiram principalmente os produtos alimentícios que deveriam ser mais acessíveis no dia a dia da população. Cebola, batata, feijão, fubá e óleo de soja estiveram entre as principias altas do período.

Do café da manhã às demais refeições diárias, o custo dos alimentos sempre esteve ascendente, inibindo a quantidade de produtos na mesa.

Os consumidores de baixa renda, além de sofrerem a queda no poder aquisitivo, tiveram os maiores reajustes.

Quem foi ao açougue comprar um quilo de acém pagou 94% a mais pela proteína nos últimos quatro anos. Quem teve renda e optou por um quilo de picanha teve reajuste de 52% no período. O fubá subiu 112%, e o ovo, 78%.

O campo foi afetado por uma tempestade perfeita nos últimos anos. As safras foram crescentes, mas a demanda externa foi tão acentuada que influenciou fortemente os preços e o abastecimento internos.

Um fenômeno já conhecido dos produtores, e que os visitava de tempos em tempos, as adversidades climáticas, resolveu comparecer com maior frequência. O resultado foram quebras históricas nas safras de soja, milho, café, arroz, feijão e hortifrútis.

Conflitos geopolíticos, como o da Rússia e da Ucrânia, dois importantes fornecedores de alimentos ao mundo, aumentaram as tensões e os problemas de abastecimento.

Faltou ao governo que sai uma atenção especial aos produtos voltados principalmente para o mercado interno. Recai sobre o governo que entra uma política de reversão dessas pressões externas que, ao priorizar alguns produtos – como soja e milho –, interfere na produção de outros itens essenciais internamente.

A disparada de preços internos começou com o apetite chinês. Com a propagação da peste suína africana naquele país, em 2018, os chineses, até então importadores de soja do Brasil, passaram a liderar também as compras de proteínas brasileiras.

A produção chinesa de carne suína, normalmente em 55 milhões de toneladas por ano, recuou para menos de 40 milhões. Com isso, a China desestabilizou o mercado mundial de proteínas. Escolheram o Brasil como principal fornecedor, devido ao potencial dos brasileiros. Os preços internos dispararam.

A pandemia trouxe novos desafios para o campo. Não houve interrupção de produção, mas a logística encareceu o sistema. Custos maiores ainda vieram do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Além de fornecedora de grãos, a região é uma das principais no fornecimento de insumos para a agricultura. Os fertilizantes dispararam de preços.

A pandemia forçou mudanças de rumos em alguns setores produtivos, principalmente nos de hortifrútis e de leite, dois dos mais afetados no abastecimento.

Houve um desinvestimento por parte dos produtores com menor capital, o que provocou uma redução da oferta e uma aceleração nos preços.

O setor leiteiro é um dos exemplos. A queda na oferta de produto fez o preço do leite longa vida subir 26% apenas no ano passado nos supermercados, segundo a Fipe.

O dólar alto mudou também o comércio internacional para os brasileiros, encarecendo importações e favorecendo exportações. O país atingiu recordes de vendas externas em produtos não imaginados antes.

As exportações de trigo somaram 3,1 milhões de toneladas no ano passado. Houve aceleração das vendas externas também de arroz. Até o feijão entrou na rota das exportações.

Cenário

O consumidor brasileiro, principalmente o de menor renda, vai ter de conviver com um cenário de preços elevados por um bom tempo. A inflação dos alimentos já mostra um ritmo menor de alta, mas o patamar registrado pelos alimentos não tem sinais de queda.

A demanda externa continua elevada; os preços internacionais mudaram de patamar; e a produção de grãos, por mais que os produtores tentem elevar o volume, vão depender cada vez mais de um clima inconstante.

O Brasil teve perda de produção nos últimos dois anos por adversidades climáticas, o mesmo ocorrendo nos Estados Unidos e na Europa. Provavelmente sempre haverá o país da vez.

Nesta safra, os argentinos deverão colher de 12 milhões a 14 milhões de toneladas de trigo, um volume bem inferior do que os 22,5 milhões da anterior.

Essas quebras de produção, que se tornam cada vez mais constantes, alteram o panorama internacional e exigem programas especiais de abastecimento por parte dos governos. O Brasil vai ter de se programar para isso. (Mauro Zafalon/Folhapress)

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