Intenção de lançamentos da indústria mineira recua 28,1% em agosto

Em um período de menor confiança do empresariado, a intenção de lançamentos de produtos da indústria em Minas Gerais recuou 28,1% em agosto frente ao mês anterior. Os dados, apurados pela Associação Brasileira de Automação GS1 Brasil, contrastam com o avanço nacional de 17,3% no período e refletem a persistência do cenário de cautela por parte das empresas mineiras diante de incertezas econômicas.
O resultado do último mês no Estado, livre de efeitos sazonais, figura entre os mais negativos dentre as unidades federativas brasileiras, atrás apenas do Rio de Janeiro (-28,9%) e Santa Catarina (-30,8%). Por outro lado, Bahia (80,9%) e Espírito Santo (76,3%) apresentaram os melhores indicadores, contribuindo para o avanço médio geral.
De acordo com a CEO da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, Virginia Vaamonde, o indicador sinaliza uma recuperação na intenção de lançamento de produtos no País. Após um segundo trimestre mais comedido, os números são encarados como uma possível retomada da indústria no que tange à inovação. “Esse movimento pode refletir uma reorganização estratégica das empresas após um período de menor atividade e uma preparação para o ciclo de vendas mais intenso do final do ano”, destaca.
No acumulado dos últimos 12 meses, Minas Gerais apresenta estabilidade (0%), enquanto na comparação com agosto do ano passado, o crescimento é de 20,6% na intenção de lançamentos de produtos. Já a nível nacional, em relação a agosto de 2024, houve queda de 11,0%, o que sinaliza menor atividade em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Dentre os setores de mercado, a indústria de alimentos (-19,5%) se destacou de forma negativa, impedindo maiores avanços em agosto, enquanto o segmento de bebidas (0%) sinalizou neutralidade na comparação com o mês anterior. Já os setores de vestuário (6,8%), têxtil (16,7%) e produtos diversos (52,4%) apresentaram maior intenção de lançamento de produtos no período.
Juros elevados e queda na demanda impactam decisões de investimentos
O indicador negativo para a indústria em Minas Gerais é pautado por fatores conjunturais, como a atividade econômica. Para o economista Guilherme Almeida, a economia no País segue em um processo de desaceleração, pautada, principalmente, pela elevada taxa de juros, que ainda reflete impactos de medidas praticadas em meados do ano passado.
“O juro alto implica em um custo de capital elevado, e o principal fator que impacta a decisão de investimento hoje é justamente o custo do dinheiro”, explica.
Como consequência, a persistência em altos patamares impacta no financiamento para desenvolvimento, produção ou marketing de novos produtos, que se tornam mais caros e arriscados. “A Selic é a base para a prática das demais taxas junto ao mercado. Financiar o desenvolvimento de uma linha de produtos, por exemplo, requer pagar mais por isso, porque o custo de capital está mais alto”, acrescenta.
Outro fator que pode restringir novos lançamentos estaria atrelado ao alto custo de investimento inicial, que muitas vezes requer margens mais apertadas. Esses movimentos tendem a reduzir o apetite ao risco dos empresários, postergando novos aportes.
Ao mesmo tempo, a expectativa de demanda também permanece baixa, reforçando a cautela dos empresários. Segundo Almeida, indicadores como o de confiança do consumidor se mantém em queda, indicando uma redução na expectativa de demanda da população para os próximos meses.
“Se você tem uma queda na confiança das famílias, isso implica que eles vão adiar o consumo, principalmente de bens duráveis e semiduráveis. A tendência é que as famílias se planejem melhor porque estão incertos quanto a atividade econômica, quanto ao emprego e quanto à condição da sua renda no futuro”, pontua.
Apesar disso, segmentos como o agronegócio, que possuem importante relevância para a indústria em Minas Gerais, podem contribuir para maiores quedas, o que justificaria o aumento para agosto na comparação com o ano passado. “2025 tem sido um ano muito mais pujante em termos de produção do que foi em 2024 e Minas Gerais tem um peso muito grande da atividade do agro para nossa economia”, ressalta.
Ouça a rádio de Minas