Intenção de consumo cresce em BH, mas segue aquém do ideal

As famílias da capital mineira estão um pouco mais confiantes na economia no mês de abril, informou a pesquisa Intenção de Consumo das Famílias (ICF), divulgada pela Fecomércio-MG. O índice cresceu um ponto: passou de 68,9 pontos em março para 69,9 em abril, ainda bem abaixo dos 100 pontos, que registram o mínimo de satisfação dos consumidores com seu emprego, renda e capacidade de consumo – a avaliação vai de zero a 200.
“Apesar dessa recuperação, nós temos um cenário macroeconômico impactado por fatores que podem inviabilizar uma plena retomada da confiança das famílias, como a inflação alta, o desemprego e a taxa de juros em elevação, que encarece o crédito, tornando-o mais restrito”, avaliou o economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida.
O principal destaque positivo do levantamento é o nível de segurança dos chefes de família em relação à estabilidade de seus empregos, que obteve o maior índice entre os indicadores. Segundo a pesquisa, 24,9% das pessoas sentem-se mais seguras no emprego do que no mesmo mês do ano passado. O índice atingiu o valor de 103,7 pontos, revelando uma percepção de satisfação dos consumidores. Em abril de 2021, ele era de 96.3.
Contribuem para essa percepção fatores sazonais e conjunturais, disse Almeida. “Nós tivemos neste período contratações para datas comemorativas importantes como a Páscoa e o Dia das Mães. E também uma retomada do emprego formal, já que o Caged apontou um saldo de 62 mil empregos de carteira assinada criados em Minas no primeiro trimestre”, afirmou o economista.
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Rendimentos
O número de pessoas que consideram sua renda atual melhor que a do ano passado aumentou, mas o otimismo com a melhoria profissional nos próximos seis meses diminuiu, o que pode ser atribuído a instabilidades no cenário político e econômico, como a guerra no Leste europeu e a proximidade das eleições.
O índice de renda atual foi o que obteve o maior aumento no período analisado, 86,0 pontos, resultado 3,8 pontos superior ao obtido no mês anterior. Segundo o ICF, o número de entrevistados que consideram a renda atual melhor que a do ano passado foi de 18,8% em março para 20,9% em abril.
Em contrapartida, o número de pessoas otimistas em relação à melhora profissional nos próximos seis meses diminuiu entre um mês e outro. O índice de perspectiva profissional foi de 84,1 pontos em abril, resultado 0,6 ponto, inferior ao obtido na última análise. Conforme o levantamento, 36% dos responsáveis pelo domicílio acham que terão alguma melhora profissional nos próximos semestres, enquanto 52,5% não têm tal expectativa.
Para Almeida, a tendência de insegurança das famílias em relação à perspectiva profissional está ligada às instabilidades no cenário político e econômico. “As incertezas associadas ao choque de oferta, ao conflito internacional e ao período eleitoral, podem frear o investimento produtivo, retirando fôlego da retomada do emprego”, explicou o economista-chefe da Federação.
Compra de bens duráveis
O pior resultado da pesquisa está na intenção de consumo de bens duráveis – 90% avaliam que não é hora de comprar um automóvel ou uma nova máquina de lavar roupas. “O consumo desse tipo de bem depende muito da certeza que a pessoa tem em relação ao emprego, à renda, aos preços e também à disponibilidade de crédito. Com a Selic anunciando que vai superar os 13%, o momento é negativo para a aquisição de bens duráveis”, conclui Almeida.
Mineiros mudaram hábitos, diz FCDL
Pesquisa da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Minas Gerais (FCDL-MG) revelou que 98% dos consumidores mineiros mudaram seus hábitos de consumo para garantir a segurança financeira de suas famílias. Com o aumento dos preços e dos juros e a queda no poder de compra, eles estão planejando muito antes de comprar. “O consumidor está fazendo contas, calculando o impacto do que pretende comprar no salário, priorizando necessidades básicas, enfim, está pensando mais antes de gastar”, explicou o economista da FCDL-MG, Vinícius Carlos da Silva.
Mesmo em uma data estimulante como o Dia das Mães, a segunda melhor no calendário do comércio, os lojistas têm que se adaptar a este novo modo, mais cauteloso, de consumir. “Ele não pode confiar apenas no apelo emocional. Se quiser manter seus negócios, o comerciante tem que agir muito para chamar a atenção do cliente. Cabe a ele, então, criar estratégias e promoções com preços atrativos, para girar seu estoque e movimentar seu caixa”, aconselhou o economista.
De acordo com a pesquisa, 72% dos consumidores estão dispostos a desembolsar cerca de R$ 213 em presentes, o que deve girar um montante de R$ 2,7 bilhões na economia do Estado. Os produtos mais procurados são os de vestuário, calçados, cosméticos e perfumaria.
Segundo Silva, mesmo com o avanço da vacina, a economia ainda não se recuperou como deveria da pandemia. “Apesar da disposição do consumidor em consumir, a crise econômica que se instalou em meio à crise sanitária impactou diretamente em todas as variáveis macroeconômicas, o que gerou um processo inflacionário e de desemprego”, observou.
Para 94,9% dos consumidores mineiros, a alta dos preços afetou muito as finanças. Poucos foram os que não sentiram a carestia: 3,4% constaram uma redução e 1,7% disseram que os itens que estão acostumados a comprar permaneceram com o mesmo preço de 2021.
Situação da família
O levantamento mostrou ainda que, para 47,5% dos entrevistados, a situação financeira da família em 2022 é igual à de 2021. Para 33,9%, a situação está pior que a de 2021 e, somente para 18,6%, ela está melhor. “Isso demonstra que o consumidor está se planejando para acompanhar o aumento dos preços. É uma restrição orçamentária que o obriga a pensar antes de gastar”, apontou o economista da FCDL-MG.
“Nesse contexto, o consumidor deixa de ser fiel a marcas e procura o produto mais barato. Para o lojista, é hora de comprar melhor, utilizando fornecedores diferentes, para aproveitar essa janela de experimentação por parte do consumidor”, finalizou.
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