Novo ciclo de investimentos de R$ 3 bilhões da ArcelorMittal em Minas está em risco; entenda

A ArcelorMittal está avaliando um novo ciclo de investimentos para o Brasil no valor de R$ 10 bilhões, dos quais aproximadamente R$ 3 bilhões serão destinados a Minas Gerais. Os aportes, entretanto, dependem de uma tomada de decisão do governo federal em relação ao mecanismo de defesa comercial do setor siderúrgico brasileiro.
As informações são do novo CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam e vice-presidente da operação no País, Everton Negresiolo, em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio. De acordo com o executivo, o atual plano de investimentos está assegurado e as entregas, em andamento, entretanto, o próximo está ameaçado.
“Temos um ciclo de investimentos de R$ 25 bilhões, decidido em 2022, que não corre o risco de deixar de ser executado. A maioria dos projetos, inclusive, estão em fase de implementação ou sendo finalizados”, disse. Em Minas, por exemplo, a expansão da usina de Sabará já foi inaugurada, a nova planta da Mina de Serra Azul entrará em operação no segundo semestre e a usina fotovoltaica, em Paracatu, deve começar a funcionar até dezembro.
“Estamos discutindo um novo ciclo, com potencial de investir até R$ 10 bilhões no Brasil e R$ 3 bilhões em Minas Gerais. Esses investimentos podem estar em risco, dependendo daquilo que for definido do ponto de vista de defesa comercial do Brasil e de sua indústria”, afirmou.
CEO da ArcelorMittal avalia o atual sistema de cota-tarifa como ineficiente
No dia 31 deste mês, vence o sistema de cota-tarifa em vigor no País, uma tentativa de frear as importações de aço. Mesmo com a medida valendo desde 1º de junho do ano passado, o volume de aço importado continuou subindo. Dados do Instituto Aço Brasil indicam que as importações cresceram quase 30% no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. Acusada de comércio predatório, a China respondeu por 65% dos envios.
Negresiolo avalia que o mecanismo foi importante e mostrou a abertura do governo em buscar soluções à indústria; entretanto, não foi eficaz. A ineficiência, conforme ele, ocorreu por alguns fatores. O primeiro é ter aplicado um delta de 30% sobre a média de importações de 2020 a 2022, que já era alta em relação à média histórica. O segundo é sobretaxar em 25% apenas o excedente de 11 produtos siderúrgicos, dentro de um universo muito mais amplo de itens.
Para o CEO, se somam a esses pontos o modelo de negócio internacional, sobretudo da Ásia, de venda de material abaixo do custo de produção, gerando a “invasão” de aço, e o fato de a medida não barrar os produtos de “fuga”. Ele explica que, ao ter um produto incluído no atual sistema, os vendedores passaram a enviar um item semelhante, mas com algumas características químicas diferentes, não listadas na cota-tarifa.
Pleito por uma reconfiguração do modelo
O desejo da ArcelorMittal é que o governo federal promova uma reconfiguração do sistema de cota-tarifa. Segundo Negresiolo, o pleito da empresa é para que seja implementado o modelo de hard quota, no qual se define uma cota de importação por país e as vendas são suspensas se o teto for ultrapassado.
O grupo também gostaria de um sistema dinâmico, que contemple ferramentas capazes de possibilitar a inserção de novos produtos ao longo do tempo.
“O atual sistema vence no fim do mês e é premente a necessidade de um posicionamento e uma definição por parte do governo de como continua isso. Nossa expectativa, como setor é, no mínimo, a renovação da medida, apesar de sua ineficiência”, enfatizou.
ArcelorMittal não tem planos de reduzir operações até o momento
Algumas siderúrgicas deixaram claro que, além de suspenderem e cancelarem investimentos, poderão fechar usinas e demitir funcionários caso o governo federal não tome, de forma urgente, novas medidas para conter as importações. No caso da ArcelorMittal, a empresa não tem, até o momento, previsão de reduzir operações ou demitir colaboradores.
Segundo o CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam, o grupo tem unidades operando com uma taxa de utilização abaixo do ideal, mas ainda em um nível que não inviabiliza a operação. Ele ressalta que não está nos planos da siderúrgica reduzir a produção ou o quadro de pessoal. No entanto, isso também depende de uma decisão o governo.
“Isso passa diretamente pelo que será decidido em nível governamental sobre a renovação [da cota-tarifa] ou a intensificação das medidas de defesa comercial, porque, infelizmente, se não forem tomadas essas medidas, há o risco de termos uma taxa de utilização ainda mais baixa do que a atual, o que pode gerar consequências nesse sentido”, ponderou.
De acordo com Negresiolo, as unidades da ArcelorMittal em Minas Gerais estão operando dentro da normalidade. O executivo destaca que as plantas mineiras, especialmente as usinas de João Monlevade e Sabará, são responsáveis por fabricar produtos especiais, de alto valor agregado – itens que, do ponto de vista de importação, apresentam uma inércia.
Efeito secundário do “tarifaço” dos EUA pode agravar cenário no Brasil
Mesmo com o “tarifaço” do presidente Donald Trump, as exportações da ArcelorMittal para os Estados Unidos seguem acontecendo regularmente. Conforme Negresiolo, o país não é autossuficiente na produção de aço semiacabado – principal produto importado do Brasil. Além disso, a empresa exporta para os EUA fio máquina especial para a fabricação de pneus, item que a siderurgia norte-americana não tem capacidade técnica de produzir.
Por outro lado, o impacto secundário do “tarifaço”, que trata-se do desvio de comércio, é algo que preocupa o CEO. Ele ressalta que os países que, historicamente, vendem para os Estados Unidos e, agora, sofrem impactos da taxação, estão em busca de outros mercados para substituir os volumes que os norte-americanos importavam, e o mercado brasileiro tende a ser um dos escolhidos, agravando ainda mais o cenário das importações no Brasil.
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